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23.1.09

Tios e Sobrinhos 

Fortunas de milhões, sobrinhos taxistas na Suiça, tios empresários em Cascais. Offshores e contas numeradas. Áreas protegidas que afinal não o são assim tanto e deixam de o ser de acordo com momentâneas conveniências. Cursos da treta tirados de forma suspeita. Ministros do ambiente para disfarçar...

Qual será o coelho que vai sair da cartola de José [Sócrates] Sousa?

Prevejo uma medida surpreendente e inusitada para os próximos dias, é necessário distrair...

Estou cansado.

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21.1.09

Casamentos diversos 

José [Sócrates] Sousa anuncia como pedra de toque da sua próxima cavalgada eleitoral o casamento civil homossexual. Não tenho nada contra o que o senhor Sousa decide usar como factor de rendimento eleitoral. Num exercício de abstracção e, lembrando-me de todas as minorias ingoradas e oprimidas, lembro que o muçulmanos, que pela sua cultura podem casar com até quatro mulheres, deveriam ver esse princípio consagrado também pela lei portuguesa. Depois virão os Mormons e por aí diante. E este assunto é sério e deveria ser debatido antes dos homossexuais...

E divagando um pouco: talvez em 2013 a próxima bandeira seja o casamento civil entre seres humanos e animais, quem não sente ternura por um psicanalista, ou mesmo um pastor, que ama uma bela ovelha? Basta lembrar Woody Allen... Qual é o direito da nossa sociedade de impedir a felicidade de seres que se amam? Os animais são, dizem muitos dos seus defensores, melhores do que os humanos - talvez Schopenhauer concordasse. Porque não a oficialização dos casamentos inter-espécie? E depois, como consequência lógica, a poligamia inter-espécie consagrada em lei?
Depois disso resta legalizar apenas a união de facto (por etapas primeiro, que o assunto é sensível) entre humanos e seres inanimados. Quem não conhece o macho lusitano apaixonado pelo seu automóvel? Casamentos entre humanos e automóveis seriam uma experiência que, a resultar, seria estendida a obras de arte, bonecas e bonecos insufláveis, e outros artefactos que só a imaginação poderá conceber...
Enfim, quem é a sociedade moralista, repressora, reaccionária, para impedir a liberdade do indivíduo, a sua afirmação e a escolha da sua orientação?
Penso que as associações de defesa de animais só iriam protestar quando um toureiro, casado com o seu cavalo e com um campino ribatejano, quisesse adoptar uma ovelha a par dos gémeos chineses já adoptados anteriormente.

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20.1.09

Excelente Electra na Gulbenkian 

Escutei ontem uma extraordinária Electra de Richard Strauss, cantores em elevadíssima forma. Um naipe excepcional de mulheres com Rosalind Plowright em Clitemnestra, Deborah Polaski no papel titular e Stephanie Friede em Crisótemis. As cinco servas - Nadine Weissmann, Simona Ivas, Larissa Savchenko, Sandrine Eyglier e Liliana Faraon - foram todas de alto nível. Nos homens destacaram-se Johan Botha em Egisto e, sobretudo, o belo Orestes de Jochen Schmeckenbecher, correspondendo muito bem Diogo Oliveira, apenas um desastroso Marcos Santos destoou.

Foster esteve bem na música sublime de Strauss e, sem ser quadrado (caso raro), deixou respirar os cantores e usou o rubato como elemento dramático de grande efeito. A orquestra esteve perfeita, acabando alguns ataques (muito evidente no ponto em que trompas e fagotes andaram descoordenados) por serem os únicos pontos, minúsculos aliás, que me deixaram descontente...

Devo dizer que a Electra de Polaski foi de cortar a respiração, a voz de Polaski, tal como a sua portadora, tem rugas. É evidente que sim, mas isso apenas dá mais força, carácter, nobreza e dramatismo à sua construção, simplesmente assombrosa, da heroína trágica. Não perceber isso é estar a milhas do sentido do drama e não ter a menor sensibilidade.

