25.6.04
Concerto de altíssima qualidade no Coliseu
A Filarmónica de Munique apresentou-se sob direcção de Boreyko, aqui já falado. Terça feira última.
O programa começou pelo jovem Wagner: abertura de Rienzi. Wagner quase autodidacta, aprendendo com as óperas de Weber, amando Beethoven, aspirando ao infinito, de forma ainda académica, um jovem cuja ambição era o universo. Essa vontade de poder aparece de forma notável na abertura de Rienzi, uma sucessão de momentos fortes, ainda sem o domínio da paleta orquestral das suas últimas obras mas com um entusiasmo transbordante. Um entusiasmo que a Filarmónica de Munique transmitiu. No seu elemento estiveram os metais, as madeiras, as cordas e a percussão que deram uma força "bávara" ao mestre alemão. Vigor, poder, amor pela música, belo.
Se a orquestra foi notável em Wagner, pela força e pujança da sua sonoridade transbordante e equilibrada, em Ravel foi subtil, uma mudança de cambiantes quase mágica, Boreyko dominou a direcção com subtileza, com plasticidade. Ravel, embora tocado com poder sonoro, foi tratado com luvas de pelica, era um gosto ver os instrumentistas das madeiras, flauta sobretudo, aplicarem-se com gosto e empenho nesta música quase diáfana.
Mas se a primeira parte foi muito boa, a segunda, com Brahms, não foi pior. Brahms foi dirigido com competência, com realce dado às harmonias que esconde atrás do seu classicismo. Eu não sou um admirador incondicional da primeira de Brahms mas dirigida por Boreyko não se notou qualquer empastelamento, todos os cambiantes foram transmitidos. Notou-se o ênfase na modernidade escondida na partitura. Segundo um amigo presente, e que cito com toda a propriedade: "Boreyko não leu o Brahms que olha para trás, Brahms foi lido como o homem que olha para o futuro e acaba por deixar aberto um caminho sólido para Alban Berg e a segunda escola de Viena", por muito discutível que esta opinião possa parecer eu concordo plenamente.
Boreyko foi plástico, competente nas entradas, escolheu bem os tempos, foi lírico nos momentos certos e enérgico nos pontos mais empolgantes. Os seus sinais junto da orquestra mostraram grande comunicação e empatia com os músicos.
A orquestra mostrou-se forte nos metais e madeiras, com imprecisões infinitesimais nas entradas. O ritmo das percussões impressionou. Os violinos desacertaram um pouco na exactidão do pizzicato. Mostrou uma grande segurança em Ravel, o som em Brahms foi muito belo, envolvente, diria eu, sem nunca ser demasiado espesso. Boreyko deu uma leitura transparente e muito bela. Creio que ficámos a ganhar relativamente a Levine.
O extra foi uma dança húngara de Brahms, tocada de forma muito lírica e com um sentimento muito húngaro. Um grande concerto. No início do concerto o Hino Nacional (presidente presente) foi tocado com energia e um cuidado musical raro, Boreyko entusiasmou a orquestra na interpretação da obra de Keil do Amaral e Henrique Lopes de Mendonça.
Detalhe curioso: Boreyko benze-se sempre antes de entrar em palco e tem um ajudante que o penteia quando sai depois de agradecer as palmas. Um dos concertos melhor conseguidos desta série das orquestras mundiais. Pena não ter sido Mahler.
O programa começou pelo jovem Wagner: abertura de Rienzi. Wagner quase autodidacta, aprendendo com as óperas de Weber, amando Beethoven, aspirando ao infinito, de forma ainda académica, um jovem cuja ambição era o universo. Essa vontade de poder aparece de forma notável na abertura de Rienzi, uma sucessão de momentos fortes, ainda sem o domínio da paleta orquestral das suas últimas obras mas com um entusiasmo transbordante. Um entusiasmo que a Filarmónica de Munique transmitiu. No seu elemento estiveram os metais, as madeiras, as cordas e a percussão que deram uma força "bávara" ao mestre alemão. Vigor, poder, amor pela música, belo.
Se a orquestra foi notável em Wagner, pela força e pujança da sua sonoridade transbordante e equilibrada, em Ravel foi subtil, uma mudança de cambiantes quase mágica, Boreyko dominou a direcção com subtileza, com plasticidade. Ravel, embora tocado com poder sonoro, foi tratado com luvas de pelica, era um gosto ver os instrumentistas das madeiras, flauta sobretudo, aplicarem-se com gosto e empenho nesta música quase diáfana.
Mas se a primeira parte foi muito boa, a segunda, com Brahms, não foi pior. Brahms foi dirigido com competência, com realce dado às harmonias que esconde atrás do seu classicismo. Eu não sou um admirador incondicional da primeira de Brahms mas dirigida por Boreyko não se notou qualquer empastelamento, todos os cambiantes foram transmitidos. Notou-se o ênfase na modernidade escondida na partitura. Segundo um amigo presente, e que cito com toda a propriedade: "Boreyko não leu o Brahms que olha para trás, Brahms foi lido como o homem que olha para o futuro e acaba por deixar aberto um caminho sólido para Alban Berg e a segunda escola de Viena", por muito discutível que esta opinião possa parecer eu concordo plenamente.
Boreyko foi plástico, competente nas entradas, escolheu bem os tempos, foi lírico nos momentos certos e enérgico nos pontos mais empolgantes. Os seus sinais junto da orquestra mostraram grande comunicação e empatia com os músicos.
A orquestra mostrou-se forte nos metais e madeiras, com imprecisões infinitesimais nas entradas. O ritmo das percussões impressionou. Os violinos desacertaram um pouco na exactidão do pizzicato. Mostrou uma grande segurança em Ravel, o som em Brahms foi muito belo, envolvente, diria eu, sem nunca ser demasiado espesso. Boreyko deu uma leitura transparente e muito bela. Creio que ficámos a ganhar relativamente a Levine.
O extra foi uma dança húngara de Brahms, tocada de forma muito lírica e com um sentimento muito húngaro. Um grande concerto. No início do concerto o Hino Nacional (presidente presente) foi tocado com energia e um cuidado musical raro, Boreyko entusiasmou a orquestra na interpretação da obra de Keil do Amaral e Henrique Lopes de Mendonça.
Detalhe curioso: Boreyko benze-se sempre antes de entrar em palco e tem um ajudante que o penteia quando sai depois de agradecer as palmas. Um dos concertos melhor conseguidos desta série das orquestras mundiais. Pena não ter sido Mahler.
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