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29.6.07

S. Carlos 

É preciso ser claro e curto sobre esta temporada, mais tarde vou escrever com mais detalhe.

O S. Carlos afasta-se da sua verdadeira missão procurando programar concertos de câmara, concertos de coro, concertos disto e daquilo, número de espectáculos a subir 27%. Aquilo que é apresentado pela Opart como um grande ganho de actividade e que é apenas ter quatro ópera encenadas para o grande público, uma ópera em estreia para o pequeno público, uma sessão de ópera em versão de concerto, que já no tempo de Pinamonti era uma falácia para meter na temporada lírica e que continua agora, e uma ópera para as crianças.

O Siegfried vai para Outubro ou Novembro, por razões de agenda de cantores e encenador e sai desta temporada.

É necessário dizer que o aumento de actividade anunciado com pompa e circunstância pela Opart e pelo secretário de Estado resulta da diminuição do número de verdadeiras produções operáticas de qualidade, cinco encenações de peso é um número vergonhoso para qualquer capital europeia, é pobre é miserável, apesar dos agentes infiltrados no jornal "O Público" que contam sete, sete, senhores, encenações! Julgava que para dar a volta aos números bastava o secretário de Estado a dizer na conferência de imprensa que Pinamonti tinha "40 récitas e que agora havia 50 récitas, logo um aumento de 10"! Contando bem Pinamonti tinha 43 e agora há 42, e se contarmos a encenação barata para as crianças com cantores de quinta categoria temos 48, logo ou há uma diminuição de uma ópera ou um aumento de cinco, algo que nada tem a ver com as "cinquenta récitas de agora" e as "dez a mais" anunciadas antes. Parecia ser uma questão de hermenêutica, como assinalei a sua Excia na conferência de Imprensa, o que causou uma surpreendente gargalhada na sala e uma resposta balbuciante de que as estatísticas contavam pouco, quando antes tinham sido invocadas pelo próprio Sr. secretário de Estado. Mais detalhes nos artigos que escreverei nas várias revistas onde colaboro.

Uma encenação, muito por baixo, custa 600.000 euros e dá para fazer uns 500 concertos de câmara com artistas portugueses e de qualidade internacional reduzida, se forem duetos a cinquenta contos cada músico dá para 1200 concertos, que aumento de produtividade! É necessário dizer que há muitos anos que a temporada não contava um número tão baixo de encenações. Mas será que alguém quer no S. Carlos uma Gulbenkian de terceira, uma Metropolina de segunda, um CCB de segunda. Não será que o público quer é um teatro de ópera? Creio que com este número de encenações deveríamos ter uns duzentos concertos de câmara a mais, uns cinquenta concertos de orquestra sinfónica e uns coros. Já que se cortou tanto na produção poder-se-ia ter muitíssimo mais lied, o que está dentro da linha de um teatro operático, mas nem sequer esse vertente foi muito reforçada, com cinco encenações sobraria dinheiro para uns 120 recitais de lied com cantores razoáveis a nível internacional e um ou dois com cantores de altíssimo nível. Além disso acho péssima a ideia de fazer concertos de coro, expor as vergonhas públicas do S. Carlos é mau, se o coro fosse de qualidade a ideia era boa, assim será apenas mais um fracasso, deve-se apostar na qualidade e não na mediocridade. Deixo de barato a ideia de fazer espectáculos com ranchos folclóricos, isso sim, seria um aumento de produtividade notável! Diversificar e fazer tudo menos ópera.

Um pouco mais a sério: quatro óperas encenadas para o grande público, ópera popular, pouco profunda, numa visão esteticamente enviezada, sem ópera alemã, sem opera barroca: de Offenbach os Contos de Hoffmann, de Verdi o Rigoletto com 11 récitas(!!), de Puccini a Tosca (também com 11 récitas) e de Mozart a Clemência de Tito que, francamente, não é sequer uma das melhores produções do grande Mozart, e para o pequeno público de Emanuel Nunes vem Der Märchen, uma carta fechada e, pelo que já se escutou, intragável e, provavelmente, um desastre financeiro.

Cantores de segunda, jovens, e muitos portugueses, é evidente que, com três produções novas se podem ter encenadores razoáveis, mas mesmo assim a aposta é também em alguma juventude e os directores musicais são também de qualidade muito mediana. Entretanto a temporada é apresentada de forma truncadíssima em termos de cantores que ainda nem sequer devem ter sido contratados.

Boas notícias: a Opart permite programação plurianual, o presidente do conselho da Opart parece competente e com os números que tem conseguiu passar uma imagem de grande produtividade e realização que deixou os jornalistas presentes calados, mas só o tempo dirá se este modelo resulta. Esta actividade toda é apenas uma cosmética que resulta da redução da produção operática, podia ser pior.

Infelizmente a parte artística não me parece grande coisa, culpa de Damann em part time entre Colónia e Lisboa até Setembro de 2008, o que no meu entender é mais um escândalo e um desperdício de dinheiros públicos. Talvez Damann consiga com mais tempo fazer melhor, mas a primeira impressão de análise no papel e não na conversa tida com o alemão, é que esta temporada é um triunfo das teses do Sr. Hermenêutica: ópera barata e popular, cantores portugueses, e muitas récitas da Tosca e do Rigoletto que é disso que o povo gosta.

Agora uma nota final: Com a Opart e Vieira de Carvalho a intervir directamente temos a ópera ainda mais cara do mundo! Quinze milhoes e meio de euros a dividir por cinco encenações são: mais de cinco milhões de euros por ópera! Um milhão de contos por produção! Notável, dava para fechar a Opart e mandar vir as produções do Convent Garden em tournée, provavelmente daria para 10 produções e poupava-se uma data de dinheiro em ordenados...

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28.6.07

São Carlos 

O S. Carlos apresenta hoje a nova temporada, o folclore do costume. Fica para logo uma súmula semi-crítica do que se avizinha.

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Mais Ota 

Alguém duvida que, apesar da excelente solução de Alcochete, a Ota vai ser a escolha?
É que mil e quinhentos milhões de euros a mais, contas por alto, para o lobby do betão dão para mais de vinte anos de financiamentos em luvas e luvinhas. Isto é política à séria, não é para meninos!
Acha o leitor que o interesse nacional pesa alguma coisa nas decisões dos políticos?
Outra coisa muito simples é esta: qual a pressa de andar a decidir fazer uma aeroporto agora quando a Portela satura, se saturar, em 2017. Um aeroporto em Alcochete leva dois anos a fazer. Um aeroporto é constituído, basicamente, por uma grande barraca e umas pistas. Qual a razão da pressa destes senhores? O leitor já se interrogou?

No tempo do Marquês de Pombal, o serviço público era encarado como uma forma natural de enriquecimento, era assim mesmo, sem qualquer pejo, mas havia mais tempo para enriquecer, décadas, hoje as legislaturas são mais curtas, tudo é efémero.
Viva Portugal.

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Finalmente uma lei que defende o charuto! 

