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12.5.04

A encenação do Turco em Itália 

Tem-se escrito muito sobre encenação de ópera cómica italiana, buffa enfim. Creio que o objectivo, hoje, será fruir com humor de obras teatrais datadas. Discursos, na maior parte dos casos, paupérrimos do ponto de vista literário, obras de consumo imediato no tempo em que foram escritas, como as telenovelas de hoje. Versificações banalíssimas tipo: amor - cor (esta aparece umas dez vezes no "Turco...") - favore - signore - spozo - prezioso.
Creio que o Turco em Itália, de Felice Romani, não será nem melhor nem pior que a maioria dos textos do género. Bem sei que muita gente acha aquilo bom, engraçado, divertido. Foi dito e escrito que a presença em cena de um poeta que vai criando, ou tentando criar, a acção dramática é um achado de génio. Um Deus Ex Machina, disparate que vem, inclusivamente, em livros e enciclopédias altamente conceituados. Este poeta em cena não me parece um achado de génio, creio mesmo que é um recurso imaginativo, nunca genial, para salvar um complexo dramatúrgico banal, sem nexo, e destinado apenas a gerar situações divertidas, com encontros e desencontros dos personagens com um final moralista típico e espectável. Esta ópera buffa não é comparável a Pirandello. Se quisermos referentes temporais próximos podemos dizer que está em plano absolutamente inferior às obras de Lorenzo Da Ponte. Mas funciona em termos de humor? Claramente que sim, se tivermos um Rossini a compor.

Assim a encenação será sempre um complemento da música, subverter, intelectualizar, modernizar a cena será cair numa asneira de pedantismo intelectual incompatível com o texto.
Nesse aspecto o S. Carlos está de parabéns, a encenação da obra resulta em pleno acordo com o texto, contextualiza, reforça, é bem humorada. Guido de Monticelli submeteu-se à música e fez bem. Um encenador que gosta de música o que parece ser, paradoxalmente, raro!

A produção já vinha do Rossini Opera Festival de Pesaro, e foi competente em todos os sentidos cénicos, figurinos eficazes, trabalho de luzes muito bom, cenografia de Paolo Bregni estilizada mas poética sem ser demasiadamente cara, um dos aspectos cada vez mais importantes na produção operática a nível mundial. Interessantíssima a taberna, belas janelas no alto do palco, plataforma polivalente muito bem aproveitada. A cena do boudoir tem um trabalho cenográfico perfeito, 20 valores para o cenógrafo nessa cena.

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