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28.7.04

A banha 



A minha sobrinha exige-me, à vez, que dance para ela ou que vá com ela ao banho. “Mais, piscina, tia, banha, xuxu”- são as palavras que decifro, repetidas até à satisfação dela e meu desespero. Assisto impotente à sucessão de estados de alegria esfuziante, birra e ganância, coisas que nós os crescidos nivelamos ou disfarçamos por não termos, em geral, quem nos satisfaça os caprichos. Nós, os crescidos, já não estreamos o mundo: uma ida “à banha” é mais uma ida “à banha”, mas o que nos esforçamos por voltar a estes momentos de alegria edénica, telúrica, juvenil. Alguém me diz que só os reencontra quando está no meio da natureza, frugalmente, num acampamento em volta de uma fogueira com amigos, sem saber o que fará no dia seguinte. Outrem, fala-me das suas idas à Índia, onde repousa e corta com as coacções sociais: parecer ser jovem, bem sucedido, rico, feliz, integrado social e familiarmente. Outro ainda diz que estas incursões à procura de um mundo pobre e mais espiritual são na verdade falsas porque quem as empreende sabe que terminam e que no final regressará a um mundo confortável, rico, limpo e organizado por muito esvaziado espiritualmente.
Ficámos sem saber se o mal dos nossos males, se o nosso exílio da praia da infância, está no mundo que nunca foi ou será perfeito ou apenas na idade adulta: esse “cancro da saudade”, para usar palavras de Paredes.
Mas fomos à banha e refrescámos.
Clara


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