Li uma crítica no "O Público" onde se "crucifica a cantora de quinta feira passada. Eu, que assisti na segunda, dia 19 de Janeiro de 2009, pressuponho que: ou houve uma transição de cento e oitenta graus, algo difícil de entender, ou que quem critica não percebe nada do assunto. Ele há coisas que devem ser objectivas, precisas, que devem corresponder ao que se passa. Outras serão subjectivas. Os critérios subjectivos, não podem nem devem fazer submergir uma crítica. Ler este "crítico", Pedro Boléo, louvar cantores abomináveis que têm passado no S. Carlos (sobretudo no consulado hermenêutico e do sucedâneo na direcção artística) e "massacrar" uma grande senhora como Polaski, parece-me, no mínimo, estranho. Tenho pena de não ter escutado na quinta feira passada para perceber se existiu uma tão grande metamorfose...

De qualquer modo, devo dizer que Electra na Gulbenkian foi um acontecimento de grande nível.

Nota sobre indumentárias: Foster aparece de roupão preto, ou robe de chambre, ou algo assim, amarrotado. Não tem o menor brio na indumentária, e no meu entender, dando um péssimo exemplo aos músicos. Os músicos, por seu turno, usam os mais variados tipos de sapato, uns de vernis, outros de pala, muitos de atacador, solas de borracha, alguns com ar vetusto e pouco limpo. Alguns músicos nem usam cinta nem colete branco e o cinto de cabedal aparece sob as banhas entre a camisa e as calças. As senhoras usam e abusam de calças de mau corte e os penteados são simplesmente nefastos para uma percepção estética da arte de olhos abertos... A visão da Orquestra Gulbenkian é quase a imagem do apocalipse; desordenada, sem brio no traje e sem disciplina na aparência. Basta ver a Filarmónica de Viena ou de Berlim para se perceber a diferença. A própria Sinfonia Varsóvia, uma orquestra de dimensão igual à Gulbenkian, apresenta todos os seus músicos com os sapatinhos polidos. Peço que pelo menos os senhores músicos, se não tratam do penteado ou nem sabem como se deve usar a casaca, pelo menos usem sapatos decentes para enfrentar um palco.

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14.1.09

Policarpo e os casamentos com muçulmanos 

O comentário de D. José Policarpo sobre o casamento de mulheres cristãs com muçulmanos praticantes tem toda a razão de ser.
A intolerância e o fanatismo, o relegar das mulheres para segundo plano, e tratá-las como seres de segunda, é prática habitual e tenho-a presenciado em muitos países de maioria de muçulmanos que tenho visitado. Até na "laica" Turquia o papel da mulher é secundário. Se fizermos o passeio da Palestina para "ocidentalizada" Jordânia e acabarmos na medieval Arábia Saudita as coisas vão de mal a pior.
Uma coisa é conversão informada e convicta (só se mete naquilo quem quer), outra é tentar manter as convicções num casamento inter-religioso. D. José Policarpo tem toda a razão, estamos aqui a considerar factos e não ilusões, estamos a falar do muçulmano praticante médio e não de um ideal, quase inexistente, de tolerância que não existe na prática muçulmana.

E eu li o Corão. O que acentua tudo o que escrevo acima...

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12.1.09

Comunicado à Imprensa - MISO 

Recebi o Comunicado que transcrevo na íntegra. Parece-me profícua a sua divulgação.


Comunicado à Imprensa
Parede, 10 de Janeiro de 2009

No seguimento do incidente de ontem no Palácio Foz, dia 09-01-2009, que marcou a apresentação dos programas Inov-Art e Inov-Mundus com a interpelação de Paula de Castro Guimarães (Paula Azguime) ao Senhor Primeiro Ministro Eng. José Sócrates, e perante o comunicado da DgArtes que tenta desviar a atenção da questão levantada relativa à internacionalização dos artistas portugueses com mais de 35 anos de idade; a Miso Music Portugal / Centro de Informação da Música Portuguesa, entidade da qual Paula Azguime é presidente e directora. vem esclarecer o seguinte:

