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28.9.07

Prommers em Londres 

Este ano já acabaram, mais uma vez lá fui, assisti a um Crepúsculo dos Deuses com Runnicles a dirigir.
O que mais me inspira neste Festival, um dos mais antigos em permanência na Europa, organizado pela BBC e assente no gigantesco Royal Albert Hall, é o público, creio que é aqui que se encontra o verdadeiro inglês, Londres já não é uma cidade inglesa mas os proms são um dos redutos do inglês que conhecemos dos livros, o inglês consevador que no Inverno veste tweed. Não o inglês primitivo que vai de férias para o Algarve, ou o inglês bêbedo que destrói pubs. É um tipo bem divertido de observar.
Nos intervalos encontramos os bares subterrâneos cheios de amigos que vão aos proms e que foram aos proms desde sempre e que sabem do assunto, gostam de música e bebem mais um pint de cerveja e discutem os cantores e a direcção, discutem a partitura e o texto, uma espécie de sociedade exclusiva, uma espécie de elite, um grupo de fanáticos religiosos não lhes fica atrás, são uma espécie de donos do festival, eles sentem-se assim.

Ao meu lado ficou um escritor, encontrei-o por acaso na fila dos prommers, e ofereci-lhe o bilhete que tinha a mais, por acaso para os melhores lugares (sentados) da sala, hesitou em aceitar, disse-me que gostava muito de ficar na arena onde sentia inspiração para escrever durante as quase cinco horas do Crepúsculo, no ano passado durante a Valquíria tinha escrito um caderno inteiro, e mostrou-me os cadernos que usava, para ele o que perdia de oportunidade da concentração artística na escrita, e de pertencer a uma casta especial de sofredores, ganhava no conforto de um bom assento e boa visibilidade. Foi olhado com grande desconfiança pelos outros prommers da bicha como se tratasse de um traidor, de uma espécie de vendido que saía da verdadeira elite para se render aos confortos burgueses dos outros, aqueles que se sentam para escutar cinco horas de Wagner!
No intervalo de uma hora, após o primeiro acto, sentei-me a comer e beber uma refeição ligeira, uma salada e uma cerveja, como não poderia deixar de ser. Isto apesar do conselho de um wagneriano de Bayreuth que se tornou também meu amigo, alemão de gema e grande bebedor de cerveja:

"Antes ou durante Wagner nunca se deve beber cerveja!
Os actos são demasiado longos e as bexigas demasiado pequenas! Evitar os líquidos é um dos principais argumentos para uma apreciação da obra wagneriana! É também um dos principais problemas em Bayreuth, com todos estes senhores de idade avançada, as bolsas permitem-lhes vir aqui, mas as próstatas não lhes dão descanso, seria melhor o inverso...
Depois, ao jantar que se segue a Wagner, a cerveja é bem vinda e até o próprio Wagner a bebia sem complexos."

Devo dizer que o conselho é sábio, a celebração wagneriana tem destas coisas e os neófitos são rapidamente instruídos pelos mais velhos, ou por experiências próprias dolorosas. Qualquer teatro wagneriano tem de ter magníficas instalações, e Bayreuth não descura esse aspecto... Quando soa a fanfarra, que anuncia os quinze minutos para o início de qualquer acto, dá-se a corrida aos subterrâneos de Bayreuth e, no caso deste Verão, aos subterrâneos do Royal Albert Hall...

Estava eu sentado calmamente a ler o programa (bem feito) e a beber a minha cerveja anti-regulamentar, quando um prommer me perguntou se podia sentar na minha mesa e, depois de um natural assentimento quase tácito, se sentou ao meu lado sem complexos. Meia idade, bengala e coxeando imenso. Perguntou-me se estava a gostar, dei-lhe algumas opiniões e ele começou a falar de gravações, eu tenho umas doze gravações do Ring, creio que ele deve ter uma trinta (nem sei se há tantas, creio que não, mas parecia pelas citações), o homem, consultor do governo local de Londres, tinha estado em todo o lado, Bayreuth à cabeça, tinha ouvido todos os grandes wagnerianos dos últimos quarenta anos e sabia tudo o que havia para saber, felizmente brilhei ao citar-lhe o livro de Brian Magee que ele ainda não tinha lido, mas que conhecia e que iria comprar. Depois de uns vinte minutos de conversa perguntou-me de onde eu era, eu disse-lhe que era português e ele começa a falar em português, dizendo que estava um pouco enferrujado uma vez que não falava há mais de vinte anos. Era um prommer, um prommer astuto para variar: por causa da bengala estava sentado na fonte e não em pé, como a maioria dos outros prommers, muitos dos quais preferem ficar de pé na arena pela atmosfera, dizem eles que é única, de pertencer a um grupo que se tortura de forma persistente para assistir a todos os concertos do festival, alguns dos quais francamente maus. Prommers que, na sua maioria, têm dinheiro e idade para assistir aos concertos bem sentados mas que insistem em se massacrar em condições impróprias para fruir da música. Diga-se, de passagem, que os prommers são altamente estilizados nos seus rituais, são clientes habituais do festival e o silêncio é realmente sagrado durante a música.

