5.9.04
Duas perguntas a Attilio
Depois de ouvir a ópera de Antonio Sartorio, Giulio Cesare in Egitto no Festival de Música Antiga de Innsbruck, falei com Attilio Cremonesi o maestro que também fez o contínuo num dos dois cravos usados pelo agrupamento Cetra de Basileia. Conversámos algum tempo, não resisto aqui a contar as respostas que Attilio deu a duas das minhas questões.
A primeira teve a ver com a total ausência de cadências feitas pelos cantores, o que numa ópera de 1676 é algo estranho. E repare-se que Cremonesi inventou muito nas partes do contínuo e na instrumentação usada chegando a colocar no número 50 da ópera uma parte concertata a dois cravos! Por outro lado a ornamentação das árias da capo ou com ritornellos (refrões) sucessivos foi muito parca. Parece-me uma carência musicológica e mesmo musical que se afasta da lógica da ária da capo. Por outro lado deparei-me com muita exuberância na escrita instrumental (toda reconstruída pelo maestro) e muita secura vocal. A resposta foi dúbia, "não se sabe bem qual a ornamentação usada na época", "ainda estamos numa fase muito prematura para se poder pensar numa interpretação com cadências escritas por mim ou improvisadas pelos intérpretes", finalmente um definitivo: "nós fazemos música historicamente informada, não fazemos história da música"...
Depois, já em conversa mais informal, falámos da história de uma voz por parte em Bach, a resposta não poderia ser mais vaga: "eh, bem, enfim, há realmente teorias, o Parrot, hum, hum, o americano*, bem não sei bem, depende da obra enfim..."
* - O americano é o Rifkin
Cremonesi é um bom maestro, seguro, toca bem o cravo, é musical, a Cetra tocou afinadíssima com raríssimas excepções. Cremonesi foi muito exacto e a interpretação teve uma energia e um vigor extraordinários, mas faltou um pouco mais de erudição e autenticidade histórica na abordagem de uma ópera de 1676. Um gigante em crescimento, um místico, "a shooting star" como pretendem fazer crer alguns círculos, ou um jovem talentosos e dinâmico? Fico-me pela segunda parte. É claro que farei uma crítica detalhada à ópera de Sartorio quando tiver um pouco mais de tempo.
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