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24.4.04

Notas muito elementares a serem desenvolvidas posteriormente sobre Festa da Música 

Um quarteto Psophos bom, mas que podia ser melhor. Uma Irene Lima muito bem. Um Berezovsky de cair de lado tocando um Chopin másculo e excepcional: uma experiência arrasadora com uma Sinfonia Varsovia sempre dirigida por Peter Csaba e com um som de veludo.

Uma Queffélec a tocar Chopin com uma elegância absoluta com a mesma Sinfonia Varsovia.

Um Andreas Steier com uma articulação e um fraseado de um recorte insuperável, com uma orquestra de câmara de Basileia em estado de graça, com uns sopros de uma elegância e um fraseado de uma subtileza que assustam. David Stern a dirigir como um apaixonado.

Uma sinfónica portuguesa cujos sopros precisam de escutar outras orquestras presentes na Festa da música para ver se aprendem a tocar música e deixam de berrar com os instrumentos. Depois de ouvir os metais e madeiras da Sinfonia Varsovia, da orquestra de câmara de Basileia e do Concerto Köln, ao ouvir a berraria dos sopros, sobretudo os metais, da OSP nos Prelúdios de Liszt caio para o lado, ninguém ensinou aos senhores o significado de contenção, de elegância, de suavidade no ataque? De integração no conjunto? Eles dão bem as notas, articulam, têm técnica, poderiam ser uma das mais-valias da orquestra, porquê tocar todos os ff como se tivessem fffff?
Podia-se fazer um filme Matrix com a OSP: os metais a dispararem notas, as cordas e o público a esquivarem-se em movimentos muito rápidos tentando proteger os ouvidos da surdez!... A qualidade geral da orquestra acabou por perder muito em comparação com outros agrupamentos presentes por este efeito dos sopros demasiado agressivos, acabou por ser um concerto mediano quando poderia ter sido muito bom.
António Rosado ao seu melhor nível a abordar o repertório mais difícil que se pode imaginar, Totentanz de Liszt, com a OSP neste ponto a ser mais contida e exacta. Percebe-se que com mais trabalho deste maestro, Zsolt Hamar, mais uma sugestão para um verdadeiro titular, a coisa poderia ir ao bom caminho. As cordas, muito razoáveis neste concerto, precisam de um som mais próprio, mais untuoso, mais coeso, mais idiomático. Mais uma vez se notou que, com outros concertinos o som das cordas melhora muito. O concertino de ontem, Alexander Stuart, mostra uma entrega e um entusiasmo no seu trabalho que se reflecte imediatamente no resultado sonoro.
Nota-se que orquestra precisa de mais trabalho em profundidade com um maestro que saiba o que quer, quando há bons maestros a técnica e a interpretação deixam de ser problema, começa a discutir-se a plástica sonora o que é um bom sinal. A orquestra atingiu a maturidade, precisa agora de atingir a excelência, o factor humano é bom, a reforma rápida do actual titular é a única solução que vejo para o problema. Mas este não é o local para escrever sobre o assunto, voltemos à Festa da Música!

No final do dia, a acabar já algo depois da meia noite, um concerto surpreendente, um Concerto Köln, dirigido por David Stern, com o concerto de Schumann em lá menor para violoncelo e orquestra com Jean-Guihen Queyras em violoncelo com corda de tripa, cordas com instrumentos barrocos e sopros com instrumentos do final do século XVIII, afinação com diapasão a 430 se o meu ouvido não me traiu. Uma revelação de sonoridades, o concerto de Schumann foi tocado de uma forma inspirada por solista e orquestra. A Sinfonia Italiana de Mendelssohn, que se seguiu, foi tocada de forma irrepreensível do ponto de vista técnico, com os sopros superlativos a dominar as terríveis dificuldades dos instrumentos e as piores dificuldades da partitura, o final saltarelo presto foi mesmo presto, rapidíssimo, as fllautas, os clarinetes, os oboés, fagotes, trompas e trompetes conseguiram uma fluência que às vezes não se encontra em orquestras com instrumentos modernos. A entrada da flauta neste último andamento foi belíssima, num pianíssimo pianíssimo pianíssimo, a uma velocidade estonteante, faz um solo tão perfeito que deixou o público de cabelos em pé! Os tímpanos, umas pequenas chaleiras amachucadas, foram atacados por um músico também notável que agradeceu de pé no final! Afinal ouvimos a sonoridade que se ouvia em 1830/40. Sem tiques barrocos, com o vibrato que a interpretação pedia, com a expressividade clássica/romântica desta sinfonia. Recomenda-se fortemente este agrupamento nos concertos de sábado e domingo.

Ninguém deve perder Berezovsky, é arrasador, é tão forte a emoção de ouvi-lo que acaba por ser tremendamente fatigante... Devo reabordar as previsões que fiz para o meu itinerário em função deste pianista, não se lhe pode perder uma nota...



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