20.3.04
Muito a dizer
Assisti à Ópera: "Os Fugitivos", no Teatro da Trindade, muito há a dizer, mas ainda não me apeteceu.
Muito havia a dizer sobre a genial encenação de Vick da Ópera Werther de Massenet, esse compositor medíocre, que numa temporada de pouquíssimas óperas teima em aparecer, quando Mozart ou Wagner ficam de fora.
Não me esqueci destes assuntos, ambos serão abordados.
Hoje na Livraria "Eterno Retorno", no bairro Alto em Lisboa um debate sobre a Ópera "Os Fugitivos": "Uma ópera de fugir?", como a minha opinião é realmente essa, a ópera é de fugir, fugirei também desse debate.
Muito haveria a dizer sobre a nova participante deste blogue: Clara Macedo Cabral, que aqui começou a escrever sem uma palavra de boas vindas de quem aqui estava antes. Veio do "Desejo Casar". Fica reparada a injustiça, a Clara é muito bem vinda. Clara escreve sobre literatura, poesia, teatro, política e o que lhe vai pela alma, sobre o que quiser, no fundo. Significa também uma lavagem do template, novos links, da sua preferência, e a inclusão de novos blogues nas citações. Na próxima semana faremos essas alterações.
Têm surgido blogues jovens de grande qualidade e têm desaparecido blogues mais antigos, uns por esgotamento das fórmulas, outros por cansaço dos bloggers, outros por fusão e refundação.
Outro assunto: a nossa fórmula ainda não está gasta, parece-nos. Enquanto a crítica em Portugal for feita por um pequeno grupo de pessoas. Enquanto a amizade e os pequenos grupos ditarem as poucas posições no nosso meio, sobra espaço para pessoas, que não tendo o menor interesse em ocupar postos ou acumular prebendas, nem fazer carreira no meio cultural, ou mesmo continuar a sobreviver sem serem votados ao ostracismo, se estão nas tintas para as opiniões dos "ditadores" do nosso tacanho meio e escrevendo por prazer vão explicando as suas sensações, as suas interiorizações do que se vai passando, tentando ser pedagógicos, quer para intérpretes, quer para o público, continuando a ler e a ouvir, estudando, e sobretudo mantendo-se independentes, sem receios que, dizendo bem disto ou mal de aquilo, possamos ser arredados de um lugar qualquer no futuro, com a subjectividade própria das nossas opiniões e da nossa capacidade humana de erro.
Finalmente respostas a comentários: o blogue "Portugal dos pequeninos" no meio de textos excelentes, a crónica da Petraglia é uma parábola das pequenas tragédias humanas, resolve comentar que eu, estaria a sofrer algumas consequências por dizer verdades aqui. Nunca pedi ao autor que me servisse de advogado neste tipo de questões, nem me parece que esteja a sofrer o que quer que seja. Se pensa o meu amigo João Gonçalves, ou outro, que uns bilhetes oferecidos ou não, e que custam uns miseráveis euros, podem obnubilar o meu sentido crítico, estará enganado. A Luna acabou, logo é natural que os bilhetes oferecidos desapareçam também. Não vem mal nenhum ao mundo. Ao menos poderei apupar ou aplaudir mais livremente no próprio local, com bilhete pago, em vez de ter de esperar pelos programas de rádio para fazer as críticas aos maus e bons serviços que tenho ouvido.
Sobre o M.P., que escreve também neste blogue, terá as suas opiniões, creio que são muito sentidas e ainda vão mais longe que as minhas. Não creio que gestão Pinamonti do S. Carlos seja uma catástrofe tão grande como a que ele vê. Por exemplo o dr. Pinamonti tem imaginação e consegue montar uma temporada, discutível mas possível, em cima do joelho, com pouco dinheiro e em cima da hora, num teatro cheio de vícios, com um coro que é incapaz de cantar e cheio de grupos de interesses e com gente a mais. Pinamonti terá o defeito de ter também o seu círculo de amizades, mas é o que acaba, paradoxalmente, por salvar o Teatro neste ano.
O seu principal defeito é a incapacidade de reformar de reformular, de despedir os incompetentes ou de enfrentar a realidade. Só um surdo, ou quem meta a cabeça na areia, não percebe o que se passa no TNSC. Se virmos o que ganha um maestro fora de prazo como Peskó, mensalmente, sem por os pés no teatro, ou quando põe: milhares de contos por estreia, mais milhares de contos por récita e por concertos além do ordenado fixo e certo, e o rendimento que esse investimento, pago com os nossos impostos, nos oferece: quase zero ou negativo. Se virmos quanto ganha um concertino, para trabalhar como concertino, e que em vez de concertar desconcerta, percebemos como o dinheiro dos nossos impostos é mal gasto, se percebermos quanto ganha um maestro de coro, mais adjuntos, mais coordenadores, para o coro ser a desgraça que é, sem ninguém dar um murro na mesa, percebemos o escândalo de uma gestão cultural ruinosa com os nossos impostos.