Não gosto de cigarros, o cheiro incomoda, o fumador de cigarro é um vicioso que fuma em todo o lado, um desgraçado, um agarrado que se deprime nos aviões, que faz atrasar os amigos em grandes viagens porque vai para aqueles cubículos dos aeroportos como quem tem uma irresistível vontade de ir à casa de banho. Desprezo a falta de vontade do fumador de cigarro, desprezo a sua fraqueza, desprezo o seu desrespeito sistemático pelos outros, por velhos crianças e doentes, sempre que puxa de um cigarro ao balcão e expele dos resquícios gasosos dos seus vícios doentios.
Já o fumador de charuto, por sinal eu, fuma por verdadeiro prazer, tem cuidado de manhã nos locais onde toma o pequeno almoço, não fuma em locais apertados, tem cuidado em não incomodar o próximo, é uma espécie de cruzador entre os fumadores, podendo fumar por longas horas um charuto que atravessa diversas fases aromáticas. Eu, como fumador de charuto tenho de agradecer aos hipócritas dos deputados, aos lobbies dos fumadores de cigarros, à habitual forma de ser troca-tintas portuguesas que finge fazer leis para proteger o próximo quando de facto está apenas a proteger o direito dos fumadores ao seu charuto.
Antes desta lei sentia-me constrangido ao fumar o meu charuto num restaurante, num café pequenino onde crianças e velhotes tentavam beber o seu leitinho em paz. Agora, daqui a seis meses sei que em todos os pequenos restaurantes e cafés, a maioria e os melhores, posso certificado e legalmente puxar do meu Churchill ou do meu Lancero sem que ninguém chateie, e se o fizer leva com uma baforada em cima. Vou andar com uma cópia da lei na carteira para alegremente mostrar a quem me quiser impedir o direito de fumar uma charutada onde me der na real gana, apesar de pequenas minudências como asmáticos, fumadores de cigarros, que por uma razão estranha me olham com ar bovino e incomodado quando puxo do charuto no restaurante onde começaram antes a fumar cigarros, velhinhos e criancinhas de colo. É para saberem o que é bom!
Num local maior, uma nave para bebedores de cerveja por exemplo, sítios que raramente frequento, tenho também o meu "direito reconhecido ao charuto", este país é lindo.
Por uma vez gosto dos deputados deste país, posso dizer alegremente:
- Viva Portugal, Viva.

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27.6.07

Exmo. Sr. Comendador 

Convidei-vos ontem para um jantar. Escrevi-vos ontem uma carta para jantar anteontem. Vós, na vossa ambiguidade majestática de pedra granítica, ou será marmórea, bem não interessa agora, numa voz de pedra vinda do inferno dissesteis que irias, indiferente à causalidade temporal que não afecta os mortos ou, dito de outra forma, não atinge os espectros errantes que vagueam nas trevas. Foi um convite para jantar, uma cena calma, um simples convite para jantar. De vil enganador para uma seráfica estátua, representação de uma forma inexistente, agora que está morto o modelo, imagem imperfeita, como a de todas as estátuas, que molda a representação do espírito. Comendador maroto que te deixaste matar, matando-me a mim. Esperei-te ao jantar, a carne era fraca mas a música era boa, música de harmonia para jantar, música nas despesas do jardim, como compete a casa que se preze. Senhor comendador, que dor me fazeis ao ver que uma estátua fria não come a carne dos meus pecados, pecados que, para os quais, me estou nas tintas. Escrevi-te, amigo comendador, foi ontem, não me lembro bem, eu que também confundo os dias nesta névoa de perdição em que me lançaste. Vejo-me obrigado a convidar-te para jantar todas as semanas, iludo o tempo como posso, mas o tempo não passa aqui como quando éramos vivos. Hoje também me fizeram estátua, caro comendador. Nós os dois deixámos a carne e passámos à pedra das estátuas, umas marmóreas, outras de notas, outros de cidades, outros, ainda, de fogo. Gostava de ter uma estátua de água, não de gelo, mas de água pura e cristalina, fria água mas bem líquida, amigo comendador que me mataste. Comendador a quem espetei um ferro frio naquela noite noite de carne e sangue. Pode um homem sentir mais do que carne e sangue? Agora feito pedra, tu e eu, estamos aqui a fazer convites para jantares aos quais não poderemos comparecer. Impotentes espectros sem forma, é ao ar de que somos feitos, aos ares noturnos em que vogamos, que regressamos, ainda e sempre, como no soneto de Antero.

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26.6.07

Mega já tinha carta 

Reproduzo aqui a carta de Mega Ferreira a Joe Berardo:


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Berardo descasca Mega 

Hoje na Antena 1 Berardo, esse misto de bronco novo rico e chico esperto português, que já perdeu a vergonha de falar em público e que anda saído da casca desde que percebeu que em terra de cegos quem tem um olho é rei, ataca fortemente Mega Ferreira e diz que este "não fez nada pelo museu", "não fez nada por estar aqui" e se "dependesse dele nada disto tinha sido feito", "vou pedir a saída de Mega Ferreira de presidente do conselho de fundadores".
Ainda não ouvi a resposta de Mega, esse português culto a quem gosta que se preste culto, um português que renegou o bigode e se rendeu às coisas boas da vida, que, tal como eu, deve desprezar profundamente o bronco madeirense que arrota notas. Parece que está prometida a resposta.

O que é certo é que a colecção é boa, que o Berardo apesar das críticas é esperto embora tenha seu quê de chico, e que o governo será altamente irresponsável se não comprar a coisa a preços de hoje.

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25.6.07

A Felicidade 

A felicidade, perguntam-me o segredo da felicidade, parece que ando sempre bem disposto dizem. Outros acham sempre o contrário, dizem que sou exigente, talvez excessivamente.
A felicidade, pelo menos a minha, está em não esperar demais dos outros, quando espero pouco apenas poderei ter surpresas agradáveis. Conhecer implica infelicidade, dizem, desde pequeno prefiro a felicidade do conhecimento mesmo quando acompanhada das tristezas da desilusão. Escrevo sobre tudo, tudo o que me interessa, pelo menos sobre tudo o que me interessa escrever, não tenho agenda, e quando tenho perco-a, não tenho fio condutor, morrerei um dia, a vida vai empurrando a minha existência ao longo de um caminho cheio de encontros com outras moléculas que me arrastam num movimento browniano que me deixa à vezes errático. Não tenho destino, quem o tem? Não nasci para cumprir nenhum devir especial, sou mais uma molécula neste caldo humano de pessimismo, não me interessa mudar o mundo. Então porque escrevo aqui neste espaço onde me dispo, cada vez o menos possível, onde exibo esta existência tão sem sentido como outra qualquer? Ânsia de eternidade? Divagação onírica? Percurso transversal? Vontade de poder? Delírio narcísico? Ânsia de comunicar? Como assim se não alimento comentários, se não respondo à maioria dos emails que me enviam e muitos nem sequer abro. Vontade de poder? Como então se muitas vezes, sem destino ou agenda, escrevo o que me dá na gana, sem medir perdas ou ganhos numa qualquer campanha em busca de mais, um mais que não sei definir mas que parece animar os meus semelhantes numa ânsia de mais e mais, de mais coisas, casas, carros e barcos, mais poder, mais dinheiro, procurando cada vez mais coisas, cada vez mais insensível ao abismo profundo, qual Moskstraumen que nos devora, um abismo que vai devorando a âmago da nossas existência, devorando como um cancro as entranhas da nossa alma até cair no mais profundo vazio que só resolve com a morte.
Volto à música, essa sim, a mais efémera das artes, a arte da suspensão do tempo na memória do instante e no entanto a mais eterna das artes. A libertação como diria Schoppenhauer.