Em relação às declarações do Ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro:
Ficamos perplexos, abismados e revoltados perante a afirmação do Ministro da Cultura, que garante haver dinheiro para todos artistas: "Não há nenhuma falta de apoio para todos os artistas que existem em Portugal, é uma questão de se dirigirem aos locais próprios".
Esta afirmação demonstra um total desconhecimento da realidade dos artistas e das estruturas artísticas em Portugal e até dos próprios organismos do Ministério da Cultura! Os montantes dos apoios previstos para os concursos plurianuais e anuais da DgArtes não se coadunam, como todos sabemos e até a própria DgArtes reconhece, nem com o número de entidades susceptíveis, pela sua qualidade, originalidade e mais valia para o estado de serem apoiadas, nem com as necessidades das actividades em Portugal; muito menos com uma internacionalização consistente dessas mesmas actividades. Solicitamos pois como consequência directa das declarações do Senhor Ministro da Cultura que não havendo nenhuma falta de apoio para todos os artistas, e por conseguinte nenhuma falta de verbas, que sejam feitos de imediato diligências no sentido de se pôr de pé um programa especifico, tão longamente aguardado e reivindicado de apoio e incentivos à internacionalização dos artistas portugueses com mais de 35 anos. Sugerimos também que haja um aumento efectivo de verbas nos apoios às estruturas para que efectivamente ao contrário do que se verifica nos montantes anunciados para os apoios 2009-2012, elas possam também fazer um trabalho sólido de internacionalização dos seus projectos e dos artistas que promovem.
Afirmou também o Ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro nunca ter sido contactado pela Miso Music Portugal para um pedido de audiência. Para que não restem dúvidas sobre a veracidade da solicitação da Miso Music Portugal juntamos em anexo documento com o pedido de audiência enviado a dia 9 de Maio de 2008, reiterado a 06 de Junho de 2008, a 22 de Junho de 2008, e ainda a 16 de Julho de 2008 (ver documentos anexos).
Foi-nos concedida uma reunião com o Dr. Luís Chaby Vaz, Chefe do Gabinete do Ministro da Cultura a 28 de Julho de 2008 que nos informou não haver dinheiro nem em 2008 nem em 2009, nem a possibilidade de nenhum enquadramento específico para o Centro de Informação da Música Portuguesa cuja principal função é a preservação e promoção do património musical português e a efectiva internacionalização dos compositores portugueses e das suas obras, numa perspectiva de circulação e de afirmação da música portuguesa no mundo. (ver documento anexo).


Em relação às declarações do Director-Geral das Artes Jorge Barreto Xavier:
As afirmações do Dr. Jorge Barreto Xavier só vêm comprovar a posição privilegiada da Miso Music Portugal / Centro de Informação da Música Portuguesa para em pleno direito se pronunciar quanto aos problemas efectivos das artes em Portugal e em particular à sua internacionalização. Como disse o Dr. Jorge Barreto Xavier "a Miso Music Portugal é a entidade mais apoiada na área da música", recebeu anualmente entre 2005 e 2008, 200 mil euros e é uma entidade que se tem vindo a internacionalizar e que por isso conhece bem os obstáculos e as dificuldades para essa internacionalização e as lacunas profundas das politicas para a cultura nessa matéria e correspondentes insuficiências financeiras.
É com profundo conhecimento da situação que os artistas vivem em Portugal, que reafirmamos a necessidade imperiosa de que seja implementado um programa especifico com meios financeiros adequados para a internacionalização dos artistas portugueses de todas as idades, e especialmente aqueles com mais de 35 anos com trabalho afirmado e reconhecido. Para estes nunca houve em Portugal até esta data, como acontece em todos os países culturalmente civilizados, nenhum programa efectivo de apoio à internacionalização.

