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8.4.04

Disgrace 

Coetzee é um escritor que à pergunta posta pelo seu editor: “Ficção ou memória?” responde com outra pergunta: “ tenho que escolher entre uma e outra?”. Ou autor de uma frase como esta: “ O mundo está cheio de gente que quer construir uma vida sua, mas, para além do deserto, bem poucos podem fruir duma tal liberdade”.
No seu livro “Disgrace”, o seu primeiro livro a lidar explicitamente com a África do Sul pós-apartheid, Coetzee diz-nos algo a que já todos nos rendemos: que as trocas políticas quase nada podem fazer para eliminar a miséria humana. Aí um homem, David Lurie, professor universitário que perde o emprego por se envolver com uma aluna, é reduzido a quase nada antes de encontrar uma minúscula redenção pela aceitação do sofrimento : “One gets used to things getting harder; one ceases to be surprised that what used to be as hard as hard can be grows harder yet”. Nesta frase espelha-se também o que Coetzee pensa da vida na África do Sul, que a uma brutal tirania sucedeu uma brutal anarquia.
Coetzee é particularmente bom a convocar lugares onde o medo se desfoca e a situar as personagens em situações extremas que as compelem a explorar o que significa ser humano. Mais tarde na novela, depois de David ter caído em desgraça e trocado Cape Town pela quinta remota da filha Lucy, ela diz-lhe : “this is the only life there is. Wich we share with animals.”
Lucy parece entender o que David não consegue: que para viver onde ela vive, ela tem que tolerar a brutalidade e a humilhação e simplesmente continuar em frente. “Perhaps that is what I must learn to accept’, diz-lhe ela “To start at ground level. With nothing… No cards, no weapons, no property, no rights, no dignity… like a dog”


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