Referendo ao tratado europeu 

Totalmente contra, o povo português já demonstrou que não tem sentido das responsabilidades quando foi chamado a votar coisas tão importantes como a liberalização do aborto onde nem sequer se atingiram os 50% de votantes.
É um bom povo este, um bom e atrasado povo. Gosto deste bom povo português, atrofiado, egoísta e estúpido. Referendo ao tratado europeu? O que é isso? Não mexe na minha carteira? Não mexe no meu e dos meus filhos? Estou-me nas tintas. Os políticos, esses bandalhos espertalhões, era tão bom ter um tacho como o deles, mas como não tenho digo mal deles, que decidam por mim, sou um bom português, incapaz para quase tudo a não ser para a inveja, o egoísmo e a velhacaria. Não sou igual aos outros? Não, claro que não? sou o maior, o mais esperto, sou do Benfica, ou do Porto que é a mesma coisa, os maiores clubes do mundo, mas por sinal sou também o mais estúpido e ignorante do mundo, sou um bom português: os outros que votem por mim... E este parágrafo está demasiadamente bem escrito, devia ter dado uns erros hortográficos como qualquer português que se preze. Viva Portugal.

P.S. A propósito ou a despropósito leia-se.

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23.6.07

Podcasts novos 

Não são bem podcasts no sentido habitual, antes deste último uma interessantíssima entrevista de Marco Mencoboni feita em finais de 2005 pela rádio italiana. Para ouvir no link aqui na coluna da direita. Para quem consegue compreender o italiano, penso que quase todos os portugueses, a entrevista de Mencoboni é excelente, pode-se seleccionar clicando em "Posts" no link do Gcast na coluna da direita link do Gcast.
O podcast 9 é música de um um compositor misterioso, dou um doce a quem descobrir o autor desta música fortíssima e cheia de vida. Uma interpretação de uma grande força e vitalidade, repare-se na realização do baixo contínuo, simplesmente inspirada. A gravação tem mais de dez anos.
Descubra o leitor o compositor. Ofereço um CD de Chapentier (nada tem a ver com o compositor) ao leitor que primeiro descobrir.


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22.6.07

Mega Programador 


A programação do CCB tem sido muito melhor. Deve ser reconhecido esse mérito a António Taurino Mega Ferreira.

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19.6.07

Ernest Ansermet 

Lembrei-me de mais um músico que atravessou o século vinte na frente de onda do Tempo. Um suiço que estudou matemática e física, foi professor de matemática, mais tarde dedicou-se à composição. Fundou orquestras, foi um dos importantes maestros do século vinte. Estreou obras dos maiores compositores de todos os tempos, como Ravel e Stravinsky. Fundou sociedades de música contemporânea. Conheceu Francisco de Lacerda e estudou com o mesmo em Paris. Nasceu em 1883 e faleceu em 1969.
Fica aqui o retrato.




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Ota e Alcochete II - O aldrabão 

António Costa anda a prometer um pulmão verde para o espaço a deixar vago pela Portela.

Entretanto leio em todos os estudos e argumentos contra Portela+1, Alcochete faseado + Portela, Portela + Montijo, mas sempre favoráveis à Ota, que seria impossível manter a Portela porque uma das partes atractivas do negócio são os terrenos a privatizar e urbanizar na Portela. Os estudo não o dizem assim directamente, usam palavras do género, "a viabilidade do novo aeroporto passa pela rentabilização dos terrenos que ficarão disponíveis, e blá, blá blá".

Costa sabe que a promessa que anda a fazer não pode ser cumprida, é impossível o novo aeroporto, diz o governo e dizem os que andam atrás destes negócios, sem a "rentabilização" dos terrenos da Portela. Quem promete sabendo que não pode cumprir, nem tem intenção de o fazer, é um aldrabão.

Em política à portuguesa pode-se ser descaradamente aldrabão, uma promessa é apenas mais uma palavra vã, algo que se esquece, algo que se diz numa campanha e não tem valor, "algo que se alterará com o avaliar de novas circunstâncias que não se conheciam". Um bom político português sabe perfeitamente que existem sempre circunstâncias que se vão alterar e que pode prometer o que quiser que depois não é necessário cumprir. Até quando?
E Costa diz a coisa candidamente, perante jornalistas e opinião pública, sem ninguém lhe dizer que o que está a dizer é uma aldrabice que contraria tudo o que o PS e o governo andaram a prometer e a fazer nos últimos dois anos com a tal tentativa de lavagem ao cérebro da Ota.

Já agora, a quem interessa a Ota? Ao lobby do betão, são pelo menos 300 milhões de contos a mais para o lobby do betão relativamente a Alcochete. Só em movimentos de terras e obras de preparação de terrenos. São mais umas larguíssimas centenas de milhões de contos, contos digo eu, em negócios imobiliários nas centenas de hectares a ficarem devolutos na Portela. São 125 milhões de contos em ajudas comunitárias que se deixam de receber.
Já agora, quem são os maior financiadores dos partidos do centrão? A nível central e através dos autarcas... Eu não acredito que o governo mude na questão da Ota precisamente por causa do lobby do betão. E o discurso de Costa é perfeitamente enquadrável dentro do espírito da coisa, umas aldrabices para empatar, uns estudos sobre Alcochete para deixar o caminho livre ao senhor ex-ministro de José Sócrates.

No fundo uma enorme monobra para limpar mais uns 300 milhões de contos dos bolsos dos portugueses em negócios tipo siciliano. E quando falo de limpar aos bolsos dos portugueses, é literal, porque mesmo que seja a iniciativa privada a pagar, serão sempre os portugueses os destinatários últimos da factura.

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17.6.07

Petição 

Título da petição: Pelo regresso da tranquilidade ao meu email!


Peço a todos os meus amigos, colegas, conhecidos e outros, que deixem de me enviar para qualquer dos meus emails: pessoal, do blog e profissional, ou por sms, mais convites para assinar a petição do regresso do Ritornello à Antena 2 e coisas sobre o Sr. Jorge Rodrigues. Basta dizer que o próprio Almerindo Marques, assinatura 278 da referida petição, já assinou! O regresso deve estar para breve. O meu nome não faz lá falta e já recebi mais emails do que as assinaturas actuais da referida petição.

A primeira petição pedia ao ministro que interferisse numa rádio, parece que o Hugo Chavez não pegou no assunto, da segunda vez nem li o texto, mas parece que é do Aristides de Sousa Mendes, que eu já julgava morto, mas que felizmente ainda se dá a estes trabalhos.

O abaixo assinado pede, roga em genuflexão sentida, a todos os referidos que evitem o gestinho de enviar emails e mensagens ao Henrique ou ao crítico, ou para qualquer sítio onde eu possa ser incomodado sobre o Ritornello. Aristides, desculpa lá o mau jeito, mas vai lá chatear o Camões.
Agradeço de chapéu na mão

Henrique Silveira

P.S. É instrutivo ver as assinaturas e o encanto dos gozões: assinatura 290, Judas Barrabás d'Oliveira Filho, que tragédia que o pai deste rapaz deu de presente ao filho! Isto tem substância filosófica. Este é um nome que merecia estar nos donativos do CDS-PP a par do Jacinto, do Montanelas, do Albert von Weiss Füder e outros...