À saída do Royal Albert Hall, eram umas dez e meia da noite, eu tinha de estar em Paddington para apanhar o comboio para Oxford perto da meia noite, creio que era o último. Um trajecto de dez minutos de táxi e muito perto. Infelizmente a fila dos táxis era colossal e de táxis nem um à vista, passavam todos cheios, felizmente o espírito prático inglês veio ao de cima, um médico de Reading, de meia idade, e um dramaturgo que tinha trabalhado para a BBC, agora reformado, e que se dedica à escrita sobre fonética em Shakespeare, organizaram um táxi para a estação de Paddington e eu alinhei na coisa, como não tínhamos todos trocos eu e o dramaturgo pagámos o táxi e o médico pagou um chá na estação de Paddington.
Também eles sabiam muito de música mas não eram tão assertivos como o consultor da bengala. Punham hipóteses, lançavam argumentos, discutiam as raízes do teatro em Wagner, comentavam o concerto. vinham de longe de propósito para o Wagner, não são prommers regulares, nem sequer são prommers, sabem escolher e não vão a todas, escutam sentados, são verdadeiros amantes de música.

O concerto, esse, não foi grande coisa...

P.S. Segue um texto do Norman Lebrecht, escrito em 2003, sobre os Prommers e que descobri depois de escrever este texto. É realmente cortante e vai muito mais longe do que a minha sensação sobre o assunto. Mas Lebrecht está em Londres. A ler todos os artigos de um verdadeiro crítico.



Prommers ruin the Proms

By Norman Lebrecht / August 6, 2003


Arriving 80 minutes early at the Royal Albert Hall, I applied an orthnithologist's eye to the preparatory rituals of the Prommers, those hardy perennials who stand up throughout the summer concert season (as distinct from weaker breeds who slump in upholstered tip-ups).

Prommers are a motley lot in drab plumage. They do not appear to belong to the young, ethnic-minority and underprivileged classes that the BBC wants to attract. Nor are they musical virgins, eager to be initiated in the joys of western civilisation by the benevolent patronage of a public-funded cultural organisation.

On the contrary, judging by their overheard chatter, Prommers are perma-fixed in their musical prejudices and hissingly intolerant of newcomers who commit the dreadful faux pas of clapping between the movements of a symphony or concerto. Intent on their hobby, they are the kind of creature you might see on a Sunday morning at a steam railway depot, or perhaps in the administrative office of a remote Salvation Army station.

Their rituals are unchanging. Hours before each concert they mill around the dust-choked construction area behind the RAH. At the first spots of rain they migrate beneath the hall's awnings. When the rear doors are unlocked by a red-coated flunkey - the RAH is the last public utility in levelled-down Blairland to retain smartly outfitted ushers - they parade with remarkable decorum to fixed, though unmarked places in the belly of the hall.

An invisible hierarchy prevails. By some means, whether by queuing longest or attending most nights in the week, certain internally recognised leaders of the flock take up uncontested positions at the brass front rail of the arena, within spit-shot of the orchestra. A second group, less exalted, occupies the bank of seats around the central fountain. The rest of the Prommers stand unsupported by a wall or furniture for upwards of an hour at a time, a form of torture that is banned by the United Nations Human Rights Convention. The summer heat, intensified by the crush of several hundred pungent bodies, can be intolerable -even in the hall's new air-conditioning system.

So why do they do it? Not for lack of money, nor (I believe) primarily for love of music. Prommers purchase a £160 season ticket which gives them admission to the arena for 73 concerts over eight weeks. That sounds a better deal than it really is. In between the limelight performances are many concerts which are made of BBC polyfilla and played without much brio. Attending the lot is an unmusical act. Serious music lovers browse the Proms brochure and select the best, saving money and avoiding many nights of mediocrity.

But Prommers are not motivated by economy or excellence. Their instinct is tribal and seasonal, immune to reason. It is a form of masochism that is endemic to summer music festivals. Rich Americans pay fortunes each summer to sit on hard benches at Bayreuth for five hours at a stretch and have their intelligence insulted by Wolfgang Wagner's latest nihilist-chic producer.

At Bregenz, in Austria, patrons are warned to bring insect repellent and not to yawn too widely for fear of ingesting a cloud of mosquitoes. At Savonlinna, in Finland, you can sit in an open courtyard in pouring rain while an orchestra plays in sodden clothes and singers sneeze between arias. At Aix-en-Provence, the heat is Vesuvian. In the Arena di Verona, the top rows require seat-belts for the vertiginous. Some of the cavernous fringe venues at Edinburgh would not be passed fit for food storage.

The festival spirit demands human sacrifice. If the music is good, worshippers feel rewarded. If not, they still return the following year. The sacrifice is not unique to classical music. At rock festivals, fans congratulate one another on 'surviving' the mud and slime. Early on Sunday morning, I saw thousands flocking to Lords three hours before the start of play, knowing that they would be lobster-broiled on sizzling bleachers while watching a cricket match that England were bound to lose. Where, you wonder, is the dividend?

The origin of these summer traditions is a primal herd instinct, the urge to join with others in a festive act. When asked in a 2001 BBC survey why they chose to stand, most Prommers (38%) replied 'because of who I was with.' Others cited the 'atmosphere'. These are herd reactions, innocent as chewing cud. But mass ritual can turn sinister when combined with feats of endurance that engender a sense of superiority - of being part of an elite that embraces pain. The Prommers have more in common than they might acknowledge with the Shi'ites of Iran who whip themselves with chains until the blood flows. In political terms, a sense of superiority bred by common or caste suffering is the foundation of fascism. The classic text on this phenomenon is Elias Canetti's Crowds and Power.

