6.8.04
O concerto da Sinfónica
23 Julho 21.30 h. Centro de Congressos do Estoril / Sala de Exposições
ORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA
David Alan Miller, David Alan Miller, maestro
Véronique Gens, soprano
Dimitris Marinos, bandolim grego
Round Time , Luis Tinoco
Shéhérazade, Ravel
Cinq Mélodies Populaires Grecques , Ravel
Oniro Fantasie for mandolin, Kostis Kritsotakis
Don Juan, Strauss
Notou-se no concerto da Sinfónica Portuguesa uma descontracção, ambiente de Festival, calma. Isso foi muito agradável de sentir. Notou-se que estávamos em presença de uma orquestra e não de um grupo de músicos desgarrados.
Em todo o concerto desde Tinoco ao Strauss a orquestra mostrou-se coesa, com os naipes de madeiras em grande destaque. Flauta, oboé (aliás muito elogiado ultimamente e justamente), clarinete destacaram-se pela elegância pela subtileza e pela qualidade do som.
No D. João de Strauss os metais foram também muito convincentes, ao contrário do último concerto em que ouvi a obra (com a orquestra Gulbenkian) as trompas resolveram de forma calma e expressiva as dificuldades da partitura.
O maestro foi apenas mais um, bate bem compassos, é exuberante mas em Ravel, onde é necessário um cuidado enorme, uma dedicação à produção do som, à filigrana das subtilezas sonoras, o maestro mostrou total incapacidade para a música francesa do início do século vinte e para obras mais complexas.
Véronique Gens, que admiro profundamente, foi um caso estranho, a soprano tem uma enorme elegância e um fraseado muito correcto. Pensei que se tratava de uma incursão da cantora, habituada à música antiga, num repertório francês difícil mas perfeitamente ao alcance do seu instrumento vocal. Pensei que a inteligência da cantora poderia abarcar de forma subtil e inovadora, até pelo percurso anterior da cantora, a música genial de Maurice Ravel no que parecia uma experiência putativamente interessante. Não foi assim, Gens esteve desenxabida e apagada, leu o papel sem interpretar e nunca teve a chama que esta música poderia transmitir. Gens nunca conseguiu uma vocalidade quente e diria mesmo erótica que Ravel pede. Limitou-se a ser elegante e ponto.
A sala de exposições do centro de congressos do Estoril mostrou poucas qualidades, demasiado ruído de ventilação, mais parecia um enorme armazém, numa sala assim não se pode apreciar música a sério. Os envidraçados enormes reflectiam o som de forma estranha e parecia estarmos todos dentro de uma panela.
O minuto de silèncio por Carlos Paredes foi louvável, mas o esquecimento de Carlos Kleiber, que muito tem a dizer a uma orquestra sinfónica, foi condenável.
Peter Devries, o concertino, continua a tocar fortíssimo e a antecipar as entradas em vez de tocar o que está escrito na partitura, pizzicatos, notas em pianíssimo, lá está o irritante e vaidoso concertino a sobressair, como se isso pudesse fazer com que os restantes violinos o seguissem e o respeitassem quando ele próprio não respeita o que vem escrito pelo compositor. Mas teve dois lados positivos: entrou na sala com a orquestra em vez de entrar atrasado para receber algumas palmas de circunstância (ou alguns apupos) e no solo do D. João de Richard Strauss foi razoável.
Um concerto agradável em final de estação com uma Sinfónica madura a tocar independentemente do maestro, espera-se que com Peskó, o titular, continue a tocar bem independentemente do maestro andar perdido e a dar entradas em falso. Afinal quando o maestro é uma anedota todas as orquestras boas do mundo tocam sem ligar a menor importância ao incompetente que vai passando no estrado.
P.S. Sauda-se de forma entusiástica a nomeação em diário da república do novo maestro de coro, que irá tentar salvar um coro destruído por anos e anos de João Paulo Santos.
Parece também que a nova temporada do S. Carlos será excelente, esperamos ansiosamente a divulgação pública, e como sempre muito atrasada relativamente a toda a Europa, da nova temporada que deveria começar em Outubro na pior das hipóteses.