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16.6.07

Thielemann dirige Brahms e Beethoven 

Um disco com a primeira sinfonia de Brahms e a abertura Egmont de Beethoven, toca a Filarmónica de Munique.
Logo a abrir o peso paquidérmico de um Brahms empastelado e ultra-romântico, um andante cheio de rubatto piroso e massa no cordame, lentíssimo. O gracioso do Allegretto esbarra nas âncoras de pizzicati carregados nos graves e no excesso de velocidade que transforma a graça numa correria desenfreada sem tempo para respiração, a entrada do último andamento é um desenrolar de clichês sem imaginação nem estrutura, sempre com a sonoridade pesada das cordas e com esforçandos pesadíssimos, o resto é uma massa informe.
O Egmont ainda é pior, lentíssimo, sem alma nem chama, de uma pretensão sem limites, com um som de estarrecer e um vibrato dos violinos que já nem se percebe se não é sempre feito em sforzando; uma interpretação kitch do pior que já ouvi. Escapa um pouco a parte subsequente à morte de Egmont, que tem um pouco mais de força, mas que mantém os erros já mencionados.

Uma interpretação pesada, espessa, carregada do vibrato. Como é possível que uma orquestra tão boa, ao ser dirigida por uma batuta tão pesada e estúpida consiga tocar de forma tão arrastada e datada?
Thielemann tenta contrariar a tendência da direcção que ele considera "light" de Rattle, que o alemão gostaria de substituir como director da Berliner. Esta direcção, à procura de um som alemão que não existe, não é inteligente, é uma reacção, é um exagero, uma caricatura de Karajan.
Basta ler Wagner, no seu pequeno texto sobre direcção de orquestra, para perceber quanto Thielemann está errado. No tempo em que Wagner dirigia Beethoven ainda se tocava com trompas naturais e cordas de tripa. É uma erro dizer que Thielemann dirige como se dirigisse Wagner. Wagner reclama vivamente, no seu livro, contra interpretações arrastadas, pomposas, sem força interior, lentas, sem vivacidade e energia, absurdamente pesadas nos andamentos lentos. A forma como se tolera o Wagner mal tocado de hoje, e se acha que "tocar à Wagner" é a porcaria que Thielemann faz neste Beethoven e Brahms, está a anos luz (melhor dizendo: séculos) do que o próprio pretendia para a sua música, é uma afirmação grosseira e carregada de preconceito, é irresponsável porque labora num erro e leva o leitor a manter esse erro no seu inconsciente. Existem (literalmente) milhares de anotações do próprio Wagner, nas instruções de ensaio da Tetralogia, para não parar, não arrastar, levar a música para a frente, ser leve, não sobrecarregar. No caso wagneriano, como em muitos outros, existem dois tipos de interpretações: as inspiradas e que vivem a música e as outras. Neste disco Thielemann está na segunda divisão.

Um disco que não vale a pena dissecar, estudar, detalhar mais, aliás Thielemann também não o faz, o som espesso é a sua meta, o peso e a pomposidade sonora são o resultado. Horrendo.

Recomendo que não se compre este disco. Bola preta. O melómano com interesse neste tipo de interpretações deve recorrer a Karajan, um celebrante muitíssimo mais inspirado do que este ressabiado Thielemann.


Um disco da multinacional Universal Music, o label é o aviltado Deutsche G


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13.6.07

Ota e Alcochete I 

Estava a dar aulas quando o professor Brotas passou pelo meu gabinete, não assinei o abaixo assinado dos professores do Técnico contra a Ota. Tive pena. Conheço muito bem a região, gosto de passear em Montejunto e no concelho de Alenquer no meu Land Rover Série 1, pelas estradas rurais e caminhos florestais, a precisa localização do aeroporto já mereceu diversos passeios do núcleo Oeste do clube Land Rover e passo os fins de semana, períodos de férias e de escrita muito perto. Um aeroporto na Ota ser-me-ia extremamente vantajoso em termos de valorização de terrenos. Por curiosidade tenho lido todos os relatórios sobre a Ota, li com muita atenção este, este e este. No meu raciocínio pesam:



1. Excessivos custos de terraplanagem.
2. Presença de Montejunto e de obstáculos orográficos imediatos, que comprometem as rotas de aproximação quando os ventos são de oeste.
3. Excessiva nebulosidade matinal na zona do aeroporto que se situa numa zona encravada entre montes.
4. Zona de desenvolvimento muito limitada por orografia, cursos de água e construção humana. O espaço da Ota é de facto um pequeno bidé.
5. Impossibilidade de construção de pistas em todas as direcções, impossibilidade de utilização de várias pistas ao mesmo tempo.
6. Limite de utilização de 70 voos por hora.

É evidente que acessibilidades, ecologia e outros factores são importantes, mas estes problemas invalidariam, para mim, logo à partida a construção de um aeroporto como pólo de desenvolvimento estratégico ou mesmo de acesso ao país. Dizer o contrário é irresponsável, creio que é mesmo criminoso atendendo às despesas que uma construção que tem disponível o dobro da área da Portela e nenhum espaço disponível de expansão.
Não tem espaço para plataformas logísticas, não tem espaço para a criação de uma zona de manutenção de aviões que seja competitiva a nível mundial, não será um aeroporto de grandes escalas, entre América e continente europeu, numa altura em que Frankfurt sofre tantos problemas e muitos dos grandes aeroportos europeus estão a saturar. Seria um aeroporto que não valeria o investimento, um elefante branco do tamanho de um bidé, com um número muito pequeno de slots. Um aeroporto demasiadamente grande para Portugal e muito pequeno no panorama mundial e a um custo desproporcionado. Custaria o mesmo que construir um aeroporto de grande escala para 200 voos diários e nunca conseguiria passaar dos 70! Inacreditável.

(Continua)



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Óscar 

Albânia, abençoada e histórica terra de ladrões, George W. Bush resolve ter o seu banho de multidão, um dos poucos a que teve direito na sua carreira de presidente dos Estados unidos, logo na Albânia.
No passeio, cerca do segundo 50 deste vídeo alguém rouba descaradamente o timex presidencial! Vêm-se claramente as "mãozinhas" suaves do rapinante, quem dera o Lang Lang ter umas mãozinhas assim.
Que troféu para um colecção, poderia figurar até num museu da ladroagem a construir em Tirana. Albânia terra onde até o relógio do presidente americano é roubado, que slogan turístico.
Genial, o ladrão merece um Óscar da Ladroagem.


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12.6.07

Aquilino no Panteão? 

Os mortos enterrados no Panteão são os exemplos de vivos que o regime quer dar.

Como o regime está desvalorizado o Panteão fica desvalorizado: depois das raves do Harry Potter em que o Panteão foi "alugado" por 500 euros a uma editora, depois da Amália Rodrigues estar lá, depois do pateta e incompetente do Manuel de Arriaga estar lá, este último com direito a discurso do Sampaio em que diziam as alarvidades do costume sobre o "grande lutador de liberdade", o que é que um grande escritor como o Aquilino faz lá? Esta seria a pergunta simples, ele há tanto escritor igual ou melhor que o Aquilino, porquê este senhor e não outro qualquer?

