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17.7.04

A anedota 

Santana Lopes e sus muchachos podia ser anedota. Sampaio e seu discurso, também. Nobre Guedes ministro do ambiente, porque usa Brise em casa, poderia ser outra...

Mas o que hoje me fez rir a bom rir foi Luciana Leiderfarb e a sua putativa crítica aos Gurrelieder de Schönberg no CCB.

Não estive presente, mas li o que o meu amigo Vasco Garrido, músico e homem muito benevolente, aqui escreveu. Ouvi outros músicos comentarem aquilo e sei do que Peskó (não) é capaz pelo que já vi em múltiplas ocasiões. Com Vasco Garrido discute-se Sokolov em termos filosóficos, não se discute a técnica! Se Vasco Garrido diz que tecnicamente a coisa foi fraca é porque foi mesmo. Desta rapariga, que escreve espesso no Expresso só lamentar tanta incapacidade de fundamentar o que parece ser o disparate. Segundo Vasco Garrido: Peskó esteve mal em termos interpretativos e técnicos. Acho impossível que alguém que escreve sobre música possa dizer que está esmagada por uma interpretação tão sublime, cheia de ideias miraculosas, e em que o maestro esteve sempre sobre o arame mas que nunca caiu! Isto sem nunca concretizar, sem fundamentar e depois de oitenta por cento do artigo com frases feitas, cheirando a enciclopédia e até imagino qual, sobre Arnold Scönberg. A coordenação da massa parece ter sido o forte de Peskó, segundo Luciana do espesso. Será ironia? Segundo Vasco Garrido: Peskó não só não teve a menor ideia musical de conjunto, como o conjunto andou descoordenado, como o maestro andou perdido e deu as célebres entradas em falso que o caracterizaram em qualquer aparição e são a sua imagem de marca de incompetente e acabado para a música, aliás parece nunca ter começado. Segundo V.G. o maestro não evidenciou o menor domínio da partitura, o que segundo Luciana foi o forte do "titular" do S. Carlos. Afinal em que é que ficamos? Espero um esclarecimento de Vasco Garrido!... Mas o que critico em especial é a incapacidade de fundamentação de quem que escreve no Expresso, eu não quero saber se quem escreve ficou ou não esmagada pela obra, pelo maestro, ou pelo ar condicionado! Eu, como leitor, quero saber porque motivos ficou esmagado o crítico. Foi a articulação, foi a compreensão do texto? Os sublinhados expressivos de certos momentos? As escolhas dos tempos? A paleta orquestral e o seu equilíbrio? A dicção dos coros? As vozes dos cantores? Os pontos culminantes da obra em termos musicais? Em termos dramáticos? Em termos interpretativos? Perguntas que ficam por responder, sabemos que quem escreveu ficou siderado e sabe umas banalidades para encher chouriços sobre o compositor e a obra. Crítica ao acto performativo? Zero. Falta relativização, falta contenção, faltam termos comparativos e distanciamento crítico. Muito barulho é realmente impressionante, mas será música? Um texto péssimo.

Depois de um rapaz, do qual nem me lembro o nome, ter ido à internet tirar umas coisas para escrever sobre Marc A. Charpentier sem citar Catherine Cessac. Depois do trio russo ter deixado Teresa Castanheira à beira de um ataque de histeria com um concerto horripilante. Depois da promoção descabida e pateta ao Domingos António, de quem ninguém fala agora. Depois das banalidades de Vanda se Sá sobre discos, em que nunca compromete uma opinião, tendo decaído muito nos últimos tempos em termos críticos e de escrita. Só faltava esta Luciana para completar o ramalhete.
Está mais do que provado que o Expresso em termos musicais depende exclusivamente da sabedoria e paixão de Jorge Calado, o resto é paisagem cinzenta e triste.

Finalmente acrescento que a partitura dos Gurrelieder é uma pastelice mastodôntica de primeira apanha. O jovem Schönberg queria afirmar algo e não sabia bem como, arranjou uma orquestra descomunal e um coro tirado dos livros do Gargantua, e nem foi original, Mahler tinha feito o mesmo antes. Scönberg criou massas sonoras gigantes e desequilibradas. Gurrelieder uma obra (obras?) com alguns pontos fortes no meio de uma xaropada imensa. Depois de perceber que aquele não era o caminho, Schönberg resolveu romper, passou os anos seguintes a compor de forma livre as melhores obras da sua vida, como a Noite Transfigurada em que recorre de forma superior ao sexteto de cordas, conjunto minimal após os excessos anteriores. No entanto escrever para sexteto de cordas sem ser redundante ou desequilibrado é mais difícil do que escrever para 500 músicos! Schönberg quase que conseguiu o equilíbrio, mas perdeu-o de novo quando abraçou o dodecafonismo. Alban Berg e Webern acabaram por escrever música que suplantou a do mestre. Schönberg, para mim, acabou por ser vítima da excessiva teorização que quis impor e esterilizou não só a sua música mas grande parte da música do século vinte. Mas isso são outras conversas que nos levariam muito longe.

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