Esse é o defeito de Pinamonti, pactuar com este estado de coisas, que devora milhões de contos por ano, para uns poucos se exibirem nas estreias e dizermos que temos um "teatro de ópera" em Lisboa. Mas para manter a situação, Pinamonti é um gestor ideal, sabe manter-se sempre à tona de água e vai gerindo de forma habilidosa todos os pequenos focos de conflito, sem deixar o barco afundar de vez. O caso das horas extraordinárias que fez o coro deixar de cantar no CCB seria um óptimo pretexto para arrumar de vez com a questão, mas tudo foi ficando em águas turvas até desaparecer das memórias, como se nada se tivesse passado. Pinamonti é um director ideal para uma tutela que prefere deixar tudo como está. Sem a força de um Ministério forte e sem peso político por detrás será impossível, para qualquer direcção, a execução da reforma necessária ao S. Carlos e à ópera tutelada pelo estado neste país.
Se o estado pretendesse poupar dinheiro e produzir mais teria de ter uma vontade política férrea relativamente a este assunto, fazer audições por padrões internacionais, avaliar desempenhos, despedir ou recolocar incompetentes e improdutivos, em vez de andar a cortar nos museus e a deixar de apoiar os jovens artistas. Por outro lado o estado deveria pagar a tempo e horas aos artistas, tratá-los bem. O segredo seriam contratos bem negociados mas escrupulosamente cumpridos e assim recuperar a boa fama do Teatro Nacional de S. Carlos nos círculos internacionais.
A tutela teria de colocar um director no teatro como Almerindo Marques está a funcionar na RTP, o director artístico poderia muito bem não acumular funções com o director do teatro, parece que funciona assim em toda a parte do mundo e só quando a personalidade é excepcional é que se considera a hipótese de acumulação.
Porquê falar tanto deste teatro? Porque a ópera é um assunto apaixonante. Porque o S. Carlos é a instituição que recebe mais dinheiro do estado em termos musicais. É pago por mim e por uma data de gente que nem sequer consegue ser bem atendida num hospital público e que vai pagando salários principescos a gente que nem sequer merecia um pontapé no rabo no dia do despedimento com justa causa. Tenho mais do que o direito de falar sobre o assunto, tenho a obrigação. Sinto esse dever moral.
Muito havia a dizer sobre a genial encenação de Vick da Ópera Werther de Massenet, esse compositor medíocre, que numa temporada de pouquíssimas óperas teima em aparecer, quando Mozart ou Wagner ficam de fora.
Não me esqueci destes assuntos, ambos serão abordados.
Hoje na Livraria "Eterno Retorno", no bairro Alto em Lisboa um debate sobre a Ópera "Os Fugitivos": "Uma ópera de fugir?", como a minha opinião é realmente essa, a ópera é de fugir, fugirei também desse debate.
Muito haveria a dizer sobre a nova participante deste blogue: Clara Macedo Cabral, que aqui começou a escrever sem uma palavra de boas vindas de quem aqui estava antes. Veio do "Desejo Casar". Fica reparada a injustiça, a Clara é muito bem vinda. Clara escreve sobre literatura, poesia, teatro, política e o que lhe vai pela alma, sobre o que quiser, no fundo. Significa também uma lavagem do template, novos links, da sua preferência, e a inclusão de novos blogues nas citações. Na próxima semana faremos essas alterações.
Têm surgido blogues jovens de grande qualidade e têm desaparecido blogues mais antigos, uns por esgotamento das fórmulas, outros por cansaço dos bloggers, outros por fusão e refundação.
Outro assunto: a nossa fórmula ainda não está gasta, parece-nos. Enquanto a crítica em Portugal for feita por um pequeno grupo de pessoas. Enquanto a amizade e os pequenos grupos ditarem as poucas posições no nosso meio, sobra espaço para pessoas, que não tendo o menor interesse em ocupar postos ou acumular prebendas, nem fazer carreira no meio cultural, ou mesmo continuar a sobreviver sem serem votados ao ostracismo, se estão nas tintas para as opiniões dos "ditadores" do nosso tacanho meio e escrevendo por prazer vão explicando as suas sensações, as suas interiorizações do que se vai passando, tentando ser pedagógicos, quer para intérpretes, quer para o público, continuando a ler e a ouvir, estudando, e sobretudo mantendo-se independentes, sem receios que, dizendo bem disto ou mal de aquilo, possamos ser arredados de um lugar qualquer no futuro, com a subjectividade própria das nossas opiniões e da nossa capacidade humana de erro.