Creio que Aquilino faz lá pouco. Ele faz pouco e estão a fazer pouco daqueles que têm memória. A companhia não é grande coisa: o Guerra Junqueiro, o Garrett e o João de Deus escapam à mediocridade geral, mas também não são grandes figuras universais.
Aquilino foi de facto um grande escritor apesar dos constantes regionalismos que fazem dele um escritor pouco capaz de ultrapassar as fronteiras portuguesas. Mas a questão não é essa: Aquilino como cidadão não foi exemplar. Organizou, a par de muita outra gente, um regicídio organizado pela carbonária, instruída pela maçonaria e pago por traidores monárquicos, descontentes com a questão dos tabacos e fósforos.
O regicídio foi um crime hediondo, não foi um acto revolucionário, foi um assassinato na praça pública de dois homens, um Rei de portugal e o seu filho. Os regicidas podiam ter morto também D. Amélia e D. Manuel, apenas por serem mulher e filho mais novo de D. Carlos. Um crime que se dá num país democrático onde Afonso Costa era deputado às cortes e onde podia, inclusivamente, apelar ao assassinato do rei sem ser preso, tal como fez em 1906.

Aquilino nunca se arrependeu dessa participação, é certo que escapou à justiça e não sofreu a justa pena mas nunca negou o seu orgulho nesse acto terrorista. Aquilino Ribeiro, apesar de ser um escritor de grande valor, como homem e cidadão comportou-se como um bandido que nunca se arrependeu dos seus actos.

Quem se enterra no panteão não é o escritor, são os restos mortais do homem. Entre enterrarmos patetas e fadistas e glorificarmos criminosos vai uma enorme distância. É a legitimação do crime, do assassinato. É a esponja que lava o sangue que mancha ainda este regime sombrio que atrofiou Portugal nos últimos cem anos e que inapelavelmente traz a mediocridade e a vilania ao poder. É abjecto.

Aquilino, até como cidadão, é maior do que os que o querem meter no Panteão, como exemplo de grande português, e isso é trágico.

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10.6.07

10 de Junho 

Tropa
Lá gastaram a massa para o gasoil no desfile das trotinetas motorizadas, a conta do gás das turbinas (esta é só para figura de estilo) das fragatas já nem se paga e a gasolina dos aviões deve ter dado à justa para eles voltarem à base sem cair. Para o ano há mais...

Anarcas
A frase que quero destacar neste 10 de Junho é uma que tenho visto escrita num muro por cima de um túnel na Marechal Gomes da Costa, uma frase lapidar, uma frase salutar que resume bem tudo:
Portugal, sempre a mesma merda!

Está tudo dito, para o ano há mais. Será que o Camões conseguiria ser tão certeiro em tão poucas palavras? E Bocage, tão sucinto em tão poucos palavrões?

Campo

Novidades: um enorme lagarto e parece que este ano há uma praga de caracóis. Segundo o Álvaro Leitão, antigo presidente da Junta, correspondente do jornal regional, antigo presidente da associação de caçadores, dono de um café restaurante e, evidentemente, meu vizinho e amigo, a coisa está mesmo feia. Consequência, entre ontem e hoje tirei uns cinco quilos de caracóis do jardim. Destino: cremação.

Champagne

Abri um champagne bruto de 1990, que delícia, e há gente que não gosta deste néctar... que aroma, que cor de palha jovem, as frutas (uma subtil maçã e uma forte pera) misturadas com os sabores do envelhecimento, os caramelos, os sabores a trufa, algum fumo que contrasta (sem abafar) os sabores mais delicados, a acidez refrescante e a temperatuda ideal. Que sensação! Enfim, um belíssimo 10 de Junho. Depois do jantar um simples Romeo y Julieta nº2, que não estou para coisas complicadas; um charuto simples e sem pretensões. Nada melhor para finalizar este dia de Camões.
Agora reparo que comecei sarcástico e acabo confessional, deve ser do champagne.


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8.6.07

O Estado do Mundo 


Christoph Marthaler, tal como o vi em Bayreuth no dia da estreia do Tristan und Isolde.
Uma encenação que apreciei muito e repeti em 2006.
Esta noite e ainda amanhã na Gulbenkian com Winch Only, uma criação inteiramente sua, que recorre a referências musicais profundas. Parece que ainda há muitos bilhetes, o que é uma pena, qualquer coisa deste criador deveria estar inapelavelmente esgotado. Em qualquer teatro do mundo estaria, menos em Portugal onde parece que o público fossilizou na convencionalidade, no mediatismo e no gosto de consumo rápido fornecido por marketing de pacotilha.



7.6.07

Eurico Carrapatoso 

Fui arrumar o requiem de Cavalli na minha estante. Reparei que entre o Carissimi e o Cavalli está o Carrapatoso, está lá muito bem.

P.S. o Cavalieri está noutra estante. O Elliot Carter está numas colectâneas de música contemporânea (quase com cem anos, nasceu dois anos depois de Lopes Graça e ainda está para durar, felizmente), o Carulli nunca me inspirou a comprar nada e o Casella é que não faz falta nenhuma. Já o Catalani me inspira curiosidade, tenho de arranjar algo deste wagneriano italiano, se tenho uma data de óperas do Siegfried Wagner...

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O talento da manipulação 

Vieira de Carvalho continua com um grave problema de lógica, como posso constatar na entrevista no Jornal de Letras de hoje. Vieira de Carvalho, o hermenêuta da Ajuda, atira uns números para o ar, percebe-se que com o OPART poupa-se um milhão e trezentos mil euros. Segue a sequência da entrevista.

O jornalista pergunta: Como?
Hermeneuta: Sobretudo com a redução de quadros dirigentes.
J. Foram despedidos?
H. Não: há menos directores de serviços, menos directores gerais.
J. E foram para onde?
H. Continuam a trabalhar, grande parte deles com funções diferentes.
J. A ganhar menos... Se ganham o mesmo, não houve poupança.
H. Os termos dos vencimentos estão regulados. Não dou mais detalhes.

Genial, fica ao leitor a hermenêutica, sem necessidade de recorrer à arte das cifras exóticas.

Mais à frente o senhor Hermeneuta, que sendo catedrático de musicologia e licenciado em direito, parece que nunca aprendeu a fazer contas:

"O S. Carlos custa 38.000 euros por dia. Cada assinante por oito óperas recebe 2.500 de subsídio do Estado, o que significa seis salários mínimos nacionais. É o teatro de ópera mais caro da Europa."

Vejamos as falácias das divisões na nossa arte de prestidigitação numérica: o S. Carlos fica a menos de 4 milésimos de euro por dia a cada português e a 3 cêntimos de euro por récita por lusitano residente em Portugal e que pode ouvir essas mesmas récitas pela antena 2! O S. Carlos é mesmo barato, o total dos dinheiros públicos gastos na ópera na Alemanha por cidadão é mais de cinquenta vezes mais... E quanto custa o gabinete do Sr. Hermenêutica a cada português? Não será também ele demasiado caro para a produtividade que tem? Fica o repto para se fazerem essas contas.