Now I am not suggesting that boring old Prommers manifest any form of totalitarian tendency. They are, to all appearances, uninspiringly decent, law-abiding individuals whose only excess is to bawl silly chants into the BBC's ever-live microphones. Conductors welcome their English eccentricity as an antidote to the overcaution that is killing their art. On the Last Night of the Proms they cheerlead a carnival atmosphere.

Nevertheless, notwithstanding their transparent commitment, the Prommers are becoming detrimental to the populuist purpose of the Proms. The unpublished 2001 BBC survey reveals a more upbeat demographic than the one I observed -60% of Prommers were supposedly under the age of 35, 42% were women, 40% lived outside London. But the survey does not distinguish between the hard core of season-ticket Prommers and the casual rush of one-offs, who are admitted 15 minutes before each concert if space permits.

It is the phalanx 525 every-nighters who constitute the problem. They form an elite at the heart of the Proms, an aging praetorian guard whose dominance of the arena actively deters the young and curious. They brandish resentment at the seated majority and squatters' rights at the BBC, asserting a spurious ownership of 'their' Proms.

It is about time the BBC got a grip and culled these cuckoos in its nest. All it needs to do is to restrict the sale of half its season tickets to the under-30s, a reform that would instantly rejuvenate the standing mob and abolish some of its sillier customs. The Prommers are becoming a tiresome nuisance, an impediment to the admirably populist mission of this largest and most engaging of music festivals. They have had a good run. Let them give way to humbler, younger and needier seekers of music on a summer's night.

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26.9.07

Lixo Universal 

Não falo da Igreja Universal do Reino de Deus, falo mesmo da Universal com Decca, DG e outras etiquetas.
Hoje leio mais um email do esforçado e profissional Paulo Ochoa e vejo mais quatro "highlights", os destaques para estes meses da programação da Universal.
Começamos com o desgraçado do Pavarotti, com os "homens de negócios" da Universal a cavalgar em cima do morto. Segue-se uma Bartoli a esganiçar-se aos berros numa Maria Malibran qualquer que ninguém sabe como cantava e que provavelmente nos faria arrepiar os cabelos ainda mais do que o novel vibrato (volta Natália de Andrade) da Cecilia e os produtos discográficos desta multinacional. Temos, logo a seguir, mais um quinto de Beethoven pela Hélène Grimaud, deve ser o centésimo milésimo, com a direcção de Vladimir Jurowski e a belíssima Staatskapelle de Dresden mas com a formação completa e um vibrato de arrepiar ainda mais os meus pobres cabelos, a interpretação volta a ser pomposa, falsamente heróica e pouco inovadora; com o erro técnico de ter demasiada potência nos graves do piano, provavelmente para dar uma sensação de densidade que resulta em empastalemento do som. Onde estão os técnicos do "som Decca"? Ou foram todos despedidos ou morreram ou estão reformados e as gravações parecem feitas por "free-lancers" contratados do pop-rock... O último disco destes "highlights" é um não menos batido concerto para violino de Mendelssohn por Daniel Hope que descobriu uma nova versão "Urtext", neste caso o tal Hope deve tocar sozinho a versão "urtext" onde se destaca nos tímbales, e gravada em multipista, porque não há qualquer referência, (nem no site da Universal, nem no email) a orquestra ou a maestro! Creio que esta é a centésima quinquagésima milésima ducentésima duodécima gravação do concerto mártir de Mendelssohn e a interpretação não podia deixar de ser incrivelmente arrebicada e de mau gosto, apesar dos tais tímbales. E fica a informação que se trata da Orquestra de Câmara da Europa e o maestro é Hengelbrook, o vibrato volta a ser arrepiante: lamechas, lamuriento e de mau gosto.

A multinacional passa ao lado de todas as propostas inovadoras que se têm feito no domínio na interpretação nos últimos quarenta anos e está francamente fossilizada no lixo "vibrante" que tenta recrear hoje Mendelssohn, Beethoven e o chamado "belcanto" à moda dos anos sessenta do século passado. Produtos passados e sem interesse, sem inovação interpretativa, sem chama nem vida, recriações requentadas do mesmo que tem sido feito nos últimos cem anos. Não há pachorra para tanta falta de qualidade, mesmo quando o embrulho duma Bartoli e a sua falsa chama de "artista muito séria pouco dada às solicitações do mercado" tenta dar alguma credibilidade a um conteúdo miserável.

Acresce a isto uma foto da Bartoli quando tinha menos 15 anos e menos 30 quilos e está tudo dito sobre os pesos "light" que resultam destes "highlights". Conclusão, recomendo que não se compre nada disto. Bola preta à Universal nesta "reentré", como lhe querem chamar.