Quanto ao apoio anual de 200.000¤ atribuído por concurso à Miso Music Portugal entre 2005 e 2008, deve referir-se que o mesmo já não está em vigor, tendo terminado a 31 de Dezembro de 2008. A Miso Music Portugal fez no final de Novembro tal como muitas outras estruturas artísticas profissionais e independentes, uma candidatura aos próximos apoios plurianuais. Todavia o tardio lançamento dos concursos e o anúncio da decisão dos mesmos que só será conhecida em Abril, vêm interromper em todo o país e para todas as estruturas artísticas os apoios financeiros por um período de pelo menos 4 meses, deixando as estruturas numa situação de completa indefinição e de precariedade não justificável, assim todas as actividades culturais independentes parceiras até final de 2008 da DgArtes. Contrariando-se assim o principio de estabilidade e de necessidade de consolidação, dinamização, e desenvolvimento sustentado das actividades artísticas previsto e estipulado pelo decreto lei Decreto-Lei n.º 196/2008 de 6 de Outubro.

Pela Miso Music Portugal

Paula de Castro Guimarães (Paula Azguime) e Miguel Azguime
Todas as informações sobre a Miso Music Portugal em http://www.misomusic.com e sobre o Centro de Informação da Música Portuguesa em http://www.mic.pt

--

Paula de Castro Guimarães
directora executiva e curadoria




Monstra e Belo 

Dois concertos, dois destinos, Orquestra Barroca de Basileia, dirigida pela concertino Julia Shröder, na Gulbenkian, desinteressante, pouco estimulante, planar [chato], desafinado, sem recorte nem cor, com instrumentistas esforçados mas pouco dotados, caso da oboé e de quase todos os violinos. Uma cantora doente a fingir que cantava e a dar imensos esgares...
Concerto sem o menor interesse, interpretação indiferente e banal.

Giardino Armonico, duas horas depois no CCB, com quatro solistas de craveira mundial nos violinos: como pode conceber-se o Fabrizio Cipriani estar na terceira posição e o Colleti na quarta? Bem, nas primeiras estavam o Barneschi e o concertino era o Onofri, está tudo dito. Todos os quatro têm um nível muiscal muito superior a uma Julia Shröder, uma intérprete razoável mas muito esteriotipada. Um alaúdista do melhor que há no mundo, Luca Pianca, violoncelos fabulosos, com Beschi à cabeça, um excelente e sóbrio Riccardo Doni no cravo e todos os restantes a um nível de elevadíssima qualidade. Uma equipa assim estaria votada a dar-nos um concerto fabuloso sob a direcção de uma musicalidade e uma energia absolutas de Antonini.
Escutámos um Handel vivo, cheio de cor e energia, pujante de nuances, com pianíssimos de uma beleza e transparência sem par, constrastes cheios de surpresa, fantasia, poesia nos andamentos lentos. Apenas Marco Bianchi, o concertino dos segundos violinos, falhou um pouco no início do Concerto op. 6 n.1 de Handel, quando entrou de forma desastrada e a "inventar", acabando a patinar desesperadamente nos seus soli iniciais, felizmente concentrou-se a acabou de forma mais sóbria e mais consistente as suas intervenções.
Vibrámos com a Folia de Geminiani, com solos extraordinários de Beschi, de Onofri, e com a cor do alaúde de Pianca. Subimos ao Parnaso com o solo de Antonini na flauta doce, no concerto de Sammartini.
Um concerto de altíssimo nível, uma orquestra de solistas, uma ideia musical pelo seu director. Simplesmente brilhante.

O público aplaudiu entusiasticamente. Infelizmente a sala não estava cheia, como se exigia. Será a crise ou o melómano médio anda embotado?...

Entretanto o bilhete máximo a 30 euros era ao mesmo preço do concerto da Orquestra de Câmara Portuguesa de 21 de Dezembro.

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11.1.09

Revelações - Confirmações 

Em 2008 assistiu-se a algum marasmo no nosso panorama musical. Continuam as temporadas Gulbenkian e da Casa da Música, sendo a primeira muito conservadora nas suas escolhas, mas com elevada qualidade, e a segunda mais inovadora nas suas propostas. É tempo de espectativa, ambas as instituições mudaram de programador, os efeitos nas temporadas far-se-ão sentir a médio prazo, parecendo a Casa da Música manter-se numa certa continuidade. A Orquestra Nacional do Porto afirma-se como a melhor orquestra de formação (de raiz) sinfónica de Portugal e parece ter conseguido assegurar a transição de titular de forma eficaz e com valor acrescentado.

