26.7.04
Barrilaro Ruas, a procura do exemplo
“ É diante da morte que a vida se revela. Revela-se no seu sentido pessoal e no seu sentido colectivo. Mesmo para aqueles que não creiam na transcendência do destino humano, a morte dá notícia da seriedade da vida. Pára a brincadeira; interrompe-se o jogo. Gelam os lábios e os gracejos. As gargalhadas morrem no silêncio. E, então, no fundo das almas, começa a construção do Homem”.
A Hemeroteca finalizou no sábado passado o ciclo de conferências dedicado a Henrique Barrilaro Ruas, a última das quais dedicada ao seu pensamento político.
No belíssimo salão-mor, juntou-se a família, os amigos de vida que restam (Pery Vidal deu testemunho da verticalidade do amigo que nunca deixou de lhe telefonar para o Brasil com regularidade) e uma excursão de jovens de t-shirt negra que desconfio vão ali enganados procurar um ideólogo para partidos reaccionários e pouco democráticos.
Gonçalo Ribeiro Telles evocou o caldo político da sua geração: reviralho, comunismo, Rolão Preto, Paiva Couceiro, António Sardinha, no qual germinaram as intenções políticas desse, então, estudante de Coimbra.
Explicou a sua herança de integralismo lusitano, que mesclou com preocupações ecológicas, sindicalistas e de regionalismo. Falou do seu bom-senso, equilíbrio, elegância, com o qual ouvia os outros e conciliava diferenças.
Embora monárquico, não desistiu da política por viver em regime republicano e tentou integrar no mesmo as mais-valias das suas ideias monárquicas. Defendia que Chefe-de-Estado não devia ser anulado pelo Parlamento mas devia estar investido de poderes efectivos e assim pugnava por um regime mais presidencialista que parlamentarista.
Paulo Teixeira Pinto falou do homem, da importância do exemplo, do que se é, dos comportamentos, do vazio de todos os discursos e das formas quando não habitadas pelo ser. Da atitude política como reflexo da atitude de uma vida, da política como a mais importante das coisas menos importantes. De como a vida mais tarde ou mais cedo reflecte os comportamentos. Do maquiavelismo político que se vive hoje e da falta de homens como este.
Alexandre Franco de Sá, complementou esta intervenção falando de um conceito de “propedêutica da salvação” que Barrilaro Ruas prescrevia. Abriu portas para um horizonte do transcendente de onde provinha toda a legitimação ética e política e para uma visão política que era o oposto do maquiavelismo.
Falou do personalismo, do homem de carne e osso, presente numa teia de relações, numa comunidade de relações de proximidade; da identidade, casa, oikos que só pode brotar das relações afectivas e familiares que o homem tece. A isso chamou Barrilaro Ruas o económico. Numa reacção contra a tentativa liberal de pensar o homem de modo abstracto, que esquece o económico ( neste sentido, de relações inter-pessoais) atribuindo ao homem uma liberdade sem vínculos nem laços imediatos. Mas personalimo oposto também ao totalitarismo que reduz o homem a um todo que o ultrapassa: seja um povo, uma nação, um partido, um Estado.
Barrilaro Ruas visionou a política da modernidade. Um mero instrumento técnico de obtenção e de conservação do poder fáctico: “ A crise da Política vem de Maquiavel: não apenas distinta, mas separada da Religião, deixou de ser “ arte régia” para se reduzir a mera técnica. A partir daí, todas as desgraças lhe podiam acontecer- desde a insuportável arrogância, até à definitiva humilhação”.
A política, disse-o, tornou-se pura ideologia, ideia da ideia.
E por mais que se discorde desta intercomunicação proposta pelo integralismo lusitano entre o económico, o político e o religioso, o certo é que ela apresenta a nação como um prolongamento de um comunidade e compromete o poder : “ El rei é um cativo: prisioneiro de Deus e da História”
Clara
A Hemeroteca finalizou no sábado passado o ciclo de conferências dedicado a Henrique Barrilaro Ruas, a última das quais dedicada ao seu pensamento político.
No belíssimo salão-mor, juntou-se a família, os amigos de vida que restam (Pery Vidal deu testemunho da verticalidade do amigo que nunca deixou de lhe telefonar para o Brasil com regularidade) e uma excursão de jovens de t-shirt negra que desconfio vão ali enganados procurar um ideólogo para partidos reaccionários e pouco democráticos.
Gonçalo Ribeiro Telles evocou o caldo político da sua geração: reviralho, comunismo, Rolão Preto, Paiva Couceiro, António Sardinha, no qual germinaram as intenções políticas desse, então, estudante de Coimbra.
Explicou a sua herança de integralismo lusitano, que mesclou com preocupações ecológicas, sindicalistas e de regionalismo. Falou do seu bom-senso, equilíbrio, elegância, com o qual ouvia os outros e conciliava diferenças.
Embora monárquico, não desistiu da política por viver em regime republicano e tentou integrar no mesmo as mais-valias das suas ideias monárquicas. Defendia que Chefe-de-Estado não devia ser anulado pelo Parlamento mas devia estar investido de poderes efectivos e assim pugnava por um regime mais presidencialista que parlamentarista.
Paulo Teixeira Pinto falou do homem, da importância do exemplo, do que se é, dos comportamentos, do vazio de todos os discursos e das formas quando não habitadas pelo ser. Da atitude política como reflexo da atitude de uma vida, da política como a mais importante das coisas menos importantes. De como a vida mais tarde ou mais cedo reflecte os comportamentos. Do maquiavelismo político que se vive hoje e da falta de homens como este.
Alexandre Franco de Sá, complementou esta intervenção falando de um conceito de “propedêutica da salvação” que Barrilaro Ruas prescrevia. Abriu portas para um horizonte do transcendente de onde provinha toda a legitimação ética e política e para uma visão política que era o oposto do maquiavelismo.
Falou do personalismo, do homem de carne e osso, presente numa teia de relações, numa comunidade de relações de proximidade; da identidade, casa, oikos que só pode brotar das relações afectivas e familiares que o homem tece. A isso chamou Barrilaro Ruas o económico. Numa reacção contra a tentativa liberal de pensar o homem de modo abstracto, que esquece o económico ( neste sentido, de relações inter-pessoais) atribuindo ao homem uma liberdade sem vínculos nem laços imediatos. Mas personalimo oposto também ao totalitarismo que reduz o homem a um todo que o ultrapassa: seja um povo, uma nação, um partido, um Estado.
Barrilaro Ruas visionou a política da modernidade. Um mero instrumento técnico de obtenção e de conservação do poder fáctico: “ A crise da Política vem de Maquiavel: não apenas distinta, mas separada da Religião, deixou de ser “ arte régia” para se reduzir a mera técnica. A partir daí, todas as desgraças lhe podiam acontecer- desde a insuportável arrogância, até à definitiva humilhação”.
A política, disse-o, tornou-se pura ideologia, ideia da ideia.
E por mais que se discorde desta intercomunicação proposta pelo integralismo lusitano entre o económico, o político e o religioso, o certo é que ela apresenta a nação como um prolongamento de um comunidade e compromete o poder : “ El rei é um cativo: prisioneiro de Deus e da História”
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