Admitindo que as divisões do secretário estão certas, recordamos que em orçamento o S. Carlos é um dos teatros de ópera mais baratos do mundo, curiosamente por isso é que sai caro por récita. Para fazer mais produções é necessário dotar as instituições de um orçamento para produções além dos custos fixos. Vieira de Carvalho diz que Lisboa é a cidade com ópera mais cara da Europa. Se a culpa não fosse do governo ainda percebia o lamento, mas como esta situação é integralmente da culpa do executivo não percebo o queixume, ou é pouco inteligente ou é manipulador. Explico a fundamentação do que digo:

O S. Carlos tem 13 milhões de euros por ano, qualquer teatro de capital europeia supera largamente os trinta milhões.
O S. Carlos gasta pelo menos dez milhões em custos fixos. Sobram uns tostões para as tais oito óperas. Imagine-se que com três milhões se fazem oito óperas. Quando dá? 50 euros por ópera por espectador, bem distante do que o secretário anda a apregoar! O público paga mais do que isso por bilhete médio! Imagine-se agora que em vez de oito óperas tinha 32 produções, o quádruplo. Já houve mas no tempo do Salazar, era fascista mas, do mal o menos, gostava de música, fica aqui o lembrete a Teixeira dos Santos e a Sócrates de que o seu modelo gastava umas massas no S. Carlos e ouvia depois o resultado pela Emissora Nacional, Programa 2. O Salazar não era só fazer processos disciplinares e meter malta na cadeia quando diziam mal do Presidente do Conselho numa conversa de amigos presenciada por um qualquer bufo.
Seriam agora necessários 12 milhões para estas 32 produções. Colocamos 13 milhões para se fazerem umas coisas com uns cantores melhores que a Theodossiou. Estes 13 milhões são a parte variável do orçamento, e representam os mesmos cinquenta euros, apenas em custos de produção, por espectador/récita. Gastávamos menos do dobro do orçamento actual e passávamos a ter, em vez de oito miseráveis óperas, 32 óperas por ano, qualquer coisa como 4 estreias nos meses activos da temporada.
Façamos agora as contas à moda do hermeneuta 13 + 10 = 23 milhões. O hermeneuta divide os 13 milhões por 1000 lugares a 90 por cento de ocupação e a uma média de seis récitas, obtém assim cerca de 2500 euros para o ciclo de oito óperas por espectador. Quanto o número sobe para 23.000.000, supomos agora que há 32 produções cada com uma média de sete récitas, existem 1000 lugares e mantém-se os 90% de ocupação. Fica agora a cerca de 110 euros por récita/espectador, longe dos 312.5 do hermeneuta. O que é que isto quer dizer? Subiu-se o orçamento para 23 milhões, ainda assim abaixo do Real de Madrid, de Paris, numa ínfima fracção de Berlim com as suas três óperas, a léguas de Viena, abaixo do teatro de Colónia ou mesmo do pequeno teatro de Mannheim, e o preço desceu para 110 euros. Conclusão: Lisboa, por culpa do governo, tem a ópera mais cara do mundo. É claro que também tem um dos governos mais caros do mundo em termos do que lhes pagamos e do benefício que trazem ao país, zero.

E quanto paga o espectador? 60 euros por bilhete, o subsídio por espectador passaria assim para os 50 euros por récita/espectador! Repare o leitor que este subsídio não é para o espectador ver uma ópera: o bilhete cobre o preço da produção (custo variável), o subsídio é para manter o teatro, a orquestra, o coro, o património, o know how, o prestígio internacional de Portugal. Repare-se que a orquestra não faz apenas ópera. Dividir o orçamento actual do S. Carlos apenas pela ópera é mais uma manipulação.

Como reduzir ainda mais a factura do Estado aumentando o consumo artístico? A solução é incrivelmente simples, reduzir a o número de récitas aumentando o número de produções. Parece impossível? Não, não é impossível, basta construir um teatro moderníssimo com 3000 lugares. Cada produção passaria a ter apenas entre duas a três récitas, os custos variáveis de um teatro de ópera dependem fortemente dos números de récitas. Os cantores solistas e os maestros recebem por récita: um maestro razoável recebe 15.000 euros pela estreia e 10.000 pelas récitas seguintes, um cantor (cachet muito variável) recebe também à récita. Além disso um teatro moderno e funcional passaria ser muito mais eficiente em termos de custos de produção.
Por outro lado dava-se à OSP uma possibilidade de ter uma sede fixa digna. O actual teatro de S. Carlos passaria a fazer festivais e música antiga, uma vez que é uma sala de ópera quase em estado original e de uma beleza única.

A contas actuais, e continuando a fazer os mesmos espectáculos por ano, 50 récitas, em 25 produções, cada uma vista por 5600 pagantes, teríamos muitíssimos mais espectadores. Seria o triplo dos espectadores actuais. Seria possível com custos estatais globais (fixos mais variáveis) que estimo em cerca de 16 milhões, apenas mais três milhões do que o orçamento estatal actual, ter cerca de 25 produções. O custo nesta nova situação seria de 110 euros por espectador, também um terço do actual! E apenas com um investimento anual de mais três milhões de euros e, claro está, um grande investimento num teatro novo de ópera mas que ficaria como obra de arte para o futuro num país que não faz nada a não ser consumir-se e a não deixar registo. Acho bem mais importante um bom teatro de ópera do que o aeroporto da Ota. Antes de criar aeroportos deve-se criar qualidade de vida para os que estão cá e para os que nos visitam, senão esta coisa fica mesmo um deserto...

Em Portugal parece loucura uma obra destas, os liberais e outros imbecis vão logo gritar "aqui d'el rei que se anda a gastar dinheiro dos contribuintes", na Itália e em França não foi loucura e rendeu. Recordo a Bastilha, Aix-en-Provence com o seu novo teatro, Valência (decorre a temporada inaugural) e a renovação do Alla Scala.
Mais uma vez Lisboa fica na cauda do mundo, pelo secretário de estado da cultura que tem, um mero sintoma da indigência nacional, e por tudo o resto, com a cultura sempre no fim de, absolutamente, tudo.