O Teatro de S. Carlos manteve-se a um nível muito baixo: fazer inúmeros concertos de concertina e reco-reco, a par de alguns outros mais meritórios, não é a vocação de um Teatro Nacional de Ópera. Exige-se, isso sim, ópera de qualidade, uma orquestra sinfónica de qualidade e um coro a subir de forma. Milhares de eventos menores podem ficar a cargo de outros programadores e/ou festivais, etc... Com esta direcção artística de Dammann, e apesar de Julia Jones como nova titular da OSP, não se nota evolução significativa. O coro está agora muito pior desde o, mais que discutível, afastamento de Giovanni Andreoli para dar lugar a um mais um homem de Colónia.

O CCB apresentou uma temporada em crescendo. São discutíveis as políticas de formação de preços: uma orquestra de jovens, como a Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por um jovem promissor, mas sem grande currículo na direcção de orquestra, não pode ter o mesmo preço que uma orquestra consagrada dirigida por um maestro de craveira mundial como Marc Minkowsky.
Considero que a aposta na OCM deve ser mantida e, sobretudo, ampliada nos recursos. Uma orquestra de jovens altamente promissores não pode ter apenas dois ou três concertos por ano. O CCB deve investir mais neste projecto de Pedro Carneiro para apurar o estilo e a coesão dos instrumentistas. Alguns concertos iniciais promissores não tiveram neste final de ano a previsível subida de qualidade. O atingir de um patamar mediano não é desejável. Pedro Carneiro e os seus músicos têm muito mais potencial do que o demonstrado. São necessários mais concertos e o convite a maestros de alto nível para ensaiar (uma ideia inicial que parece não se ter mantido) e dirigir esta orquestra a par de Carneiro, senão o projecto ficará condenado à política das boas vontades na habitual estagnação portuguesa.
A restante programação do CCB tem tido momentos de elevada qualidade e algumas desilusões (como o do King Consort). A política de manter agrupamentos residentes, como o Divino Sospiro [conflito de interesse: sou sócio fundador], tem dado projectos com interesse. Apostar na Maria João Pires pode ser interessante mas também perigoso, uma vez que esta pianista pode ser capaz do melhor e do pior.
O CCB deverá de futuro ser mais consistente ao longo do ano e não se concentrar em alguns eventos que esgotam o orçamento.

A Metropolitana perdeu Gabriela Canavilhas e ganhou Cesário Costa. Michael Zilm trouxe momentos de altíssima qualidade que não foram acompanhados por outros maestros estrangeiros como Augustin Dumay. A Orquestra tem valor mas carece de ensaios e de direcções de qualidade. Espero que com Cesário Costa o nível geral aumente. O trabalho da Metropolitana é sério e profissional.

A Culturgest, dispondo de um auditório com fraca acústica, está condenada a uma programação alternativa e, quase sempre, com amplificação. No entanto o lado amplo, inovador e sofisticado da programação, onde predominam muitos elementos post modernos, acaba por ser quase sempre estimulante, quer seja no jazz, na ópera contemporânea, no bailado ou teatro... Gosto muito das conferências e ciclos que esta entidade produz.

Estrearam-se menos óperas em 2008 do que em 2007 [ano de Das Märchen de E. Nunes e W de José Júlio Lopes], assisti a "Um Outro Fim" de Pinho Vargas e gostei muito da música.

Artur Pizarro, para mim, destaca-se como o solista instrumental de maior qualidade em Portugal sem esquecer António Rosado. Na voz mantém-se o seguro Luís Rodrigues como "a rocha" dos barítonos portugueses. Tenho gostado do trabalho de Mário Alves (tenor) e Ana Quintans afirma-se como uma cantora de grande estilo.

