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7.8.04

Os disparates e a ciência 

Fernando Pessoa ilustre poeta e génio das letras nunca foi cientista, opinativo, a sua imagem mental do mundo era uma visão poética e não prática.
Reduzir tudo à opinião na economia ou nas outras ciências sociais é uma opinião, como tal mal fundamentada e não científica.

Assim faz um tal Rui A, que se julga muito feliz por ter desenterrado umas imbecilidades pessoanas e as posta no blogue como se tratassem dos recém descobertos manuscritos do mar morto.

Por pensarem que as ciências sociais, e sobretudo as económicas, são apenas questão de opinião é que os adeptos do liberalismo económico emitem tantas barbaridades.
O humanismo, já o disse e volto a dizê-lo, defende que acima dos valores económicos e do interesse pessoal egoísta e selvático (lei da selva = competitividade desregrada), está o homem e a capacidade de dar, o altruísmo é um dos valores máximos do humanismo. A dignidade humana acima de tudo. Antes de pensar vender ou comprar, antes de pensar em como é bom haver pobres e desempregados para manter salários baixos, eu penso no homem/mulher que está desempregado/a e na sua família.

Penso também que existe Estado em excesso, que a iniciativa privada deve assumir posições em companhias aérias, na energia, nas telecomunicações e em múltiplos sectores onde o Estado é ineficaz. Penso que o Estado deve abandonar a comunicação social. Mas também penso que os impostos são essenciais, que a segurança pública deve continuar sob a tutela do Estado, que a saúde deve continuar a ser paga com os impostos de todos os cidadãos e não apenas dos que estão doentes. Que a educação deve ser paga com os impostos de todos, pois só com a educação se podem dar oportunidades aos que nasceram sem capacidade de competir na selva liberal. A defesa e os negócios estrangeiros devem ser privilégio do Estado. Finalmente a segurança social, que os mais velhos e incapazes, que não conseguiram acumular riqueza durante a vida depois de contribuirem com o seu trabalho para a prosperidade da selva liberal, tenham dignidade na velhice e não morram à fome, porque existem egoístas que acham que gastam melhor o seu dinheiro, obtido à custa do consumo e trabalho dessas mesmas pessoas indefesas perante a selva liberal, numas almoçaradas ou numas festas de ostentação e desperdício, ou no que quiserem, em vez de pagarem impostos para ajudarem os menos dotados economicamente.

Prova-se que o Estado e a sua intervenção são elementos preciosos no desenvolvimento ou na recuperação de crises. Basta pensar na saída da depressão americana, basta pensar no pós-guerra europeu ou em países como a Dinamarca, a Noruega, a Finlândia, destruídas pela guerra e que têm hoje em dia dos melhores níveis de desenvolvimento humano do mundo.

Por outro lado negar ao Estado o seu papel regulador é negar o princípio básico da democracia. A decisão não está apenas no poder do investimento e no capital mas também nas pessoas que votam e exigem regulação da actividade económica e do sistema social. Negar o papel do Estado é negar a democracia, coisa que os liberais fazem implicitamente.

Finalmente o papel do Estado na defesa do ambiente é essencial, como emanação democrática dos cidadãos, zelar pela segurança e pelo bem estar é dever essencial do Estado. Sabe-se que o interesse puro do lucro, e da especulação, não se compadece com quaisquer juízos ambientais. A regulação e fiscalização por parte do Estado serão essenciais num futuro imediato. Prova-se ainda que o Estado em Portugal é bem liberal na forma como deixa à solta os liberais interesses de especuladores imobiliários que têm destruído um país que teria tanto para ser dos mais belos e com melhores condições ambientais para viver e que não passa de um amontoado de cinzas e de barracas (algumas com muitos andares) em cima da linha da costa.

O Liberalismo continua a ser uma teoria de gente emergente, sem substrato cultural profundo. De jovens burgueses que não se apercebem que o desenvolvimento de todos gera bem estar para todos. Gente sem cultura humanista e de riqueza recente, gente mesquinha e egoísta, sem pé na realidade. Arrivistas e chicos espertos, no fundo apenas mais uns taxistas, apesar das gravatas, não querem pagar impostos. Nem se apercebem que uma selva liberal gera conflitos sociais insanáveis. Os adeptos das teorias liberais são absolutamente primários. Isso é irritante. O liberalismo não é de esquerda nem de direita, pertence ao reino da estupidez, uma espécie de anarquia do dinheiro. Bendito banqueiro anarquista de Fernando Pessoa...

Outro assunto

Este rapaz diz, de novo, mais alguns liberais disparates: Défices superioes a 0% trazem aumento de impostos! Só esses défices são sustentáveis!
Qualquer economista do mundo percebe que o que Jaquinzinhos diz é totalmente falso. Se o défice for 0%, significa que os impostos são demasiado elevados no ano em causa, ou seja já subiram anteriormente, quer dizer que o Estado gastou tanto como o que arrecadou.
Um défice baixo, da ordem dos 1.5% significa que o Estado gastou mais do que recebeu. Esse diferencial, se for gasto em investimento, estimula a economia. Se a economia crescer no ano subsequente os impostos arrecadados, sem elevação de taxas, são suficientes para cobrir o défice do ano anterior e despesas de serviço. O défice serve para realimentar o sistema económico, onde se destacam os agentes económicos em livre iniciativa que beneficiaram de um ano com impostos mais baixos e de mais investimento estatal para fornecerem os seus serviços. Um défice moderado proporciona aos consumidores mais dinheiro para gastar, o que estimula o consumo e o crescimento... O problema é quando os agentes são ineficazes e não aproveitam os frutos do défice para crescer e investir acabando o défice por ser gasto nas importações, mas nesse caso é apenas a economia aberta a funcionar o que deveria deixar feliz o autor de Jaquinzinhos.
Enormidades como a de Jaquinzinhos são habituais em liberais que lançam com facilidade ideias feitas sem pensarem nos assuntos. Segundo creio o autor de Jaquinzinhos até será da área de gestão ou parecida, de onde se prova que existe muita gente a fazer cursos superiores sem ter adquirido a devida formação, recomendo uma reciclagem em economia do desenvolvimento e em finanças públicas.

Agora vou velejar um pouco que o vento está bom.


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