ORQUESTRA SINFÓNICA PORTUGUESA
David Alan Miller, David Alan Miller, maestro
Véronique Gens, soprano
Dimitris Marinos, bandolim grego
Round Time , Luis Tinoco
Shéhérazade, Ravel
Cinq Mélodies Populaires Grecques , Ravel
Oniro Fantasie for mandolin, Kostis Kritsotakis
Don Juan, Strauss
Notou-se no concerto da Sinfónica Portuguesa uma descontracção, ambiente de Festival, calma. Isso foi muito agradável de sentir. Notou-se que estávamos em presença de uma orquestra e não de um grupo de músicos desgarrados.
Em todo o concerto desde Tinoco ao Strauss a orquestra mostrou-se coesa, com os naipes de madeiras em grande destaque. Flauta, oboé (aliás muito elogiado ultimamente e justamente), clarinete destacaram-se pela elegância pela subtileza e pela qualidade do som.
No D. João de Strauss os metais foram também muito convincentes, ao contrário do último concerto em que ouvi a obra (com a orquestra Gulbenkian) as trompas resolveram de forma calma e expressiva as dificuldades da partitura.
O maestro foi apenas mais um, bate bem compassos, é exuberante mas em Ravel, onde é necessário um cuidado enorme, uma dedicação à produção do som, à filigrana das subtilezas sonoras, o maestro mostrou total incapacidade para a música francesa do início do século vinte e para obras mais complexas.
Véronique Gens, que admiro profundamente, foi um caso estranho, a soprano tem uma enorme elegância e um fraseado muito correcto. Pensei que se tratava de uma incursão da cantora, habituada à música antiga, num repertório francês difícil mas perfeitamente ao alcance do seu instrumento vocal. Pensei que a inteligência da cantora poderia abarcar de forma subtil e inovadora, até pelo percurso anterior da cantora, a música genial de Maurice Ravel no que parecia uma experiência putativamente interessante. Não foi assim, Gens esteve desenxabida e apagada, leu o papel sem interpretar e nunca teve a chama que esta música poderia transmitir. Gens nunca conseguiu uma vocalidade quente e diria mesmo erótica que Ravel pede. Limitou-se a ser elegante e ponto.
A sala de exposições do centro de congressos do Estoril mostrou poucas qualidades, demasiado ruído de ventilação, mais parecia um enorme armazém, numa sala assim não se pode apreciar música a sério. Os envidraçados enormes reflectiam o som de forma estranha e parecia estarmos todos dentro de uma panela.
O minuto de silèncio por Carlos Paredes foi louvável, mas o esquecimento de Carlos Kleiber, que muito tem a dizer a uma orquestra sinfónica, foi condenável.
Peter Devries, o concertino, continua a tocar fortíssimo e a antecipar as entradas em vez de tocar o que está escrito na partitura, pizzicatos, notas em pianíssimo, lá está o irritante e vaidoso concertino a sobressair, como se isso pudesse fazer com que os restantes violinos o seguissem e o respeitassem quando ele próprio não respeita o que vem escrito pelo compositor. Mas teve dois lados positivos: entrou na sala com a orquestra em vez de entrar atrasado para receber algumas palmas de circunstância (ou alguns apupos) e no solo do D. João de Richard Strauss foi razoável.
Um concerto agradável em final de estação com uma Sinfónica madura a tocar independentemente do maestro, espera-se que com Peskó, o titular, continue a tocar bem independentemente do maestro andar perdido e a dar entradas em falso. Afinal quando o maestro é uma anedota todas as orquestras boas do mundo tocam sem ligar a menor importância ao incompetente que vai passando no estrado.
P.S. Sauda-se de forma entusiástica a nomeação em diário da república do novo maestro de coro, que irá tentar salvar um coro destruído por anos e anos de João Paulo Santos.
Parece também que a nova temporada do S. Carlos será excelente, esperamos ansiosamente a divulgação pública, e como sempre muito atrasada relativamente a toda a Europa, da nova temporada que deveria começar em Outubro na pior das hipóteses.
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