O trabalho desta companhia é bem diferente de uma Carus, entre tantas outras, uma editora pequena que todos os meses aparce com novidades muitíssimo mais interessantes do que os produtos de marketing que são produzidos por uma companhia que não tem o menor respeito pelos intérpretes, pelo público e pela história das marcas que representa e dirigida por meros empresários, sem a menor noção do que é a qualidade musical. Lembrei-me da Carus a propósito da nova edição do Paulus de Mendelssohn, uma gravação extraordinária, de uma profundidade tremenda, de uma meditação interna e uma musicalidade e força que nos transportam a outro universo, que nada tem a ver com a Universal, um universo exaltante em que a obra recupera toda a sua energia através de uma leitura sem concessões de Frieder Bernius, esse sim um grande dirigente, servido por solistas de altíssimo nível com Kiehr, Güra e Volle, um coro notável (talvez o melhor dos intérpretes aqui reunidos) e a Deutsche Kammerphilharmonie de Bremen, a anos luz de distância do Mendelssohn manhoso da Universal do Daniel Hope e de um maestro qualquer escolhido para o acompanhar. Quando há discos destes para adquirir não faz sentido gastar um cêntimo nos produtos Universal, é o chamado dinheiro deitado para o balde do lixo, era preferível que esta multinacional saísse do mercado discográfico dito clássico, a sua política editorial é uma fraude e só serve para fomentar o mau gosto dos papalvos, cada vez menos felizmente que o público não é estúpido, que seguem os produtos Decca, DG e outros, pela sua história e prestígio.

Bem tem razão o Norman Lebrecht ao dizer que a indústria morreu. A ler o seu livro, também fortemente recomendado.

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22.9.07

Medíocre é o Pulido Valente 

O Pulido Valente vem falar de Aquilino Ribeiro, diz que é um escritor medíocre. Logo a seguir, uma turba de medíocres, muito piores que o Vasco e que nunca leram o Aquilino, vem atrás do soba e aproveita os disparates do Vasquinho Correia Guedes para alarvemente mandar os arrotos da praxe e chafurdar no esterco habitual.

Aquilino foi, isso sim, um bandido, um mau bandido mas um medíocre bandido, bem haja por isso, o que nada tem a ver com a sua escrita.
Tenho lido Aquilino com prazer, "O Romance da Raposa" foi o meu primeiro livro era eu menino de bibe, muitos outros se seguiram. Às vezes a sua ânsia de regionalismos torna-o demasiado paroquial e fechado sobre a sua língua beirã o que reduz fortemente a sua dimensão. Compare-se Aquilino a Cardoso Pires, a escrita tortuosa de um e a escrita vertical, complexa no conteúdo mas simples no vernáculo, do outro e percebe-se facilmente a diferença entre um bom escritor e um génio.

Nada disto tem a ver com o Panteão, existem muitos melhores escritores do que Aquilino. Aquilino não foi escolhido por ser um bom escritor. Foi escolhido, entre outras coisas, por ter sido um bandido enquanto jovem. Foi escolhido para credibilizar um regime e a classe política com uma figura identificativa de esquerda q.b., aquilo a que se costuma chamar um "homem vertical", e teve unanimidade no parlamento. Infelizmente para todos nós, o bandido Aquilino está muito acima da gentalha que foi buscar o seu esqueleto ao saco dos esquecidos do cemitério dos Prazeres. O Panteão serve para o circo do regime e a vaidade de umas quantas figuras públicas, nada tem a ver com a nossa identidade nacional, que também nada tem a ver com estes políticos.

Os serviços do Panteão não são religiosos e a casa não é de culto, servem a histeria colectiva que seguiu a Amália e servem de circo para a palhaçada do regime da mediocridade em que se tornou Portugal.


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21.9.07

Pavarotti - e a música continua 

Pavarotti: não percebo a colecção de homenagens blogosférias, vídeos fanhosos no you tube, gravações mais ou menos rascas do homem.
Era um gordo que cantava bem, comunicava bem, era um grande cantor de papéis pouco complicados em termos psicológicos e musicalmente simples, ainda que vocalmente impressionantes, tinha uma voz clara e transparente e, de facto, única, mas isso foio há muito tempo. Pavarotti vendeu muitos discos. Cem milhões, segundo afirma Norman Lebrecht no seu livro em que faz a análise post morten da indústria discográfia na sua vertente clássica que, como se sabe, acabou com as majors a venderem fundos e a editarem porcarias como novidades que não interessam nem ao menino Jesus...
Pavarotti não escapou ao péssimo gosto que ostentou a par da sua figura grande de bonacheirão e ao seu profissionalismo nos palcos de ópera: o seu disco de 97, por exemplo (entre outros) é um monte de esterco comercial, autêntica prostituição de uma arte que lhe deveria merecer alguma dignidade, já que foi graças à arte do canto e ao domínio quase perfeito da técnica vocal que Pavarotti conseguiu ser o segundo artista "clássico" a vender mais discos. E não, engana-se o leitor se pensa que o primeiro do ranking foi uma Bartoli, uma Callas ou outro cantor qualquer...
Enfim, morreu uma voz, morreu um homem, lamento a perda mas não me peçam ladaínhas laudatórias. Pavarotti, ao contrário do que se diz, não contribuiu para divulgar o canto lírico e a ópera. Não é com lixo em dueto com o esqueleto do Frank Sinatra, morto e enterrado com catarro e voz roufenha de tabaco mortal, mal desenterrado de umas fitas magnéticas que se leva gente mais ao Ring de Wagner.
A propósito, a obra singular de música "clássica" que vendeu mais foi o Ring do Solti em vinil e CD. Foram mais de 48 milhões de cópias por cerca de quinze horas de música! E não foi preciso nenhum Pavarotti...

Pelo menos acabaram-se os discos da treta e os amigos da treta, como a fraude Bocelli pelo meio, e os concertos da treta com Pavarotti e amigos que não tinha, como nos diz Volpe na sua autobiografia. Volpe foi o último General Manager do Metropolitan antes de Peter Gelb, este último veio da indústria discográfica da qual foi um dos mais dedicados coveiros e cujo único sucesso no sector da música clássica da Sony foi a edição da banda sonora do Titanic.