Existe também um jovem naipe de cantores e instrumentistas portugueses que se tem vindo a afirmar.
Os problemas são sobretudo estruturais. O Estado não financia a música, a educação pública não dá qualquer valor à música. A população em geral não tem gosto musical o que impede um crescimento apoiado na sociedade civil: sem uma grande base cultural dos seus dirigentes as escolas privadas também não estimulam a aprendizagem musical e as escolas privadas de música são escassas. Os programadores locais e os pequenos festivais têm cada vez menos dinheiro. A crise económica afasta sponsors e as grandes empresas que, lideradas por gente pouco culta na sua esmagadora maioria, não destina quaisquer fundos à responsabilidade social na área artística.

Existe uma massa de jovens que eu prevejo, se o estado das coisas não se alterar, condenado à frustação, ao desânimo e a vegetar economicamente. A emigração, a participação em espectáculos ligeiros e as lições avulsas são quase o único destino destes jovens.
Por outro lado a crítica é pouco estimulante, mortiça, com pouco espaço público e, no meu caso, algo resingona. Em 20009 espero ser mais compreensivo para com os pequenos erros alheios e não usar de artilharia tão pesada para com o trabalho do próximo... veremos se consigo.


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Melhores discos de 2008 

Procurei citar discos realmente saídos em 2008 e não discos saídos nas datas mais díspares, como 2007, que receberam menções na nossa imprensa. Considero o projecto Immerseel das Sinfonias de Beethoven o melhor conseguido pela envergadura da obra e pela qualidade musical e da gravação. Simplesmente notável. Todos os outros são mencionados sem ordem de preferências.

Integral das Sinfonias de Beethoven, dir. Jos Van Immerseel, orq. Anima Eterna. Editora Zig Zag.

Firenze, 1616, Le Poème Harmonique, direcção Vincent Dumestre. Editora Alpha.

Francesco Geminiani, Sonates pour violoncelle avec la basse continue, Bruno Cocset & Les Basses Reunies. Editora Alpha.

Robert Schumann Klavierwerke & Kammermusik - IV, Eric Le Sage. Editora Alpha.

Lamentatio Jeremiae Prophetae, Agricola, Morales, Arcadelt & Lassus, EGIDIUS KWARTET. Editora Et'cetera.

Vivaldi, Les Quatre Saisons & Autres Concerts, Gli Incognitì, Amandine Beyer. Editora Zig Zag.

Tartini, Sonate a violino solo, Aria del Tasso, Chiara Banchini, violino e Patrizia Bovi, soprano. Editora Zig Zag.

Handel - Organ Concertos op. IV, Lorenzo Ghielmi e La Divina Armonia. Editora Passacaille.

Zelenka, Missa votiva zwv 18, Collegium 1704 e Collegium Vocale 1704, dir. Václav Luks. Editora ZIG ZAG.

Margerit, Francesco Spinacino, Emanuela Galli, soprano, Gabriele Palomba e Franco Pavan, alaúdes, Josuè Melendes, corneto, Paolo Zucheri, viola da gamba. E Lucevan le Stelle.

Graffiti (Just Forms), Six Portraits of Pain, Acting Out António Pinho Vargas, Remix e ONP. Editora Numérica.

Erik Satie - Claire Chevallier piano Erard. Editora Zig Zag.

Grandes Descobertas

Ganassi, Sylvestro, Io amai Sempre, Venise 1540, Madrigais, Motets, Toccatas e Fantasias. Pierre Boragno, flautas, Massimo Moscardo, alaúdes e guitarras, Marianne Mudler, violas, François Saint-Yves, órgão e cravo. Editora Zig Zag.

Bohuslav Matěj Černohorský Laudetur Jesus Christus. Hipocondria Ensemble, Societas Icognitorum. Editora Arta.

Chant de L'eglise de Rome - VI - XIII siècles. Ensemble Organum, dir. Marcel Pérès. Um disco surpreendente. Editora Zig Zag.

Julius Röntgen, Complete Cello Concerts. Arturo Muruzabal, Orquestra Sinfónica da Rádio da Holanda, Filarmónica de Câmara da Rádio da Holanda. Maestros: Paul Watson e Henrik Schaefer. Editora Et'cetera.

Nota:

Estou à espera de "Le jeu de Robin et Marion" da Zig Zag, com a Patrizia Bovi, que ainda não vi por cá em Lisboa. Pela lista de prémios recebiods deve ser muito bom.

