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17.6.04

MERCÈ RODOREDA  

Um mês depois do falecimento de Mercè Rodoreda, Gabriel García Márquez escreveu: “la vida privada de Mercè Rodoreda es uno de los misterios mejor guardados de la muy misteriosa ciudad de Barcelona”.
Mercè Rododeda, durante o tempo do exílio, dos finais dos anos 30 aos anos 70, viveu em Genebra, Paris (onde assistiu à entrada dos nazis) Limoges e Bordéus, com o companheiro e seu mais exigente crítico Joan Prat, mais conhecido por Armand Obiols. Com ele viveu um amor secreto e condenado pelos companheiros do exílio (Obiols era casado e tinha uma filha) o que terá sido determinante na opção de ficarem na Europa, contrariando o exílio preferido rumo à América Latina.
Em Genebra viviam num pequeníssimo apartamento: apenas uma sala que servia de quarto, onde o sofá à noite se transformava em cama, uma cozinha e um casa-de-banho e, claro, a máquina de escrever. Entre esse apartamento e Paris terá escrito a sua maior obra “A Praça do Diamante” e outras novelas que a consagraram ainda em vida e que permitem reconhecê-la como o maior nome da literatura catalã contemporânea.
Deixou mistérios. Alguns desvendados pela imprensa, um casamento consanguíneo com um tio, do qual nasceu um filho esquizofrénico, e outros que levou com ela, pois cumpria a máxima de Sterne : “I honour you, Eliza, for keeping secret some things”.
Nunca escreveu para o público mas apenas para o seu segundo companheiro Obiols, seu mais exigente e inteligente crítico, para quem afirmava que escrevia enquanto o esperava das viagens de trabalho e das temporadas que passava em Viena junto da mulher e filha. “Todo el decurso del tiempo de una mujer es esperar. Y yo escribía esperando el regreso de Obiols…Entonces era cuando escribía más y mejor.”.
Depois da morte de Obiols, isolou-se em Romanya, numa casa a quinhentos metros de altitude, construída já com os proventos dos direitos de autor, um desafogo material de que nunca gozara. Ao longo da via apenas lhe interessou ler, sobretudo romances policiais- que a ajudaram a urdir o “plot”- ingleses e franceses, escrever, tratar das flores e do pequeno jardim que no fim da vida criou em Romanya. Passavam-se dias sem falar com ninguém. Vivia entre a imaginação e a espiritualidade. A secretividade acompanhava-a tanto quanto aos seus personagens, pois, como diz García Márquez, ela era uma cópia viva dos personagens. Depois da sua morte, soube-se que fez parte dos rosa-cruz locais. J.M Castellet que foi seu editor e amigo interrogou-se: “cheguei alguma vez a conhecer esta mulher”?

Clara



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