Pavarotti: o homem que recebeu um milhão de dólares debaixo da mesa pelo 1º concerto dos três tenores, sem os dois outros saberem. Paz à sua alma, a música continua.

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20.9.07

A vida tem destas coisas 

Estava eu muito descansado quando o Tomás Marques da VGM me veio falar de um tal Homilius. Ele sabe que eu tenho um fraco por Dresden que resulta um pouco da minha paixão por Schütz, que é para mim um dos expoentes máximos da retórica em música, talvez o maior mestre da musica poetica. Schütz é um verdadeiro profeta de todos os génios que aliaram a música à palavra, um profeta de Bach, de Schubert, de Wagner, compositores tão díspares na aparência e com semelhanças mais profundas do que a óbvia citação do Erlkönig no prelúdio da Walküre. Schütz um ilustre do seu tempo, privando com reis e nobres da mais alta estirpe, uma luz nos anos sombrios da guerra dos trinta anos, cosmopolita, intelectual. Bach, o rude mestre de capela, pouco reconhecido no seu tempo como compositor, sem estudos superiores o que lhe trouxe desconsideração e dissabores, Schubert um pobre diabo baixote e gordo de Viena, sem ocupação conhecida, aprendiz de mestre escola boémio, frequentador de prostitutas, Wagner o megalómano, execrável para os amigos, visionário e desmesurado. Todos foram expoentes maiores do verbo vertido em música, uns nas grandes formas, outros nas pequenas. Quase que apetece dizer que Schütz foi o compositor da primeira ópera alemã (perdida) e Wagner o compositor da última... se não fosse uma barbaridade seria uma frase com piada.

Dizia-me então o Tomás, vai para mais de um ano (e quem não conhece o Tomás não sabe o que perde), que o Homilius é que estava a dar! Homilius para aqui, Homilius para ali. Dizia o Tomás façanhudo e tonitruante:
- É uma estreia mundial, música sublime e ... re-béu-béu-béu...
Às vezes gosto de contrariar o Tomás por puro deleite numa boa discussão, e obviamente desdenhei:
- Homilus? Não quererás dizer homilia? Estás a precisar de uma homilia...
- E que não, que não, o Homilius é fantástico, um compositor de estaleca, de Dresden.
- Alto - senti algo a espicaçar-me - de Dresden?
- Sim, de Dresden, num disco da Carus... o maestro é o Bernius.
- Da Carus? O Bernius? De Dresden? Mostra lá isso.

Era uma colecção de Motetes, um disco de 2004, doze dos motetes eram primeiras gravações mundiais. Foi com avidez que obtive os outros dois discos, cantatas da Frauenkirch de Dresden para a qual o Kreuzcantor Gottfried August Homilius compunha enquanto a igreja da Cruz não era recuperada da destruição provocada pela guerra dos sete anos.
Homilius é uma redescoberta recente, apenas a partir de 2004 se começou a editar em disco a obra deste compositor. Estudou em Leipzig provavelmente com J.S.Bach (há quem o afirme com certeza), o estilo é naturalmente mais moderno, uma vez que Homilius nasceu em 1714, mas existem muitas pontes. Homilius também se dedicou à música de Igreja, alguém disse (E. L. Gerber) que foi o maior compositor de igreja da Alemanha. Esta edição discográfica segue de perto a edição recente da Carus da música impressa de Homilius, a maior parte nunca editada anteriormente, e cuja maior parte resta ainda por tocar. Devo notar que os preços destas edições impressas da Carus não são caros!
Seria interessante ver alguma orquestra barroca portuguesa a pegar em compositores relativamente desconhecidos que seriam descobertas surpreendentes para os ouvintes, em vez de abordarem pela enésima vez o repertório mais que batido de Handel, Vivaldi e Bach...

Foi também com prazer que descobri nesse site da Carus que o editor da Gramophone me secundou ao considerar o disco da Missa em si menor de Bach, por Frieder Bernius, como "Best B Minor Mass in years" reforçando a ideia com que fiquei ao escutar esta gravação verdadeiramente sublime.
Os discos das cantatas e motetes de Homilius revelavam uma música extraordinária, uma variedade e um domínio técnico da arte da orquestração e da escrita para vozes e coro. Entretanto sairam duas paixões em 2007: uma paixão cantata (Ein Lämmlein geht und trägt die Schuld) em que se exprimem sobretudo sentimentos sem se seguir estritamente o texto dos Evangelhos e uma oratória paixão (Johannespassion) de teor mais próximo das paixões de Bach, por exemplo. Discos que confirmam o génio de mais um grande compositor de Dresden.
A subtileza dos recitativos, nunca monótonos, a linha melódica, os pontos de clímax e de distensão, a criatividade e variedade da orquestração, o uso das vozes no desenho da emoção descrita pela ligação da palavra à música e o sentido dramático, são constantes em Homilius. É notável na paixão seg. S. João o coral (bem antigo e conhecido e tratado por Bach numa das suas obras mais conhecidas que deixo ao leitor adivinhar depois de ouvir estes CD's de Homilius, fica o fácil desafio sobretudo para o João Chambers) orquestrado de uma forma impressionante com as trompas em grande destaque em figuras ondulantes obsessivas em fortíssimo. A ária de tenor que comenta a libertação de Barrabás é outro grande momento numa obra que vale pelo seu todo.