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5.6.07

Uma voz por parte 

Tenho entre as minhas mãos o CD alpha 79. Um disco já antigo de 2005. Um disco de perplexidades, como diria o outro. Arthur Schoonderwoerd, um pianista de grande talento e sensibilidade num instrumento de mecânica vienense de Johann Fritz, um instrumento cuja datação se situa entre 1807 e 1810. A orquestra Cristofori e Schoonderwoerd, em instrumentos originais, tocam os dois últimos concertos para piano e orquestra de Beethoven, dirige o próprio pianista.
Um disco algo estranho, a orquestra está reduzida a dois míseros violinos, primeiro e segundo, duas violas, dois violoncelos e um contrabaixo, sete cordas. Os sopros seguem a orquestração de Beethoven,
É um disco estranho, as sonoridades são verdadeiramente belas mas de câmara, o segundo andamento do concerto op. 58 é um maravilhoso mundo de sombras e nuances, não se vislumbra a força bruta que tantas vezes se opõe ao piano num duelo entre um bruto e Orfeu. Dir-se-ia antes um diálogo de sonhos sombrios e de sonoridades frágeis.
Tenho ouvido este disco nestes últimos dias, a par da maravilhosa missa em si menor de Bach por Frieder Bernius. Acho a música de Beethoven incrivelmente bem tocada neste disco, o ritmo é propulsivo sem correr desenfreadamente, a respiração faz viver a música, o piano tem um som lindíssimo, a mecânica é delicada e sensível, o som do piano é doce mas... ouvir os diálogos entre o piano e o primeiro violino, ou o segundo? Ouvir uma orquestra sem massa? E ir descobrindo, por outro lado, a filigrana transparente de toda a estrutura. Os sopros são perfeitos, os tímbales soam perfeitos mas há realmente algo que falta, falta o dramatismo, falta a presença dos violinos. Eu sei que um piano destes mal se ouve numa grande sala, que uma orquestra grande abafaria o piano, mas não foi Beethoven quem se queixou toda a vida do débil som que os seus instrumentos produziam?
E como o disco lá está a tocar, mais uma vez, ouço agora, e de novo, os diálogos com os sopros, flautas, oboés, fagotes, que beleza, que trompa! Momentos de um riqueza tímbrica sem par, e logo a seguir a "orquestra" no seu peso total e, mais uma vez, a insatisfação... falta algo, falta aquilo a que habitualmente chamamos Beethoven, é o próprio Beethoven que falta. É o respeito pelo homem e pelo artista que falta aqui, não, este disco é apenas uma bela, maravilhosa, oportunidade perdida.
Sei que a sala onde se estreou o concerto apenas tinhas lugar para 23, 24 instrumentistas, nesta gravação estão 21 (op. 58) e 22 (op. 73), contando com o piano. Mas não será fundamentalismo tonto querer levar o rigor histórico ao exagero de fazer estas obras, sobretudo no concerto op. 73 que é uma obra monumental, com dois violinos? É evidente que na altura de Beethoven as cordas graves estavam mais presentes do que hoje, em proporção bem entendido, mas fazer esta gravação com dois violinos? Ouço agora os primeiros compassos do concerto op. 73, o piano realiza o baixo contínuo nos tutti, os sons são belíssimos, os instrumentistas notáveis, mas onde está a lógica disto tudo? Mais três violinos e a gravação seria um paradigma, resta um acto falhado, apesar da beleza do som, apesar do piano, apesar da interpretação subtil de Schoonderwoerd, apesar das sonoridades históricas.

Mesmo tendo em conta que este disco é, para mim, uma oportunidade perdida, prefiro o trabalho sério de Schoonderwoerd à anedota musical Lang Lang. E páro de escrever para escutar de novo, e com mais atenção, o primeiro andamento do op. 73. Uma voz por parte: que absurdo, mas tão bem tocado!

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4.6.07

Missa em Si menor 

Uma obra que me toca profundamente, Bach não recicla, não parodia, Bach constrói uma espécie de obra de vida. Os palimpsestos, riscados de novo para a missa, oriundos de obras pré-existentes, são seleccionados pela sua qualidade. Creio que nesta obra Bach fala para o futuro, realiza, por força das circunstâncias e dos momentos da sua vida, a obra conceptual, impossível de escutar e realizar no seu tempo pela dimensão, pelo facto se se ter tornado anacrónica no exacto momento em que foi acabada.
Nem o príncipe de Dresden, Augusto o Forte falecido em 1733, nem Frederico Augusto II, deram a Bach o valor que este sabia ter. Bach está desiludido, deprimido, insatisfeito com a sua condição social, recordo a célebre carta de 1730 em que fala da sua despromoção social ao deixar de ser Mestre de Capela em Cöthen para passar a ser um simples director da música de Igreja de Leipzig, Cantor de Leipzig. Em 1733 Bach sente-se humilhado pelas desconsiderações do conselho municipal. Escreve na carta dedicada a Augusto que tem sofrido, aqui e ali, ofensas várias em Leipzig. A obra é parcialmente executada em Dresden (1734) mas o príncipe Augusto II (Augusto III da Polónia), não comparece.
A obra só vem a concluir-se em 1748/9. Bach morre pouco depois.
Saiu uma nova interpretação desta missa pela Carus, não seria novidade se não fosse a "última interpretação". O Kammerchor Stuttgart e a Barockoechester Stuttgart sob a direcção de Frieder Bernius, trazem-nos uma interpretação incomensurável da obra. O elemento mais visível do trabalho de Bernius é um baixo contínuo de uma força telúrica. Uma subtileza no tratamento da articulação, uma respiração e uma dignidade absolutas. O som é perfeito. Estou siderado com esta interpretação da missa em si menor.
Os cantores são Mechthild Bach, Daniel Taylor, Marcus Ullmann e Raimond Nolte. Não consigo destacar nada nem ninguém, talvez o Chiste Eleison, talvez o Benedictus nos transportem a uma dimensão superior... O Ossana dedicado a Augusto, o credo com o seu vivificante baixo contínuo e na sua estrutura arcaica. Fragmentos de eternidade por Bach na interpretação última, igual poderá haver, melhor é impossível. Creio que a concepção da obra de Bernius dá a este disco uma força, uma dignidade, uma coerência e unidade que são ofuscantes.
Circulam espirais no universo formados pelas notas iniciais do Christe que nunca se fecham a não ser nas ondas de colcheias do contraponto do Dona Nobis Pacem. Cordeiro de Deus: Dona nobis pacem. Bach: dai-nos a Paz.

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Onde vive esta gente? 

Leio no Público a uma espécie de candidato a crítico sempre em estado de deslumbramento, entre a barbaridade de dizer que para a lady Macbeth não é preciso saber cantar bem (!!!) e que Verdi queria por em causa o belcanto italiano (!!!!!!!). Sobre os efectivos de que dispunha o fraquíssimo Pirolli neste Macbeth de Verdi: "Porque conta com um coro de qualidade, uma orquestra capaz..." Um coro de qualidade? Será que tem alguém da família no coro do S. Carlos? É que apenas um surdo com alguém muito chegado no coro pode dizer que o coro é de qualidade e a Orquestra Sinfónica Portuguesa é capaz! A orquestra é fraquinha e o coro é muito mau. Há erros e erros, há diferenças de opinião, mas dizer que o coro do S. Carlos é de qualidade só por anedota ou ironia, o que não parece francamente o caso.

Remédio para o rapaz, e pago pelo "O Público": ir a um teatro de ópera por essa Europa ouvir um coro decente e ser obrigado a ouvir trinta concertos seguidos da OSP e depois ir ouvir um concerto a Leipzig ou Dresden com as orquestras locais...

P.S. (Ao fim do dia) Não há coincidências! Telefonaram-me a dizer que o rapaz tem uma prima no coro! Não sabia mas parece-me que uma prima não é razão que baste para se dizer que aquilo é um coro com qualidade, devia ser um parente mais próximo que justificasse um erro tão grosseiro. Afinal é mesmo surdez crítica.

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2.6.07

O melhor e o pior da ópera italiana - Macbeth no S. Carlos 

O Macbeth in breve.

Ópera italiana no seu explendor

Música de Verdi: entre o sublime e o pífio. O bailado de Paris é infame e descabido na acção. A música reflecte demasiados tiques convencionais mas Verdi é um compositor que consegue transcender o tempo.
Libreto de Piave: a léguas de Shakespeare, consegue banalizar o texto original, chega a ser ridículo em algumas tiradas.

