<$BlogRSDUrl$>

24.3.08

Salzburg 

Regresso agora de Salzburg, uma Valquíria, três concertos da Filarmónica de Berlim, Seiji Ozawa, Rattle, solistas como Sophie-Mutter e Heinrich Schiff, e uma Criação de Haydn com Quathoff e Michael Shade.
Volto com muitas evocações de Karajan e uma arrepiante memória de um trompista escocês que recordou entre duas cervejas e muita saudade um célebre concerto com duas sinfonias de Brahms, a segunda e a quarta, em Londres decorria o ano de 1987 com o antigo Obersturmführer das SS, agora transformado num zombie, à frente da orquesta.

Mas são histórias longas, a Valquíria, que hoje se repete, neste festival de Páscoa de Salzburg foi uma desilusão musical, vocal e dramática. E o pior nem sequer foram as inacreditáveis falhas de coordenação da orquestra durante todo o decorrer do primeiro e segundo actos. Mas o tempo é escasso hoje, voltarei ao assunto.

Seiji Ozawa esteve magnificente na décima de Mahler num programa já realizado duas vezes em Viena o que ajuda. Mutter foi simplemente maquinal no concerto de Beethoven, insensível e de técnica perfeita, a tocar para um público de snobs que se deixa seduzir por um belo vestido e por um vibrato de catálogo. Mutter encantou audiência, deixou frios os críticos, esqueceu-se de Beethoven e da sua paixão, arrastou e alongou-se na sua belíssima sonoridade mas não mostrou a menor ponta de poesia ou de alma; curiosamente os piores críticos foram os músicos da orquestra no jantar que se seguiu. Já Ozawa provou que a Filarmónica de Berlim com um grande maestro à frente não é a banalidade da sonoridade agressiva e da indefinição dos tempos de Rattle: a décima sinfonia de Shostakovich foi um monumento de poesia e densidade. Simplemente arrasador, sem necessidade de agressividade sonora ou de trombones a rasgar pano, Ozawa vive um momento de grande fôlego criador e não já precisa de criar efeitos inesperados para seduzir o público.

Continua...

Etiquetas: , , , ,


7.3.08

Educação e exemplos 

Os professores perdem autoridade e, para mascarar as estatísticas, são obrigados a passar quase todos os alunos. Se não o fazem hoje têm de apresentar justificações intermináveis e sujeitar-se a sanções. Se não o fizerem no futuro serão penalizados nas avaliações que se aproximam podendo vir a ser despedidos.
Não sei se o leitor entrou numa escola e viu as instalações dos professores: geralmente estão amontoados numa sala comum, com umas mesas e cadeiras, aí têm de ver testes, preparar aulas, estudar e estar de plantão esperando por uma aula de substituição.
As instalações são, na esmagadora maioria dos casos, deprimentes, frias, sem aquecimento no Inverno e sem ar condicionado no Verão, os professores não dispõem de computadores ou de postos de trtabalho. Uma miserável secretária onde coloquem os livros ou pastas é um luxo inacessível e um gabinete de trabalho para os docentes é um mito impossível.
Os professores são sujeitos a pressões constantes do ministério e das múltiplas direcções regionais, não para ensinar melhor, mas para passar os meninos e melhorar as estatísticas. Os professores não são motivados para realizar actividades com os alunos, isso custa dinheiro e dinheiro é tudo o que não se pode gastar.
Diz assim o governo que o insucesso escolar diminuiu drasticamente, eu, como professor universitário, fora do meio do liceu, eu que tenho gabinete, biblioteca, aquecimento e arrefecimento, computador, secretária e estantes para colocar os livros, afirmo que a diminuição do insucesso é mentira, uma descarada e redonda mentira.
Para mim o sucesso é o conhecimento, é a cultura, é a esperança numa educação que, mais do que passar no fim do ano, é preparação para o mundo e uma ética de vida. Os números têm descido mas os alunos que me chegam todos os anos à Universidade são, cada ano que passa, pior preparados. Não falo de meia dúzia de alunos: falo de centenas ou mesmo milhares que passam pela minha cadeira no Instituto Superior Técnico onde tenho, mesmo assim, a sorte de ter os melhores alunos do país. E acuso: acuso estes governantes de mentirem. Mentem ao país, aos pais, aos estudantes e à Europa, ao mascararem os números do insucesso forçando aprovações em massa de alunos que nada sabem. O pior nem é serem tacanhos, mesquinhos, punitivos, persecutórios, o pior é que se andam a enganar a eles próprios e a destruir uma geração com um facilitismo irreal.
Educação não é burocratização e punição. Educação é, sobretudo, motivação e ética. Educar é uma tarefa elevadíssima em que o menor dos bens é o conhecimento puro. Educar é formar cidadãos e essa é a menor das preocupações dos governantes de hoje. E é tão simples: bastaria começar por dar bons exemplos...


Etiquetas: ,


Arquivos

This page is powered by Blogger. Isn't yours?