Estes dois discos da Carus são descobertas a não perder. Sobretudo pela música e também por interpretações apaixonadas e cuidadas. Creio bem que o João Chambers no seu programa "Musica Aeterna" vai dedicar umas emissões a este Homilius... Os leitores interessados poderiam assim apreciar esta música nas tardes do"Música Aeterna".
A vida tem destas coisas, existem surpresas em cada esquina, este Homilius é uma descoberta inesperada para mim, uma descoberta maior.

Ein Lämmlein geht und trägt die Schuld
Neue Düsseldorfer Hofmusik
Direcção de Fritz Näf - Carus 83.262

Gottfried August Homilius
Johannespassion
Dresdner Barockorchester; Dresdner Kreuzchor
Direcção de Roderich Kreile - Carus 83.261


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17.9.07

Scolari e a selecção portuguesa 

Como é que a selecção portuguesa de futebol pode ganhar jogos se o seleccionador nem sequer um soco bem dado consegue dar? Não admira que os jogadores também não acertem nas balizas.

Ao menos que tivesse deitado um olho abaixo ou partido o nariz ao sérvio. Assim este país não se endireita.

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Justiça? 

Den Mörder Barrabas, den Bösewicht,
den gibt Pilatus los?
Barbar, bist du verblendet?
Kennst du als Richter keine Pflicht?
Wird die Gerechtigkeit so ungsdcheut geschändet?
Den Mörder sprachst du los? Den Bösewicht?
Und Jesus wird verdammt? Ein menchliches Gericht!

Gotfried Augustus Homilius 1714-1785 - Kreuzcantor de Dresden
Paixão segundo S. João, HoWV 1.4


Esta é a noção antiquada do que é a justiça por um homem do século XVIII.

Pilatos, libertas Barrabás em lugar de Jesus. Libertas o assassino, o malvado. Deixas o justo condenado? Bárbaro, estarás cego? Conheces o dever de um juiz? Terá a justiça de ser servida de forma tão vil? Deixas o assassino sair em liberdade? O malvado?

Fica a nota sobre Homilius, um compositor notável, reconhecido como o "maior compositor de música de igreja da Alemanha", sairam recentemente duas Paixões de Homilius, obras em estreia mundial em gravação. A etiqueta é a Carus. São obras a não perder.

Fica a indignação pela libertação dos assassinos, violadores, ladrões e vigaristas. Infelizmente os maiores bandidos, os verdadeiros bárbaros, os incompetentes, os venais, já estavam à solta. Foram os segundos que libertaram os primeiros: os desgraçados que sairam para voltar a matar, roubar e violar; provavelmente voltarão para dentro um destes dias depois de mais umas mortes, umas violações, uns assaltos à mão armada e umas burlas com as pensões das velhinhas. Os maiores bandidos continuarão soltos, são aqueles a quem é destinado julgar e não o fazem. Bárbaros, estarão cegos?

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14.9.07

Milagre! 

Chegou-me esta press release, o quadro que tanta tinta fez correr foi redescoberto. A colecção Berardo já serviu para alguma coisa...
Segue o texto da responsabilidade do CCB. Estaria num saguão?


REENCONTRADO O QUADRO ”CAMÕES” DE JÚLIO POMAR

Com a reorganização dos espaços das reservas do Centro Cultural de Belém, foi reencontrado o quadro de Júlio Pomar “CAMÕES”, acrílico s/ tela, 1988/89, SEC/CNDP. Esta obra de grande formato (1,95mx1,30m) foi dada como desaparecida em Setembro de 2003, quando a Presidência da República solicitou a sua cedência ao Ministério da Cultura, a fim de ser integrada numa exposição de Arte Portuguesa a inaugurar em Istambul. Sobre este novo facto já foi dado conhecimento ao Artista e à Policia Judiciária para encerramento do processo.

Gabinete de Imprensa

Centro Cultural de Belém

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Responsabilidade 

Fui ontem assistir a um concerto de uma jovem orquestra, a Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida por Pedro Carneiro.

Muitas orquestras começaram assim, uma reunião de jovens estudantes cheios de entusiasmo que desde muito cedo se reuniram para fazer música. Não conheço a orgânica da orquestra, nem o seu estatuto jurídico, mas a sua génese lembra-me a associação livre de jovens que produziu a Akademie für Alte Musik de Berlim. O Quarteto Lindsay é outro exemplo de excelência da reunião de jovens que depois prosseguiram carreiras de alto nível por longuíssimo tempo.

Tenho de dar os meus parabéns à nova orquestra, aos seus membros, ao CCB que deu esta oportunidade a estes músicos, cumprindo na plenitude o serviço público, produzindo cultura, dando condições a novos intérpretes, e servindo esse produto ao público em condições máximas de dignidade. Dou por fim ao autor da ideia, Pedro Carneiro, os parabéns, foi capaz de iniciar algo num país onde todos invejam e suspeitam dos que têm ideias e as concretizam. Bem haja ao Pedro Carneiro que fez aquilo que nem privados, nem Estado souberam fazer. Felizmente há gente que ainda acredita.

Era para mim um acto de responsabilidade assistir a este concerto. Os jovens merecem audiência, e merecem crítica. É o que farei neste espaço e posteriormente na rádio.

