<$BlogRSDUrl$>

15.8.04

Uma voz por parte II 

O uso e origem da palavra Cantata

A palavra cantata é de origem italiana, algo para ser cantado. A palavra surge em 1620, no obra de Alexandro Grandi. Já desde 1600 várias trechos com melodias diferentes, cantadas a solo mas com o mesmo baixo, eram reunidas neste tipo de obra que ainda não tinha nome estabelecido.
As cantatas poderiam ser de igreja ou profanas, obras poéticas, mini óperas que não se representavam, ou que não se encenavam e teriam uma representação sumária. Obras simples, menos complexas e mais curtas que a oratória e a ópera mas com a mesma raiz monódica. Canto solo acompanhado.

Rapidamente a essência contrastante da acção versus emoção ou recitativo ária é transposta da ópera (Cavalli) e da oratória (Carissimi) para as cantatas destes autores. Muitos outros autores de cantatas brilharam como exemplo Marazzoli, activo em Roma de 1626 a 1662, deixava os seus auditores maravilhados, incluindo o Papa, com algumas das suas 380 cantatas. A geração de Alexandro Sacarlatti (pai de Domenico) vai usar a cantata de forma imparável que se torna definitivamente uma sucessão de recitativos e árias. Alexandro escreveu mais de seiscentas cantatas de Igreja e profanas das quais sobram hoje cerca de 350. É com os compositores do tempo de Sacarlatti que a ária "da capo", literalmente "volta à cabeça", se estabelece na cantata vinda da ópera barroca na qual Sacarlatti também foi mestre. Este tipo de ária tem uma estrutura A-B-A, digamos que terá um trecho musical na tónica A, depois uma secção contrastante B, mudando (ou não) de tonalidade, volta-se a cantar a parte A do início (volta à cabeça), desta feita com outro tipo de ornamentação, em geral mais elaborada.

Os franceses usaram também estilos parecidos, motetes e elevations no século XVII, du Mont, Charpentier, na música religiosa. As próprias leçons de ténèbres podem ser encaradas como uma espécie de cantata em tom sombrio e místico.
A cantata profana francesa data de 1700, era uma espécie de ópera em miniatura para os apreciadores de música poderem executar em casa, isto desde que tivessem um cravo em casa e meios para tocar ou pagar a alguns executantes.

Os efectivos necessários para a execução de qualquer uma destas obras eram em geral diminutos, algumas cordas, cravo no domínio profano, orgão na igreja e um ou dois cantores por obra, sempre a solo ou em duo. De vez em quando um instrumento a solo se por acaso existia disponível um flautista ou um oboista, o baixo contínuo podia ser enriquecido com alaúde ou fagote que tocariam pelas mesmas partes do violoncelo ou mesmo do cravo. Na música religiosa francesa os motetes de Lully ou Delalande exigiam maior instrumentação uma vez que Luís XIV tinha imponentes recursos à sua disposição.

Na Alemanha a cantata de igreja nunca teve esse nome até ao século XIX onde as muitas obras sacras foram designadas por cantatas retrospectivamente. Peça para igreja, sinfonia sacra, salmo, motetto, concerto espiritual eram nomes para obras do tipo cantata de igreja. O próprio Bach nunca chamou cantata a qualquer das suas obras de igreja! Punha apenas o nome do domingo ou da festividade no cabeçalho da partitura ou das partes, chamou outros nomes que não cantata a obras desse tipo como Actus Tragicus ou Oratória da Páscoa. Existiram dois tipos de cantata na Alemanha, as obras de Schütz, Schein, Scheidt, Buxtheude e muitos outros pertencem ao estilo de obra religiosa nativa da Alemanha (não é bem assim como veremos com Schütz) com contraponto, diálogos, ausência de recitativo seco, ou presença de recitativo contínuo com breves sinfonias ou intervenções do coro. As cantatas após 1700 pertencem a um novo estilo mais parecido com a cantata italiana em que a voz solo tem maior preponderância. A data de 1700 é importante, corresponde ao início da publicação da obra de Neumeister, poeta e teólogo, que escreveu sete ciclos de textos para cantatas. Cada ciclo composto de todos os domingos e festividades do ano litúrgico. Estes textos estavam preparados para utilização do recitativo ária. Todos os novos compositores alemães nascidos depois de 1680, Telemann à cabeça com mais de 1400 cantatas, começaram a adoptar os textos de Neumeister e nasceu uma obra muito parecida com a cantata italiana de igreja.


Arquivos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?