A Melhor reedição

Masters of Flanders, dir. Eric Van Nevel, Capilla Saint Michaelis, Currende Consort. 10 CD's. Editora Et'cetera.

À excepção da tal caixa reedição dos 33 discos da Decca com as gravações de Bayreuth, não considero interessantes as propostas no domínio da ópera para serem consideradas nesta lista.

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10.1.09

António Pinto Ribeiro [ministro nome trocado] 

Pinto Ribeiro [ministro nome trocado] continua na senda do "Fazer mais com menos". Retirou o subsídio de 250.000 euros ao Círculo Portuense de Ópera e disse mais ou menos assim:
- A Casa da Música recebe muito dinheiro, eles que façam a ópera!
E questionado sobre a inexistência do fosso e teia na complexo de salas de concerto que constitui a Casa da Música Pinto Ribeiro [ministro nome trocado] acrescentou: eles que façam no Coliseu!

Suponho que a massa deva ir para pareceres jurídicos ou qualquer outra coisa importante, como uns automóveis melhores para o Ministério da Cultura [ministério nome trocado].

Mas será que eles não percebem que uma coisa são salas de concerto e programadores e produtores de concertos e outra são salas de ópera e produção de ópera? Não percebem que existem estes dois conceitos? De onde saiu este Pinto Ribeiro [ministro nome trocado]?

E depois disto tudo ainda somos informados que Pinto Ribeiro [ministro nome trocado] ainda tentou demover Ricardo Pais de se reformar!

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9.1.09

Johnny Guitar 

Haiku "Bénard vindo da Costa"

Teu Livro é cinema
da Sá da Costa à Bénard
Um café e cigarro...

"There's only two things in this world that a 'real man' needs: a cup of coffee and a good smoke."

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Faust de Gounod 

Estreou no S. Carlos, ontem, o Fausto de Gounod, o elenco foi entre o fraco e o sofrível.

O maestro foi desastroso.
O coro foi muito fraco.
A orquestra esteve mal e as cordas (concertino, violinos, violas e violoncelos) estiveram péssimas.
Os desacertos canoros, de ritmo, a desafinação e os erros decorreram calmamente do princípio ao fim.
Uma direcção sem chama nem glória, sem subtileza nem encanto, quadrada, pesada e sem a elegância necessária à mais conhecida, e mui digna, obra dessa estrela de segunda grandeza que foi Gounod.

O barítono estava enrouquecido e com dificuldades de respiração e não houve um substituto para dar um pouco mais de dignidade à estreia numa casa de ópera num teatro nacional europeu.

A encenação mediana, e não acompanhada pelo encenador, foi o melhor do conjunto. Está, no entanto, recheada de lugares comuns e sem grande rasgo.

Uma tristeza este Teatro sob esta direcção artística muito fraca vinda de Colónia e com gente, vinda de Colónia e arredores, de currículo muito curto.

Uma crítica mais detalhada posteriormente.
Classificação: nove e meio.

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Incompetência Assumida 

Na entrevista de José [Sócrates] Sousa à SIC foi referido que o Estado tinha devolvido fundos comunitários no valor de seiscentos milhões de Euros destinados à agricultura em 2008 para se poder poupar cento e sessenta milhões de euros que o mesmo Estado teria de investir.
José Sousa disse que teve de ser assim para controlar o défice...
Mas será que ninguém explicou a estes senhores que apenas o IVA sobre o total dos investimentos, correspondentes a compras de equipamentos e serviços (que no caso de investimentos com fundos comunitários têm de ser documentados e contra factura), seria cerca de 155 milhões! Isto, sem contar com outros factores decorrentes do investimento, traria o retorno quase completo dos tais cento e sessenta milhões a "poupar" para controlar o défice.
Será que nenhum jornalista ou blogueiro percebeu a falácia que disfarça a mais completa e absoluta incompetência destes governantes?

Só este pedaço da entrevista seria motivo para o maior dos escândalos em qualquer país um pouco mais civilizado...

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