Finalmente respostas a comentários: o blogue "Portugal dos pequeninos" no meio de textos excelentes, a crónica da Petraglia é uma parábola das pequenas tragédias humanas, resolve comentar que eu, estaria a sofrer algumas consequências por dizer verdades aqui. Nunca pedi ao autor que me servisse de advogado neste tipo de questões, nem me parece que esteja a sofrer o que quer que seja. Se pensa o meu amigo João Gonçalves, ou outro, que uns bilhetes oferecidos ou não, e que custam uns miseráveis euros, podem obnubilar o meu sentido crítico, estará enganado. A Luna acabou, logo é natural que os bilhetes oferecidos desapareçam também. Não vem mal nenhum ao mundo. Ao menos poderei apupar ou aplaudir mais livremente no próprio local, com bilhete pago, em vez de ter de esperar pelos programas de rádio para fazer as críticas aos maus e bons serviços que tenho ouvido.
Sobre o M.P., que escreve também neste blogue, terá as suas opiniões, creio que são muito sentidas e ainda vão mais longe que as minhas. Não creio que gestão Pinamonti do S. Carlos seja uma catástrofe tão grande como a que ele vê. Por exemplo o dr. Pinamonti tem imaginação e consegue montar uma temporada, discutível mas possível, em cima do joelho, com pouco dinheiro e em cima da hora, num teatro cheio de vícios, com um coro que é incapaz de cantar e cheio de grupos de interesses e com gente a mais. Pinamonti terá o defeito de ter também o seu círculo de amizades, mas é o que acaba, paradoxalmente, por salvar o Teatro neste ano.
O seu principal defeito é a incapacidade de reformar de reformular, de despedir os incompetentes ou de enfrentar a realidade. Só um surdo, ou quem meta a cabeça na areia, não percebe o que se passa no TNSC. Se virmos o que ganha um maestro fora de prazo como Peskó, mensalmente, sem por os pés no teatro, ou quando põe: milhares de contos por estreia, mais milhares de contos por récita e por concertos além do ordenado fixo e certo, e o rendimento que esse investimento, pago com os nossos impostos, nos oferece: quase zero ou negativo. Se virmos quanto ganha um concertino, para trabalhar como concertino, e que em vez de concertar desconcerta, percebemos como o dinheiro dos nossos impostos é mal gasto, se percebermos quanto ganha um maestro de coro, mais adjuntos, mais coordenadores, para o coro ser a desgraça que é, sem ninguém dar um murro na mesa, percebemos o escândalo de uma gestão cultural ruinosa com os nossos impostos.
Esse é o defeito de Pinamonti, pactuar com este estado de coisas, que devora milhões de contos por ano, para uns poucos se exibirem nas estreias e dizermos que temos um "teatro de ópera" em Lisboa. Mas para manter a situação, Pinamonti é um gestor ideal, sabe manter-se sempre à tona de água e vai gerindo de forma habilidosa todos os pequenos focos de conflito, sem deixar o barco afundar de vez. O caso das horas extraordinárias que fez o coro deixar de cantar no CCB seria um óptimo pretexto para arrumar de vez com a questão, mas tudo foi ficando em águas turvas até desaparecer das memórias, como se nada se tivesse passado. Pinamonti é um director ideal para uma tutela que prefere deixar tudo como está. Sem a força de um Ministério forte e sem peso político por detrás será impossível, para qualquer direcção, a execução da reforma necessária ao S. Carlos e à ópera tutelada pelo estado neste país.
Se o estado pretendesse poupar dinheiro e produzir mais teria de ter uma vontade política férrea relativamente a este assunto, fazer audições por padrões internacionais, avaliar desempenhos, despedir ou recolocar incompetentes e improdutivos, em vez de andar a cortar nos museus e a deixar de apoiar os jovens artistas. Por outro lado o estado deveria pagar a tempo e horas aos artistas, tratá-los bem. O segredo seriam contratos bem negociados mas escrupulosamente cumpridos e assim recuperar a boa fama do Teatro Nacional de S. Carlos nos círculos internacionais.
A tutela teria de colocar um director no teatro como Almerindo Marques está a funcionar na RTP, o director artístico poderia muito bem não acumular funções com o director do teatro, parece que funciona assim em toda a parte do mundo e só quando a personalidade é excepcional é que se considera a hipótese de acumulação.
Porquê falar tanto deste teatro? Porque a ópera é um assunto apaixonante. Porque o S. Carlos é a instituição que recebe mais dinheiro do estado em termos musicais. É pago por mim e por uma data de gente que nem sequer consegue ser bem atendida num hospital público e que vai pagando salários principescos a gente que nem sequer merecia um pontapé no rabo no dia do despedimento com justa causa. Tenho mais do que o direito de falar sobre o assunto, tenho a obrigação. Sinto esse dever moral.
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