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8.5.04

O Erro do Crítico 

Mais uma pequena crítica à crítica.
Saiu no Público uma crítica ao "Turco em Itália", esta crítica peca, no meu entender, por um erro gravíssimo que tem de ser corrijido e que deve ficar registado. Fica aqui o registo neste espaço público.
O crítico do Público faz auto-citações e remissões para os próprios textos, nestes textos compara a figura do poeta, presente no Turco, a um "deus ex machina". Claro que de forma abusiva e despropositada! Em termos dramáticos, deus ex machina é uma personagem que surge inopinadamente e resolve todos os imbróglios, desata as pontas e leva a trama a um fecho rápido e decisivo. Como no Fidelio de Beethoven, ou de, forma aproximativa, no Othelo de Shakespeare com a chegada do emissário de Veneza. Nunca no Turco, mas adiante, que o erro mais grave não é esse.

O erro de palmatória é ter exigido que numa ópera buffa Fiorilla seja feita por um soprano lírico de coloratura a cantar de forma dramática convincente!!! E porque não um soprano dramático? Ou, já agora, um soprano dramático wagneriano, não? Acusa a cantora de não ter sido convincente na transição para o arrependimento. Que, aliás, dramaturgicamente é um absurdo completo e só se pode encontrar mesmo numa ópera italiana buffa. Essas exigências dramáticas seriam apropriadas se o texto não fosse o disparate que é se for visto como uma peça dramática séria e profunda, a peça funciona de forma convincente e até inspirada como argumento de ópera buffa. Comparar Pirandello ao libreto do Turco é o mesmo que comparar Pavarotti a Dino Meira, têm muito a ver mas em contextos muito diferentes! Mas se as minhas opiniões sobre a obra literária podem ser controversas o aspecto grave radica na apreciação da cantora Cinzia Forte. É precisamente no momento do arrependimento que se nota um volte-face contrastante notável: a cantora mostrou-se débil na entrada da ópera, a voz aqueceu, foi sempre ligeira na representação, como o papel exige, e revela-se no arrependimento. Este causa choque, a voz torna-se escura, a representação acentua-se no registo dramático, a coloratura encorpa-se com timbres insuspeitos e uma soprano lírico-ligeiro revela dotes inequívocos de soprano lírico, com uma coloratura notável, milagre de Rossini, que escreve de forma absolutamente mágica para a voz, milagre da cantora que consegue dar o que Rossini pede, que mutação! Que deleite para os ouvidos, um dos melhores momentos da ópera. A própria música de Rossini mostra-se neste ponto como personagem. Como pode Rossini dar à cantora páginas tão frívolas anteriormente e mudar radicalmente o registo no momento final? Simplesmente genial por parte do bem humorado italiano... Bem respondido pela cantora, que esteve a um nível elevado, com a ressalva de ter entrado demasiado fria no papel, primeiro acto.

O esquecimento do crítico do Público do tenor português Mário Alves é sintomático do estilo habitual das críticas de ópera no Público ultimamente. Susana Teixeira, fraquinha, é massacrada, Mário Alves, muito bem no papel é esquecido do rol de personagens e das citações críticas. Os leitores que tirem as conclusões,


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