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15.5.04

Concertos na Gulbenkian 

Sexta, 7 Mai 2004, 19:00 - Grande Auditório
ORQUESTRA GULBENKIAN
MOSHE ATZMON (maestro)
SHARON ISBIN (guitarra)
Gioacchino Rossini, Abertura da ópera Guilherme Tell. Antonio Vivaldi, Concerto para Guitarra e Orquestra de Cordas em Ré Maior, RV 93. Joaquín Rodrigo, Concerto de Aranjuez para Guitarra e Orquestra. Franz Schubert, Sinfonia Nº 8, em Si bemol Maior, D.759, Incompleta. Richard Strauss, Don Juan, op.20.

Uma guitarrista que deu prémio à Gulbenkian, muito correcta e pouco mais. Depois tivemos de levar com um extra sobre o 11 de Setembro, uma pecita qualquer da música pop israelita, num arranjo da própria guitarrista. Uma tristeza musical e um impingir de conceitos não miscíveis com o aspecto estético de um concerto. A música, se for boa, transmite sentimentos do mais profundo que existem. Se for má, e foi o caso, não transmite nada, apenas má propaganda.
Segunda parte fraquita, com demasiados defeitos na orquestra, v.g. trompas horríveis, para se poder fruir do prazer da música em condições. Maestro banalíssimo.

Domingo, 9 Mai 2004, 19:00 - Grande Auditório
LES TALENS LYRIQUES
CHRISTOPHE ROUSSET (direcção)
JAËL AZZARETTI (soprano)
SALOMÉ HALLER (soprano)
CYRIL AUVITY (tenor)
ATUSHI SAKAÏ (viola da gamba)

Marc-Antoine Charpentier, Leçons de Ténèbres.

As fantásticas Lições das trevas de Charpentier. Ao contrário do que muita gente disse, erradamente no meu entender, o tenor era realmente correctíssimo. Bem colocado, com um timbre bonito, num papel de agudos terríveis para um homem cantar com voz natural. A sua potência não é enorme, o que é quase impossível quando se canta neste registo terrífico. O papel era destinado a voz de mulher, numa tessitura também muito difícil de encontrar numa cantora, uma freira. O registo vem algumas vezes bem abaixo do contralto normal, uma espécie de "taille" feminina que traduziríamos, talvez, como tenor feminino.
Ouvimos beleza vocal, compreensão do estilo barroco francês, utilização criteriosa das sonoridades do cravo, nas passagens mais de bravura e de revolta, e do orgão, nas passagens mais meditativas. A beleza e fusão vocal dos sopranos foram de nota. Alguns defeitos: algumas notas ao lado; alguma desafinação pontual; alguma preocupação com a técnica, sem libertar a paixão; fizeram deste acontecimento um concerto apenas bom, quase muito bom. A música de Charpentier sugeria um concerto superlativo. Nota final: 17.

Um aspecto que contribuiu para o lado menos conseguido do concerto foi a afinação. O lá estava afinado a 392Hz, como se faria na Igreja ao tempo de Charpentier, o que está correcto, mas o uso de um temperamento muito igual, talvez Valotti ou algo que o valha, tirou cor à música do mestre francês. Às vezes, para facilitar a vida aos cantores, perde-se a lindíssima cor de temperamentos claramente desiguais. E se Charpentier sabia tirar proveito da desigualdade do temperamento! Basta ler as suas notas de composição, destinadas ao duque de Guise, em que explica as diferenças de cada tonalidade.
Bibliografia: Catherine Cessac, Marc Antoine Charpentier, Fayard - Paris.
Escreverei mais sobre o assunto.

Os meus próximos posts:
1. Festivais, Alcobaça e Leiria.
2. Vozes do Turco em Itália, balanço final.
3. Concerto de Goode na Gulbenkian. Nota 18.
4. Concerto de Claudio Scimone na Gulbenkian. Trompas de novo em péssimo plano. "Provavelmente um dos piores naipes de trompas da Europa"...
5. Próximo concerto do Divino Sospiro, com o célebre Enrico Onofri, na Sociedade de Geografia, dia 18 de Maio às 21h.
6. Porque não alinho em "óperas para o povo".
7. Início do Curso de Teoria do Som online aqui, no crítico.

Henrique Silveira

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