8.4.04
O Bispo e a Pedreira
O bispo de Viana do Castelo não gosta de música, para este prelado a música não serve a elevação do espírito, como durante milénios a Igreja ensinou, os orgão estão ao abandono, os padres já não sabem música, guitarradas infames de escuteiros, pandeiretas, o padre Borga, putos esganiçados aos berros na igreja a cantar um "Pai Nosso" musicalmente degradante, as velhas beatas esforçando-se por uivar desalmadamente. Este o panorama da música religiosa católica em Portugal, hoje. Com honrosas excepções é um panorama triste para um país com uma das maiores tradições em música sacra do mundo, para um país onde existiram centenas e centenas de orgãos históricos. Para um país onde existiram músicos e coros de qualidade elevadíssima em todas as dioceses.
O estado de abandono da música religiosa em Portugal é confrangedor, poderia ser mitigado por uma programação de concertos em templos, com música de qualidade que servisse para emprestar aos locais de culto algum brilho do eterno, alguma cor do céu, onde os anjos tocam melodias celestiais, segundo se sabe! Mas não, há bispos que não amam a música, que em vez de reverem métodos, pedindo por exemplo para a partir de uma certa data analisarem eles próprios os pedidos de concertos que existem, resolvem proibir em cima da hora concertos programados e autorizados pelos párocos.
Assim se passou com o bispo Pedreira de Viana do Castelo, um nome digno do opado que enverga o báculo do Alto Minho, Rídiculo se não fosse trágico.
Pelo contrário, a diocese de Lisboa não só autoriza concertos, como exige que não haja entradas pagas, a Igreja é de todos, não só dos que podem pagar bilhete, os pobres podem e devem ter acesso à casa de Deus, a Música serve a elevação da Alma. Em tempos reclamei contra as entradas livres na Sé de Lisboa em recitais de orgão. O incómodo provocado pelos turistas que entram e saem poderia ser resolvido proibindo a entrada depois do concerto começar, vejo hoje que a decisão de proibir entradas pagas nas igrejas de Lisboa é acertada e de acordo com os objectivos pelos quais esta instituição se orienta. Amanhã Filipe Pinto Ribeiro vai estar na Basílica de Mafra dando um concerto que se afigura magistral e exemplar do que se pretende para uma execução pública num espaço de culto.
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