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2.4.04

CARSON MUCCULLERS II 

Falou-lhe da sua nanny negra, das conversas repetidas à mesa da cozinha, dum som súbito de blues e jazz, do Sul dos E.U.A, dessa adolescência com medo por espigar demais, do que sofria em ciúmes do irmão, de como dormia colada a ele, de chocolates em conchas plissadas.
Disse-lho em palavras curtas e pormenores azuis.
Falou-lhe disso nos seus livros, como filmes autobiográficos em que o tempo parava sempre na magia da adolescência, e detinha o ímpeto do outro tempo: a falta de dinheiro, o internamento psiquiátrico, o suicídio do marido, o sofrimento físico da pleurisia e dos avc.

Passava horas a lê-la, a olhar para além daquela fotografia. O ar arrapazado, os dedos grandes ao lado do piano. O dedo de feiticeira, o que escapou ao reumatismo articular. Sabia dela o que não sabiam as pessoas do seu tempo.
Mas nunca a poderia conhecer em carne e osso.
Ela morrera dois anos antes de ela nascer.
E isso era um desgosto.

CMC

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