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4.9.04

Recordando Anna Amalia 



Duquesa de Sachen-Weimar-Eisenach, Anna Amalia (1739-1807) era filha do Duque Karl I de Brunswick e sobrinha de Frederico o Grande. Casou aos 16 anos com o Duque Ernst August Konstantin de Sachen-Weimar. Este faleceu dois anos depois e Anna Amalia encarregou-se da regência até 1775, ano em que esta foi ocupada pelo seu filho mais velho. Amante das artes e das letras, que promoveu com incansável entusiasmo, a duquesa era também intérprete (de instrumentos de tecla) e compositora — não confundir com a sua tia Anna Amalia (1723-1787), Princesa da Prússia, irmã de Frederico O Grande, também ela instrumentista, compositora, mecenas e detentora de uma biblioteca musical valiosíssima com numerosos manuscritos autógrafos de J. S. Bach e obras de compositores como C. P. E. Bach, Graun, Handel, Telemann, Stölzel, Hassler ou Palestrina.
Aluna de Ernst Wilhelm Wolf, a mais destacada figura musical de Weimar nesse tempo (e mais tarde seu Kappelmeister), reunia assiduamente na corte intelectuais, poetas e músicos, amadores e profissionais, transformando-a num activo centro de discussão e prática musical. A biblioteca existia já desde 1691, mas foi sob a direccção de Anna Amalia que a partir de 1766 passou a ocupar o impressionante salão rococó, que se convertiria na sua imagem de marca.

Entre os membros desta "corte das musas", como lhe chamou Wilhelm Bode, encontravam-se Wieland, Herder e Goethe, em Weimer desde 1775. Uma das grandes paixões do escritor, Charlotte von Stein, casada e mãe de sete filhos, era dama de companhia de Anna Amalia e filha do mestre de cerimónias da corte, possuindo também aptidões musicais (na área do canto) e literárias. Em 1776 escreveu "Rimo", uma peça humorística sobre Goethe e as mulheres da corte, e em 1792 "Dido", tragédia em prosa com várias alusões à sua ruptura com Goethe.
Anna Amalia teve um papel importante na reunião da poesia do "Classicismo de Weimar" com a música da época ao promover a estreia em 1770 do mais famoso "singspiel" de J. A. Hiller, "Die Jagd", e da "Alceste", de Anton Schweitzer com libreto de Wieland (1773). Os nomes destes compositores não nos dizem hoje muito, mas foram duas importantes figuras no desenvolvimento inicial da ópera alemã. Anna Amalia continuou a promover a tradição do "singspiel" com interpretações das suas próprias composições sobre textos de Goethe, entre os quais o "singspiel" "Erwin und Elmire". Escreveu também canções, sonatas para tecla e música de câmara, algumas esteticamente próximas da Empfindsamkeit. As enciclopédias falam de competência técnica e de espontaneidade da invenção, mas nunca tivemos oportunidade de ouvir nenhuma das raras gravações das suas obras.
Em 1788, dois anos depois de Goethe ter partido para Itália, Anna Amalia segue os seus passos. Durante os dois anos da viagem, as suas cartas dão-nos vivos retratos de Veneza, Roma, Nápoles. Em Roma o escritor coloca-a em contacto com outra importante mulher na sua vida: a pintora Angelica Kauffmann, que tinha em comum com a duquesa uma imensa paixão pela música — dotada de uma bela voz, hesitou entre as duas artes durante anos. Kauffmann seria uma preciosa ajuda para a Duquesa na localização de livros, partituras, antiguidades, gravuras e pinturas que esta adquiriu para as suas já valiosas colecções em Weimar.
A partir de 1797, o próprio Goethe, que mantinha o cargo de director dos teatros da corte, se encarregou do desenvolvimento e gestão da Biblioteca tendo aumentado o seu fundo em centenas de obras, algumas delas irremediavelmente perdidas no incêndio de quinta-feira à noite.

Vasco Garrido


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