Será que se pode fazer crítica a uma orquestra de jovens, tal como se faz a uma formação já constituída e sedimentada pelo tempo e pela história?
Existem duas visões, a de que aos jovens tudo se deve perdoar, tudo deve servir para incentivar e, por outro lado, a visão estrita de que a partir do momento em que uma formação se apresenta em concerto público, cobrando bilhetes, num local prestigiado e a abrir uma temporada, após um excelente trabalho de divulgação e promoção, terá de ser submetida a um escrutínio rigoroso, ouvindo apenas o som como se tratasse de outra qualquer formação.

Creio que a primeira filosofia é absolutamente errada, tudo perdoar, tudo incentivar, é ser paternalista, é ser acéfalo, penso que essa visão pode contribuir para visões narcísicas de omnipotência que depois de confrontadas com a realidade nua e crua só levam à desilução e desmotivação. Não será a atitude certa e é prejudicial aos próprios jovens.

Por outro lado ser exegeta leva, por outro lado, à incapacidade de tolerar erros normais próprios de uma formação nova constituída por jovens a quem se negaram oportunidades anteriormente, cheios de entusiasmo e de dedicação, num país tão falho de iniciativa.

A responsabilidade do crítico é ser equilibrado e manter uma posição tolerante mas pedagógica. É nesse contexto que depois do concerto de ontem tenho algumas propostas críticas à orquestra.

Programa:
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
Abertura “Der Schauspieldirektor“, KV 486

Franz Schubert (1797-1828)
Sinfonia n.º 6 em Dó Maior, D 589
I. Adagio - Allegro
II. Andante
III. Scherzo (Presto)
IV. Allegro Moderato

Igor Stravinski (1882-1971): “Pulcinella”, Suite de Ballet
I. Sinfonia (Abertura)
II. Serenata
III. Scherzino - Allegro - Andantino
IV. Tarantella
V. Toccata
VI. Gavotta con due Variazioni
VII. Vivo
VIII. Minuetto
IX. Finale

Gostei da abertura do "empresário" de Mozart. Estilisticamente gostaria de menos vibrato nos violinos e de mais peso nos graves, mas a interpretação cheia de entusiasmo e de musicalidade compensou largamente alguns erros de detalhe (notas erradas, pequenas desafinações, entradas disjuntas). Notou-se um trabalho muito rigoroso na construção do movimento, no gesto da arcada, penso que o contrabaixista da Gulbenkian Erlich Oliva terá tido aqui um papel importante como ensaiador das cordas. Foi um aspecto bem cuidado mas que terá de ser consolidado no futuro.

O programa foi exigente, a sinfonia no. 6 de Schubert foi escrita contra o estilo do compositor e claramente inspirada em Rossini. Contém em si detalhes muito complexos de execução de conjunto. A obra é desigual. Creio que faltou dar a esta obra uma visão de conjunto (que requere uma leitura musical muito profunda apesar da sua aparente simplicidade) e, sobretudo, notou-se falta de convicção no último andamento, demasiado arrastado, o moderado do allegro final, foi mais arrastado do que moderato. Allegro moderato não significa andante ou mesmo allegretto, significa que não se deve exagerar na velocidade do Allegro. Ao tocar de forma arrastada e empastelada este andamento Pedro Carneiro perdeu, no meu entender, a substância orgânica da sinfonia. Erros menores em entradas no Scherzo não retiraram brilho a estas páginas cheia de vigor, no entanto o trio pecou por demasiado constratante em termos de tempo, ganharia brilho e cor se fosse tocado apenas um pouco mais lento do que o início do scherzo. Faltou, no meu entender, uma visão de conjunto.
Pedro Carneiro como maestro esteve tecnicamente em cima do assunto, demonstrou que conhecia as partituras, provou ser músico.
Creio que ainda lhe falta técnica de direcção e isso foi óbvio na utilização do braço esquerdo, demasiado parado e contraído nas instruções que dava.
Apreciei de forma muito significativa a sonoridade expressiva do primeiro clarinete e o entusiasmo dos músicos, concentrados e profissionais.

A suite de Stravinsky é muito delicada no balanço orquestral, aqui a nova OCP esteve de novo, e numa apreciação global, bem. Os solos foram executados com técnica e poesia, destaco: violoncelo, viola, violino, flauta, oboé, fagote, trombone, contrabaixo de cordas, trompete. As trompas podem ainda crescer, o instrumento é de grande dificuldade e creio que tanto em termos de sonoridade como em termos técnicos subirão de forma com o tempo.
A suite é uma obra mais complexa e delicada no jogo orquestral do que a sinfonia de Schubert, mas acaba por ser mais simples de interpretar na sua sequência de quadros de dança que exigem sobretudo sentido de humor, capacidade de tocar em conjunto e alguma expressividade. Apenas no minuetto notei algum arrastamento excessivo. A sonoridade da orquestra é coerente e nota-se um profundo trabalho de ensaio. Pedro Carneiro esteve mais à vontade como director, deu entradas na medida certa, marcou o ritmo de forma rigorosa mas continuei a notar uma certa tendência para deixar amolecer a obra. A suite de bailado Pulcinella necessita de muita incisão e de propulsão, foi neste ponto que este concerto me deixa mais insatisfeito.

