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22.9.04

Debaixo de água 

Quando se é professor há catorze anos numa casa como o Instituto Superior Técnico passam por nós centenas de alunos por ano. Milhares ao longo dos anos. Não me esqueço das minhas aulas de análise matemática IV numa sala do pavilhão central com cerca de setenta lugares sentados onde me apareceram, contei uma vez, cento e quatro alunos, ficavam em pé ao fundo da sala, outros sentados no chão nos corredores laterais. Eu tentava mandá-los para outras turmas, tentava desdobrar as aulas mas sempre sem sucesso. Hoje, felizmente, a situação no meu Instituto parece ter evoluído positivamente, julgo que nada disso acontece hoje. Podemos orgulhar-nos de ter uma casa bem organizada em que a dedicação é a palavra chave e em que os recursos humanos, muitas vezes sobrecarregados, são utilizados de forma racional na investigação e no ensino. Conseguimos acordar com os alunos a propina máxima, numa negocição em que foi usada a inteligência e todos sairam a ganhar. Todo o dinheiro obtido com essa propina foi exclusivamente utilizado com a melhoria da situação dos próprios alunos o que se constata com as salas de estudo, por exemplo. A utilização dos dinheiros suplementares é atribuída com a participação dos alunos nos mecanismos de decisão. Por consequência não existe contestação às propinas no Técnico. Isto se esquecermos os grupos da esquerda folclórica, cuja influência é mínima na comunidade dos 10000 alunos da casa. Basta ver que no ano passado a reunião do conselho directivo onde se discutia a propina foi invadida por menos de cinquenta estudantes. O presidente do IST, o professor Matos Ferreira, acabou a conversar com os alunos de forma calma e pacífica e agitação ficou por aí. Claro que os dois ou três estudantes mais activos do bloco de esquerda chamaram as televisões que deram a notícia como se de uma revolução se tratasse.
Divago, não queria escrever sobre isto tudo. O que se passa é que encontro antigos alunos em toda a parte, uns são donos de empresas, outros vão a concertos, outros encontro-os no LUX, outros na praia, encontrei um antigo aluno a atender no Continente, queria desistir do curso e tinha começado a trabalhar. Estive a conversar com o rapaz muito tempo, felizmente voltei a vê-lo no Técnico uns meses depois e contou-me que tinha regressado ao curso e estava a correr tudo melhor. Aqui há uns tempos, nos anos de uma amiga num restaurante chinês, tudo estaria bem, se não tivesse cedido à tentação degradante, produzida por alguns eflúvios intoxicantes, de cantar o "Love me tender", ou uma coisa assim do Elvis, no karaoke do restaurante a pedido da aniversariante e do grupo animado em que eu me encontrava. Sou surpreendido no final da interpretação, que me dispenso de autocriticar, com uma sonora ovação e imensas palmas da única mesa que ainda resistia além da nossa. A ovação constava de sonoros "ÁLGEBRA" entrecortados com "ANÁLISE", as cadeiras que eu tinha leccionado aos rapazes e raparigas da tal mesa que eu tinha inadvertidamente deixado de observar criteriosamente antes de me meter em figuras tristes. Acabou tudo numa enorme gargalhada.
Comecei ontem um curso de mergulho, tinhamos de dizer o nome, a idade, a profissão e outros dados para nos ficarmos a conhecer no início. Começa uma jovem por dizer que era engenheira civil, eu lá digo que sou professor no Técnico e imediatamente a rapariga que tinha falado antes disse: eu bem que o estava a conhecer, fui sua aluna! Outros rapazes que não tinham falado ainda: "e eu também fui seu aluno", "eu também sou do Técnico", etc, etc, etc. Enfim, há uns dez antigos alunos do Técnico no grupo. Mas isso tem vantagens, no fim da aula disseram-me que eu podia copiar no exame final! Não sei se aproveite...

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