Teatro não transcendente mas bem pensado

Encenação de Elena Barbalich bem concebida, sobre o escuro, muito boas as movimentações de conjunto dos coros e das cenas das bruxas. Óptima a composição das luzes de Michele Vittoriano, figurinos de Tommaso Lagattolla demasiado banais e de "época", não transcendem, a cenografia do mesmo autor é muito bela. Nota-se que a equipa italiana de Salerno trabalhou de forma perfeita.
Único senão criticável: totalmente imbecil a cena do bailado em que três criancinhas andam aos pulinhos pelo palco ao som de uma música pavorosa enquanto Macbeth dorme um sono atormentado, do pior de Verdi, piroso cenicamente, descabido no contexto da acção, a convenção operática ao pior nível e não resolvida pela encenadora, não tivemos os espíritos sob a forma das bailarinas parisienses, tivemos umas criancinhas armadas em patetas no palco, é barato e o público gosta de ver os pimpolhos por ali, sucesso garantido...
Direcção de actores entre o bom, caso dos actores masculinos e o péssimo: caso do esbracejamento constante de Theodossiou, simplesmente horrível e de mau gosto.

Um mau pirolito datado

Direcção musical de Antonio Pirolli: pouco empolgante, morna e tecnicamente fraca. Não acompanhou a orquestra nem lhe deu segurança, não conseguiu segurar os cantores, a ópera decorreu aos solavancos, a música nunca andou para a frente a um ritmo perfeito, sempre a atrasar e a arrastar. O coro esteve trágico no final do segundo acto, horror puro por incapacidade técnica dos cantores não superada pelos maestros (de coro e principal).
A orquestra esteve também péssima, a abertura foi um desastre de direcção musical, sem nexo ritmico e dramático e com os violinos a desafinar e com um som esganiçado, magro, horrendo. Pizzicati de rir e chorar por mais, acho que não houve um único que tenha saído coeso, uma autêntica caricatura do que era a ópera italiana há cem anos atrás.

Actores e vozes

Johan Reuter - Macbeth. Um cantor com grande presença, um actor que não compromete. Uma belíssima composição, cantando sem excessos vocais, equilibrado, todos os registos suaves e consistentes, o melhor a par de Furlanetto. Belíssima a cena em que interroga as bruxas, a interpretação musical é perfeita, a mostrar-se a um nível muito elevado na cena que precede a sua derrota. Consegue aguentar-se nos duetos com Theodossiou, é ele o motor rítmico fazendo a música andar para a frente apesar da tendência para arrastar da "partenaire", gostei de ouvir o último dueto em que Reuter se esteve nas tintas para a "diva de pacotilha" e cantou a tempo deixando a desgraçada da Theodossiou andar atrasada aflitíssima e aos bonés sem conseguir apanhar a linha. Um verdadeiro protagonista e um cantor de primeira água.

Dimitra Theodossiou - Lady Macbeth. O horror em palco, ela tem que ser má, foi péssima, como actriz esbracejou, do pricípio ao fim da ópera, como se estivesse numa discussão de varinas. Atrasa constantemente nas notas longas demonstrando falta de sentido musical e demasiado ego, atrasa nas cenas de conjunto acabando as frases sempre depois dos outros, ficando a ouvir-se o guincho interminável da senhora mais de um compasso depois do ponto onde deveria ter saído. Atrasa nas frases rápidas por falta de articulação, canta os dois primeiros actos invariávelmente em fortíssimo dando apenas um pianíssimo no final de uma das árias para mostrar que sabe apianar, mas aí, azar, a voz quebra. Recorre a portamentos depois de começar a ficar cansada de tanto espectáculo e a não acertar com a nota. O vibrato nos agudos em fortíssimos faz lembar o de Natália de Andrade quando se descontrola, o que é frequente, oscilando a nota mais de meio tom. Tapa toda a gente nas cenas de conjunto com guinchos sem par. Tem realmente umas belíssimas goelas para a berraria constante dos dois primeiros actos, que chega a ser dolorosa, mas tudo o resto falta, o timbre é estridente e feio, o mau gosto musical e teatral é confrangedor. O ego é demasiado potente para trabalhar em conjunto. Theodossiou pode ser uma excelente Medeia ou um bela Traviata mas não tem corpo vocal e inteligência para uma Lady Macbeth, não é um soprano dramático, ou mesmo lírico spinto, não consegue aguentar aquilo tudo aos berros, devia ter inteligência para se poupar para chegar à cena do sonambolismo em forma, não chegou. A música, aqui muito delicada (o melhor de Verdi) não permite os excessos anteriores, a cantora mostra aqui uma voz cansada e falha constantemente entradas, a voz vai quebrando aqui e ali, no entanto acaba por ser a sua melhor composição em toda a ópera. Teve direito a flores atiradas dos camarotes, o que mostra a ignorância de um público fossilizado e sem gosto musical. Bola preta.

Fabio Sartori - Macduff, um tenor de voz grande e encorpada, muito baritonal no registo médio grave. Impressionou sobretudo a sua capacidade dramática, que conseguiu apenas com a voz e a interpretação musical, na cena da morte das crianças. Esteve sempre bem na interpretação musical e como actor. Impressionou a capacidade de domar o vozeirão fazendo inflexões contidas e mostrando um timbre de grande beleza nos agudos. Achei-o particularmente dotado para a música de Verdi e com um elevadíssimo sentido da linha melódica.

Giovanni Furlanetto - Banco, muito bem dotado vocalmente e com um excelente sentido cénico, a sua voz aveludada e bem timbrada apenas peca por não ser grande e ampla. Como actor é perfeito, Pirolli não teve a sensibilidade de domar os metais da orquestra de forma a não o taparem na sua ária, antes da morte, forçando o desgraçado a gritar nas partes em fortíssimo, mais um exemplo da insensibilidade de um maestro medíocre.

Os outros intérpretes têm aparições menores que cumpriram:
Carlos Guilherme Malcolm - Bem
João de Oliveira Médico - bem
Sara Braga Simões Aia de Lady Macbeth - bem

Mau coro, que oscilou entre o sofrivel e o péssimo. No início esteve sofrível quando dividido em coro feminino (razoável) e masculino (muito fraco), nas cenas de conjunto muito movimentadas esteve sempre péssimo, desafinado, cantores perdidos, notas fora de tempo e de tom, cantores a acabar frases nas pausas, etc, etc, etc, mas sobretudo o que é mesmo mau é a berraria feia e as vozes acabadas que produzem um cantar de má qualidade. É um problema de qualidade intrínseca dos cantores que povoam aquele coro e não há volta a dar, Andreoli vai disfarçando aqui e ali, mas numa ópera exigente (como Macbeth) para o coro a coisa desconjunta-se toda.

Uma produção muito desigual: má direcção musical, belíssimas vozes masculinas, péssima Theodossiou, orquestra indiferente com péssimos violinos e melhor no resto, mau coro, boa encenação, excelentes luzes e cenografia, público atrasado e inculto, o melhor e o pior da ópera italiana no seu explendor: é que raramente se consegue mais do que isto.

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