O balanço é francamente bom, mas antes de Pedro Carneiro querer dirigir muitas mais vezes "a sua" orquestra, seria extremamente produtivo, pois o material de base é muito sensível a ideias novas e capaz de uma progressão muito rápida, convidar alguns directores de alto nível internacional para moldar o som da orquestra, para trabalhar com os jovens músicos como se cada concerto fosse uma nova etapa de progressão e de evolução em direcção à excelência, isto será também extremamente útil para Pedro Carneiro, pois poderá ter oportunidade de trabalhar com maestros de alto nível. Não me parece particularmente útil para estes jovens terem sempre à sua frente um jovem e inexperiente maestro, mesmo tendo em conta a sua musicalidade inata. É evidente que seguir uma política deste tipo acarreta custos de investimento que não serão exagerados tendo em conta os possíveis benefícios.

Pedro Carneiro por outro lado deve optar claramente pela via que quer seguir: ser um solista de alto nível na percussão ou ser um director de orquestra a tempo inteiro. Penso que tem qualidades para ambas as coisas e já demonstrou ser um persussionista de qualidade, mas é acima de tudo um bom músico e isso é o fundamental, mas é bom fazer as coisas com os pés bem assentes. Como maestro tem ainda um longo caminho a percorrer e não me convenceu ainda da sua maturidade neste domínio.

Desejo um longo futuro a esta orquestra e ao seu director, algo que me parece bem possível.

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Um pequeno país, gente pequena 

Luís Amado não recebe o Dalai Lama por razões "conhecidas de todos" e "óbvias". O professor Cavaco não tem agenda, o primeiro ministro Sr. José Sousa alinha nas razões óbvias e bem conhecidas do ministro dos estrangeiros português, anda entretido a distribuir portáteis nas escolas. Portáteis que hoje em dia são como os fontanários do velho Américo Tomás. Talvez assim os jovens portugueses não tenham de ir para universidades da treta e tenham uma real e efectiva qualificação, isto se os portáteis oferecidos por marcas de operadores móveis e exibidas pelos governantes como se modernos vendedores de banha da cobra, engravatados e excessivamente bem pagos, não forem usados para jogar e ver pornografia na internet. Talvez assim os jovens não tenham de andar a mentir sobre as suas habilitações profissionais para conseguir progredir numa qualquer carreira política acabando como ministro e ao mesmo tempo como delegado de promoções de uma qualquer operadora móvel. Os portáteis talvez contribuam para uma efectiva qualificação e mesmo que os jovens não vão para uma universidade podem sempre ter uma vida digna sem terem vergonha do que fazem e das habilitações que nem todos podem ter. Os portáteis são fáceis de dar mas o que parece ser muito mais difícil, e seria muito mais barato, é dar bons exemplos.

Na Assembleia da República é Gama que recebe Tenzin Gyatso "como Dalai Lama Líder Espiritual" e não como o prémio Nobel da paz e líder de um país esmagado pela bota chinesa, único porta voz de um povo contra a força bruta da ignomínia e da tirania chinesa.

A cobardia tem muitas formas de se esconder e utiliza vários nomes "óbvios" como desculpa.

Infelizmente este pequeno país já não tem a grandeza de outrora o que lhe dita complexos de inferioridade, tantas vezes disfarçados sob a capa de arrogância e tiques de autoritarismo dos seres ínfimos que nos governam.

Mas Portugal foi sempre um pequeno país com poucos habitantes. A sua grandeza passada resultou apenas da força dos portugueses de então, da sua coragem, da sua determinação em vencer os obstáculos, da tremenda resolução face à adversidade, da força para combater inimigos imensamente poderosos. Granjeámos respeito dos impérios, entre os quais do chinês. Mas isso foi em tempos, hoje os nossos governantes estão de cócoras, o país está de cócoras. Parece que os únicos que ainda resistem são um punhado de jogadores de rugby que chora convulsivamente ao som de um hino republicano que, diga-se en passant, representa o passo final da nossa decadência como país. Choram e pouco mais fazem, mas pelo menos vão a jogo.

Hoje, que restam apenas memórias das glórias passadas, a única forma de nos fazermos respeitar é pela força da nossa dignidade, é pela verticalidade da nossa fibra. Aqui não há meio termo, não há "meio cobardes" tal como não há gente "muito honesta". Ou se tem fibra ou não, ou se é honesto ou não, não há cinzentos. O que não precisamos é de mais cobardes e de mais aldrabões, basta! Podemos perder uns tostões mas perder a honra fica muito mais caro.

Há realmente "razões conhecidas de todos" são "as óbvias" e bem conhecidas razões da cobardia.

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4.9.07

Férias 

Leitores: as minhas férias estão a terminar, no próximo dia 12 de Setembro recomeçarei a escrever neste blogue. Prometo todos os dias uma crónica sobre tudo e nada.

Mário Vieira de Carvalho, o senhor hermenêutica pode deixar de dormir descansado, ele e os do costume...

Prometo uma crónica sobre Eduardo do Prado Coelho, sobre Dalila Rodrigues e sobre o resto. Podcasts de dois minutos serão adicionados todas as semanas.

Voltam também as críticas e uma resenha de alguns concertos a que assisti nos Proms de Londres, em Itália e em Portugal entre conferências, chuva e inundações em Oxford e banhos mais agradáveis...

Mando daqui da borda da piscina um abraço a todos os leitores, o tempo está excelente em Portugal e a piscina a 30 graus. Até para a semana.

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